GENTE PENSANTE
BIÉ BARBOSA, jornalista e publicitário (UFMG), nascido em Pará de Minas em 22/11/53, é casado com Maíza Lage com quem tem 4 filhos. SEU LEMA: “O SENHOR É MEU PASTOR, NADA ME FALTARÁ”! |
VEJA NA EDIÇÃO 1859: NAS BANCAS DE 26/03 A 01/04. DEPOIS, SÓ NA GAZETA. Veja também a crônica deste mesmo colunista da edição 1858 abaixo:
HÁ SEMPRE UMA DOR AINDA MAIOR QUE A MINHA, QUE A SUA, QUE A NOSSA
A mulher simples sentou-se próxima da mulher bem trajada, num lugar onde as diferenças sociais diminuem consideravelmente: a fila do INSS. Sendo assim, a mulher elitizada cumprimentou aquela senhorinha com um risinho amarelo. A mulher respondeu com sorriso triste: - Boa tarde! A senhora é diferente dos outros ricos. Faz questão da gente que é pobre... A mulher empoderada riu e exclamou: - Quem disse pra senhora que eu sou rica? - Precisa de alguém dizer? Está na cara, nas roupas, no penteado, na bolsa, na pele bonita e bem tratada... A mulher rica perdeu o fio da meada, sem saber o que dizer. A mulher pobre continuou: - A senhora não tem ideia do que eu já passei na vida. Tirando a fome e a constante falta de dinheiro, já perdi, com 59 anos, 3 dos meus 4 filhos. - É mesmo? Coitada! Sinto muito... A mulher continuou: - O 1° morreu afogado, numa pocinha de água de construção, ao lado da minha casa, antes de completar 2 anos. Aí, 10 anos depois, minha filha começou a passar mal em casa - ela tinha 18 anos - e a gente teve de levá-la para o hospital, em outra cidade, porque a gente morava em um distrito, sem recurso e sem condução também. Quando chegou lá, o médico me chamou num canto e disse que a situação da minha filha era muito grave, porque ela não tinha mais sangue nas veias, só água! Achei aquilo tão esquisito... Comecei a rezar. Rezava e chorava, o tempo todo. No outro dia, ela foi enterrada. A mulher fina ouviu aquilo tudo, penalizada, com a mão esquerda sobre a boca, mas sem nada dizer. A mulher continuou: - Mas a minha história não acaba aí, não, porque, veja bem, o que me aconteceu, exatamente 7 dias depois. O meu filho mais velho, 22 anos, que era um exemplo de filho, morreu no curral da fazenda, onde ele trabalhava. Um daqueles bois enfiou um dos chifres, com toda força, na barriga dele, furando seu intestino. Ele nem esperou eu chegar no hospital, para me despedir dele. Eu não aguentei receber mais essa triste notícia... Desmaiei e não vi mais nada. Imagina, minha filha! O corpo dela não tinha nem acabado de esfriar direito e lá fui eu enterrar mais um (choro). Só agarrando com Deus, para aguentar tantas dores juntas... A mulher rica, que havia perdido o marido, há menos de 2 meses, entendeu ali que, apesar de todo e qualquer sofrimento, existem dores maior que a dela. E você, já se consolou, comparando a sua dor com dores, ainda maiores, vividas por outras pessoas? Uma boa leitura!
O editor GP escreve mais uma crônica: Existem outros motivos, além dos já conhecidos, para se usar máscara?