BIÉ BARBOSA, jornalista e publicitário (UFMG), nascido em Pará de Minas em 22/11/53, é casado com Maíza Lage com quem tem 4 filhos. SEU LEMA: “O SENHOR É MEU PASTOR, NADA ME FALTARÁ”! |
VEJA NA EDIÇÃO 1835: NAS BANCAS DE 02/10 A 08/10.
Veja também a crônica deste mesmo colunista da edição 1834 abaixo:
O COLECIONADOR DE ANTIGUIDADES, O VIDRO QUEBRADO E AS CRENÇAS POPULARES
O velho hábito do morador daquela residência, naquele bairro periférico, já era conhecido de quase todos os vizinhos. Passou a vida comprando coisas antigas para serem recuperadas, quando ele, finalmente, um dia, se aposentasse. Diariamente, na hora do almoço, como morava longe do trabalho, almoçava ali mesmo e gastava o tempo restante, uma hora e meia ou mais, para caminhar pelo Centro da cidade, procurando coisas antigas para o seu já vasto hobby. Evidentemente, dentro de sua casa não cabia todos as coisas que ele, deliciosamente, colecionava. Assim, armou, no barracão, que ficava no fundo de sua casa, várias e extensas prateleiras para guardar tudo aquilo. Ninguém entrava ali, nem para limpar tanta poeira acumulada; só ele. De tempo em tempo, porém, ele ligava o aspirador para remover a sujeira e até os inevitáveis carunchos. Deleitava-se, quando recebia amigos e apressava-se em mostrar a eles o seu, sempre mutante, Arquivo de Vida, como ele chamava aquele depósito. Sabia detalhes como finalidade de cada um, datas de fabricação, quando e de quem havia comprado, falando sobre tudo isso, com maestria. Um dia, porém, aquele homem de 3ª idade teve de mudar-se dali com a sua família. Foi uma atração no bairro ver tanta coisa ser colocada na porta da casa. A maioria não via muito sentido em toda aquela cacalharia, mas para ele era vital! Afinal, estava construindo, durante toda a vida, a possibilidade de ser feliz em uma 2ª profissão, quando recuperaria e venderia peças antigas. Quando o caminhão de mudança chegou na nova residência , os futuros vizinhos também pararam, para ficar espiando tantas coisas chegando. E naquele vai e vem, o vidro bizotado e jateado com areia de uma antiquíssima penteadeira partiu-se em 3. O coração do proprietário partiu-se também do mesmo tanto. Sem cor, aproximou-se dos 2 fortes homens que carregavam aquele móvel, mas conteve-se e nada disse. Um daqueles trabalhadores braçais tentou justificar:
- Vidro quebrado quer dizer que o senhor terá sorte na vida!
O outro homem não concordou:
- Vidro quebrado dá 7 anos de azar, já dizia a minha avó.
O dono da cristaleira olhou para o o 2º homem e disse, com a sabedoria que se espera de um homem de 3ª idade:
- Vidro se parte para quebrar a carga negativa que ronda o lugar para onde ele está sendo levado. Mais dias, menos dias, essa carga viria pra gente. Agora, sei que nada de ruim acontecerá comigo e com a minha família neste novo lar!
E você, acredita em crenças populares? Uma boa leitura!