Selo GP - Rodrigo Roreli Laço
Fundação: Francisco Gabriel
Bié Barbosa
Alcance, credibilidade e
imparcialidade, desde 84
ANO 41
Nº 2047
21/11/2024


GENTE PENSANTE 


Bié Barbosa

Bié Barbosa



GENTE PENSANTE  BIÉ BARBOSA, jornalista e publicitário (UFMG), nascido em Pará de Minas em 22/11/53, é casado com Maíza Lage com quem tem 4 filhos. SEU LEMA: “O SENHOR É MEU PASTOR, NADA ME FALTARÁ”!


VEJA NA EDIÇÃO 1881: NAS BANCAS DE 27/08 A 02/09. DEPOIS, SÓ NA GAZETA. Veja também a crônica deste mesmo colunista da edição 1880 abaixo: 

O QUE VOCÊ DIRIA A UMA PESSOA QUE ESTÁ MORRENDO?

O homem das letras foi visitar uma tia querida, duas vezes viúva, sem filhos, no exato dia em que ela completava 9 décadas de vida. Debilitada, ficava na cama, sob os cuidados de duas enfermeiras que se revezavam. Ao chegar na casa dela, aquele homem viu que havia duas senhoras no quarto, falando coisas positivas para aquela mulher, em seu leito de morte:

- Estou gostando de ver como você está bem! Nem parece que está doente!

- Isso mesmo! Está óoootima!

A mulher acamada, viva que era, percebeu que as amigas estavam, ainda que sem maldade, tentando enganá-la. E não perdoou, ao dizer baixinho e puxando o ar do oxigênio, com dificuldade:

- Obri... gada, mas eu te... nho es... pe... lho…

Desapontadas, as amigas nada mais disseram e, logo, logo, deixaram o quarto. Nessa hora, o homem das letras entrou e, como sempre faz ao visitar doentes terminais, perguntou:

- Oi, tia, como a senhora está se sentindo, ao completar noventa anos?

- Sin... to... -me hu... milha...da, to...da vez que as en... fer... mei... ras vêm me lim... par...

- A senhora preferiria que fosse como?

- Que... ria ter ti... do uma mor... te se... re... na, sem ter que pas... sar por isso… O fim da vida de... ve... ria ser leve e não tem sido esse o meu caso…

- Eu ouvi a senhora dizendo para as suas amigas que tem espelho. (riso).

- Elas são umas bo... bi... nhas, por... que quan... do a gen... te está mor... ren... do, não quer ou... vir pes... soas fa... lando que a gen... te está óóóótima., por... que eu me sin... to é hor... ríííí... vel! Pen... sam que es... tão a... ju... dan... do é só es... tão jo... gan.... do a gen... te mais pra bai... xo ainda. Sei que es... tou de... ca... den... te! Bas... ta eu ver o meu cor... po e a mi... nha ca... ra re... fle... ti... dos no es... pe... lho. É mui... to tris... te, mas pre... fi... ro isso que ver pes... soas di... zen... do men... ti... ras so... bre o ter... rí... vel es... ta... do em que me em... con... tro...

O homem das letras tomou a mão direita daquela mulher e sentiu que ela, além de pálida e esquelética, estava gelada. Com as suas duas mãos mornas envolveu a mão da tia, tentando aquecê-la. Ela olhou fixa e longamente para ele e disse-lhe, suspirando:

- Is... so…

De repente, o brilho de seus olhos se apagaram. Ele sentiu um enorme calafrio percorrer por todo o seu corpo. Uma lágrima correu em seu rosto, seguido de um soluço seco que subiu de seu peito... Aí, ele fechou os olhos estatalados da tia …

E você, já conversou com um doente terminal sobre os sentimentos dele, diante da morte que se aproxima veloz?

UMA BOA LEITURA!



O editor GP escreve mais uma crônica: Escrever é como um furúnculo que lateja de dor, até ser espremido


Mais da Gazeta

Colunistas