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Nº 2043
28/10/2024


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Strip-tease no cristo choca a cidade (2) - 11/06/2010

Sob o título Nudez, Natureza e Cultura, psicóloga e leitora GP envia texto para uma oportuna reflexão. Vale a pena conferir. “A natureza será contida se encontrar suporte para controlá-la.Tento promover novas leituras a respeito do caso em que uma garota despiu seu corpo publicamente, ao som de música eletrônica, risos e filmagens. Situação ocorrida recentemente, no alto da colina sob a imagem do redentor. Redentor que não condena, mas propõem a reflexão: “... aquele que não tiver pecado, que atire a primeira pedra.” De maneira especulativa, ouvi, observei, comparei e refleti os conceitos trazidos por algumas pessoas que também privilegiaram as cenas de nudez assistida nos espaços estéreis de suas casas ou de seus trabalhos. No campo jurídico responsabilizar é imputar o ato, e muitos, supondo-se juizes, delegam as sentenças de acusação ou liberação das atitudes da garota em contexto. Certamente, esse não é o único momento na história dessa cidade que alguém fica nu naquele local, mas, de modo particular, essa situação tomou maior magnitude, já que as cenas foram registradas e, posteriormente, divulgadas para além do publico ali presente. No entanto, tantas outras cousas acontecem aqui e acolá, mas se mantém veladas, por debaixo dos panos ou por trás de janelas fechadas, não lançadas ao público. Ciente disso, prefiro usar de outras chancelas para avaliar o caso e, nessa oportunidade, aproveitar da situação para propôr uma reflexão no que tange ao funcionamento das nossas peculiaridades e como validamos nossos conceitos. Rever as nossas concepções que nos fazem tão enrijecidos e coisificados. Como de bom senso, usar de olhares menos contaminados e menos reducionistas, contrariamente estaríamos satisfazendo as nossas vaidades narcísicas. Não se pode esquecer que o material avaliado precisa ser entendido como possuidor de afetos, onde as afirmações pré-concebidas são crueis e doídas. Como escreveu Freud, “isso é difícil de conseguir, pois exigirá comprometimentos de cada um nesse mal-estar.” A sociedade espera das pessoas padrões de comportamento socialmente aceitos, politicamente corretos. Padrões concebidos sob a luz do poder que tenta controlar as forças naturais que levam o homem na busca da satisfação de suas pulsões. Enquanto seres socio-relacionais, precisamos ser barrados e civilizados. No entanto, não podemos deixar de considerar a existência das correntes de forças conflitantes que criam os embates entre o que quero, o eu, a natureza e o que eu devo, a ordenação cultural, a lei e o limite. Na situação em questão, percebemos a implicação de uma garota com sua nudez explícita. Sendo importante levar em consideração a sobreposição de forças desejantes que, não contidas, afloraram. É o estranho que habita em nós que por vez ou outra aparece e nos faz interrogar: - Fui eu quem fiz isso? Comum a qualquer sujeito. No entanto, referindo aos conceitos éticos da cultural e do social, isso não justifica o ato, uma vez que “tudo podemos, mas nem tudo devemos”. Fica claro que dado o instante em que falta a figura de um(a) ordenador(a) e sendo que a voz de ordem naquele momento era: Tira tudo!, questiono: - Onde estavam os amigos cuidadores daquela garota? Não seríamos também indiretamente co-responsáveis por essa situação? Ao valorizarmos o fenômeno da nudez, não estaríamos fortalecendo o espetáculo? Fazemos parte de um mesmo sistema, onde o Todo não é maior que as partes. Portanto, precisaremos cuidar das partes para que o Todo continue a existir. Permita que eu deixe aqui a minha última indagação: - Quem estará ao nosso lado, nos protegendo, nos amparando, nos recompondo nos momentos em que nos faltar a lucidez? Faltou ali esse herói, esse salvador, esse cuidador. Artista raro que roubaria a cena, caso ali se fizesse seria o protagonista daquele espetáculo e não a nudez em si. Essa já faz parte do nosso cotidiano. Vivemos na era da comunicação, no entanto, nunca o sentimento de desamparo e solidão esteve tão presente”. (Mariza Lara – Pará de Minas).

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