A reportagem GP foi informada que um universitário deficiente visual está cursando o curso de Direito, na Fapam. Trata-se de João Paulo Amaro, 29, morador do bairro Nossa Senhora de Fátima, que em entrevista exclusiva, realizada na sede da GAZETA, falou para o jornal como é o dia a dia da vida de um cego. Não deixe de ler.
“Fui perdendo a visão gradativamente, desde os 9 anos de idade. Começou pelo olho esquerdo até eu perder totalmente a visão. Quando eu tinha 14 anos, comecei a perder a visão do olho direito com o qual hoje eu só enxergo 3%.Depois, de muitas dificuldades encontradas para estudar em Pará de minas, mudei-me para Belo Horizonte/MG, onde aprendi a escrever em braille no Instituto São Rafael, com o apoio da Associação de Cegos Santa Luzia, onde troquei boas experiências com os outros deficientes, fui me adaptando à nova vida. Estudando, li uma apostila de concurso e me interessei pelo curso de Direito”, conta João Paulo.
DIFICULDADES EM BH – “Depois prestei o vestibular na Escola Superior Dom Helder Câmara, com auxílio de um leitor, estudei na capital até o 3º período. Mas estava tendo muita dificuldade para organizar os estudos nos fins de semana com os colegas de classe, devido à correria da capital. Eu tinha o material escaneado, mas era mais difícil encontrar alunos da minha sala para estudar nos fins de semana. Então, minha irmã, vendo que estava ruim para mim, me propôs a voltar a morar em Pará de Minas. Aí, conversamos na Fapam e eu fui transferido para o curso daqui”.
DIFICULDADES NA FAPAM - Vim com a intenção de ter apoio com materiais escaneados... mas eu não estou tendo isso e continuo tendo dificuldade, porque agora não tenho acesso ao texto que necessito estudar, por exemplo. Como estou tendo dificuldade para conseguir o texto, tenho que pedir a uma pessoa de fora para escanear. Dentro da sala de aula, meus amigos de classe e todos os professores me dão o maior apoio, mas quanto ao material (livro e apostilas) não tenho nada. Os livros, eles dizem que não podem ser escaneados, porque ferem os direitos autorais, mas como vou usar de modo exclusivo acho que não teria problema... como era em Belo Horizonte, onde não tive problemas. Então, para estudar estou usando mais as leis que eu pego na internet; o computador tem um programa especial que faz a leitura. Conto também com o material dos meus amigos, pois eles vão digitando as matérias que eu escuto nas aulas e me enviando por e-mail. Se não fosse a ajuda dos meus amigos de sala, não sei se estaria no Oitavo período. Eles me dão muita força! Os livros em braille ficariam caros e seria um volume muito grande; então, a faculdade não tem”.
DIFICULDADES NA CIDADE - Aqui em Pará de Minas é mais difícil que BH, porque não há muitos recursos. A acessibilidade é difícil e temos que contar com a boa vontade das pessoas para ajudar a gente a atravessar uma rua, por exemplo. Muita gente passa direto, pois andam numa correria... há momentos em que temos que gritar por alguém que está passando para nos ajudar a atravessar a rua. Fora isso, falta muita coisa: os passeios não são adequados, tem muitos degraus, buracos, etc. Eu não estou trabalhando, porque é difícil a adaptação, mas em BH, dentro da associação, havia sempre alguma empresa procurando um deficiente visual para trabalhar. Aqui em Pará de Minas nunca procurei, mas também nunca ouvi dizer que alguma empresa está precisando de um deficiente visual. Mas, mesmo assim, só tenho a agradecer à toda a minha família e aos meus amigos e colegas de faculdade que me ajudam bastante. Depois de formado, quero fazer um concurso.”