Selo GP - Rodrigo Roreli Laço
Fundação: Francisco Gabriel
Bié Barbosa
Alcance, credibilidade e
imparcialidade, desde 84
ANO 40
Nº 2044
05/11/2024


GENTE PENSANTE
Bié Barbosa

Bié Barbosa


GENTE PENSANTE 
BIÉ BARBOSA, jornalista e publicitário (UFMG), nascido em Pará de Minas em 22/11/53, é casado com Maíza Lage com quem tem 4 filhos. SEU LEMA: “O SENHOR É MEU PASTOR, NADA ME FALTARÁ”!


VEJA NA EDIÇÃO 1882: NAS BANCAS DE 03/09 A 09/09. DEPOIS, SÓ NA GAZETA. Veja também a crônica deste mesmo colunista da edição 1881 abaixo: 

ESCREVER É COMO UM FURÚNCULO QUE LATEJA DE DOR, ATÉ SER ESPREMIDO

Cinco pessoas de uma mesma família, parentes sanguíneos ou não, conversavam na aconchegante sala do florido sítio cravado em região de produção suinícola. Vez por outra, soprava um vento, trazendo um forte cheiro de fezes suínas. O homem das letras perguntou:

- Que cheiro ruim é esse?

A dona do lugar correu com a explicação:

- Fulano diz que não é cheiro ruim… É cheiro de dinheiro! (riso)

Continuaram ali curtindo os casos, um do outro, inteirando-se, assim, dos detalhes bons ou ruins, de cada núcleo familiar. No meio daquela fuzarca - quando todos falavam ao mesmo tempo e, por incrível que pareça, se entendiam - o mais velho e ponderado da roda perguntou para o homem das letras:

- As coisas que você escreve são, realmente, coisas que você viveu ou são inventadas?

Nessa hora, todos calaram-se, para ouvir a resposta do homem das letras que assim respondeu:

- Meus textos nascem de alguma frase que eu leio ou ouço e que não sai mais da minha cabeça. Só sai, quando eu escrevo…

- Os personagens e os lugares que você descreve são reais?

- Nem sempre, mas há um ou outro personagem ou cenário real, se bem que eu costumo mudar os gêneros. Aí, homem pode virar mulher e mulher, homem, para não expor as pessoas. Apesar disso, a pessoa que me inspirou a escrever, quase sempre, percebe que o meu texto fala sobre ela.

O homem das letras falou mais meia dúzia de palavras e o ponderado homem nada mais perguntou. Porém, aquela pergunta também não saiu mais da cabeça dele e ele, mais uma vez, escreveu depois. Ao chegar em casa, correu para o notebook e digitou isso:

- Tenho consciência de que sou melhor escrevendo que falando e hoje sei que só escrevo sobre o que falta em mim. Melhor dizendo: só escrevo sobre aquilo que eu não consigo ser e todas as minhas opiniões nada mais são que simples pontos de vista. Não são, portanto, verdade absoluta, apesar de  serem verdadeiras. Afinal, ninguém sabe onde está a verdade e quem se atreve a se achar dono dela, vira ditador, tornando-se intolerantes com as ideias do próximo. Enfim, coisificando o escrever seria algo parecido com o furúnculo que precisa ser espremido, para não continuar latejando e doendo. A única diferença é que um dói na carne e o outro, no coração… Concluo, então, que escrever, para mim, não passa de uma gigantesca necessidade... 

E você, como faz para extravasar as dores do seu coração?

UMA BOA LEITURA!


O editor GP escreve mais uma crônica: O ping-pong do prato que voltou cheio, de novo


Mais da Gazeta

Colunistas