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Nº 2044
05/11/2024


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“O ministro me empurrou e me mandou para a P. Q. P.” - 03/12/2010

Durante anos, Pará de Minas se acostumou a amanhecer ouvindo as notícias mais polêmicas da cidade, principalmente as policiais, através da voz de um locutor que se tornou um ícone na imprensa patafufa. Trata-se do repórter Amilton Maciel que está completando 60 anos de vida, sendo 37 de radialismo. Isso quer dizer que ele é hoje o mais antigo repórter da cidade em atividade, além de ser um dos precursores da imprensa contemporânea local. Mas verdade seja dita: se ele, como repórter incansável, colocou e ainda coloca o dedo na ferida de muita gente, por outro lado ele não poupou nem a si mesmo, quando chegou a fazer denúncias contra um irmão e até contra um de seus próprios filhos. À reportagem GP, Amilton relatou, com total exclusividade, alguns dos principais casos que fizeram dele o mais popular repórter patafufo. Não deixe de conferir os melhores momentos de sua corajosa entrevista. DE TUDO UM POUCO - “A minha vida se resume assim: 23 anos lutando no chamado trabalho forçado (auxiliar de pedreiro, soldador, maçariqueiro, acabamentos de fábrica, etc.) e 37 no jornalismo. Comecei a trabalhar com 7 anos. Fico nervoso, quando vejo ocorrências policiais envolvendo menores hoje no Brasil que não podem trabalhar antes dos 16 anos. Para mim, esse é um Brasil que decresce. Antes da Rádio Santa Cruz existir, eu já tinha mania de escrever para o jornal O Independente. Meu dom jornalístico veio daí. Não sou jornalista por formação, mas sou por vocação. Quando eu trabalhava em fábrica, já escrevia nas horas vagas. Em 1979, com a fundação da Rádio Santa Cruz, a coisa fluiu, de uma forma a fazer meu sonho virar realidade. Trabalhei na rádio por 18 anos. Depois, fui pra a TVI, onde trabalhei por dois anos e voltei para Santa Cruz, emissora em que estou até hoje”. DA NOITE PARA O DIA - “O meu 1° professor, que me ensinou muito de português, foi o Pedro Moreira. Nós começamos na rádio, fazendo o Jornal da Noite. Ficamos trabalhando juntos durante quase um ano, quando o locutor era o Freitas Júnior. Durante o dia, eu pegava minha bicicleta e saia correndo por aí (prefeitura e em todos os pontos onde pudesse surgir uma notícia). Os entrevistados me contavam as notícias e, como não havia gravador, eu gravava só na cabeça e depois datilografava tudo. Depois, nós resolvemos mudar, quando achamos que seria melhor um jornal de manhã. Foi aí que surgiu o Jornal da Manhã que começou a ganhar audiência, no horário das 8H as 9H. Depois, surgiu o gravador, mas naquela época era difícil fazer reportagem. Muita gente, quando me via gravando com aquele gravador enorme, cochichavam: Este cara não está muito bom da cabeça... O pessoal não admitia ainda a questão do jornalismo na cidade. Mas aí eu comecei a procurar as emissoras de rádio da capital para saber como os repórteres faziam. Aí, eu pensava comigo: Eu tenho condições de fazer isso e sempre procurava fazer bem feito”. TANCREDO E O ICMS - “Uma história marcante na minha carreira aconteceu no início da década de 80, quando a avicultura começava a crescer e já tinha a Cogran na cidade. Eu entrevistei o, então candidato ao governo de Minas, Tancredo Neves. Na gravação, ele prometeu não cobrar mais ICMS do frango a título de incentivo e realmente foi essa a 1ª coisa que ele tentou fazer, quando foi eleito. Porém, houve muita revolta e a fita, com a entrevista, foi levada ao palácio, mas de nada adiantou, porque o ICMS continuou a ser cobrado”. FALHA COM O MINISTRO - “Em 1985, no translado dos restos mortais do ex-governador Benedito Valadares, eu cheguei um pouco atrasado para a coletiva; toda a imprensa do Brasil estava lá. Ali, resolvi perguntar a um ministro sobre um esquema de exportação ilegal de pedras preciosas em que ele estaria envolvido. Acontece que a assessoria dele havia combinado com a imprensa, antes de eu chegar, que ninguém poderia tocar nesse assunto. Era uma condição para ele conceder a entrevista. Como eu cheguei atrasado, não sabia disso, e ele me empurrou e me mandou para a P. Q. P. (risos). Mas como toda ação tem uma reação, eu o empurrei de volta (mais risos). Foi um escândalo! Na época, até um jornal de Aparecida/SP divulgou matéria falando do assunto. Virou um escândalo nacional”. MANOTA COM AMADO - “O cantor Amado Batista já era famoso com mais de 500 mil discos vendidos e eu fui escalado para fazer uma entrevista com ele no hotel. Entendi que era Amado e Batista. Quando cheguei lá entrei no elevador com outras pessoas e disse: Vou entrevistar a dupla sertaneja Amado e Batista. Mas era justamente ele que estava atrás de mim. Ao ouvir aquilo, falou assim: Puxa vida, estou mal aqui, hein? O pessoal dessa cidade nem me conhece! Fiquei todo sem graça (risos). Mas depois ele foi muito gentil comigo, me chamou no apartamento que ele estava, onde fizemos a entrevista. Mas admito que fiquei nervoso e tremi muito, porque fiquei com muita vergonha”. GAFE COM O GOVERNADOR - “Uma das minhas maiores gafes como repórter foi quando convidei o povo da cidade para receber o governador de Estado, quando na verdade quem vinha a Pará de Minas era um governador do Rotary Club (risos)”. MACONHA JÁ ERA - “Assusto-me com esse índice de violência muito grande da cidade hoje: homicídios, uso de drogas, tráfico, uma média de 5 presos por dia. O crack, então... Hoje, pouco se fala em maconha; fala-se apenas em crack, infelizmente. Temos muitas leis, mas leis mais duras, não temos. No Brasil, infelizmente, as leis são muito flexíveis”. IMPRENSA ATUAL - “Feliz a cidade que tem uma imprensa como a nossa: várias emissoras de rádio, sites, uma emissora de televisão e jornais como a GAZETA que faz um trabalho muito bem feito. É uma imprensa realmente ativa”. VIDA E MORTE - “Eu ainda vou escrever um livro, porque, graças a Deus, tenho uma história de vida para contar, tanto pessoal como profissional. Sou extremamente feliz e realizado com minha esposa Aparecida, meus 3 filhos (Rony, Éverton e Helaine), e meus 5 netos; cada um mais bonito que o outro. Adoro o meu trabalho e a turma que trabalha comigo. É um pessoal de um gabarito, profissional que só quem está lá dentro sabe. Se eu morresse hoje estaria realizado. Mas pretendo viver muito ainda”... * Imagens dessa entrevista, acesse GPTV: www.gazetaparaminense.com.br

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