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Tudo sobre o desastre que chocou a cidade - 01/06/2012

Faz parte da edição anterior, na coluna Giro Policial, uma pequena, mas triste nota sobre um trágico acidente que matou e carbonizou 4 pessoas, próximo ao trevo de Maravilhas/MG. Entre elas, Vinícius Maia Capanema, 18 (foto), que participou com alegria contagiante da 19ª Noite da Camiseta, realizada no camarote da Girus. Dias depois do desastre, a reportagem GP conseguiu um depoimento exclusivo da tia e madrinha do jovem, a empresária Soraia Capanema Naves. Não deixe de ler. “Na 6ª feira, o Vinícius largou o serviço da minha loja, onde ele trabalhava, e foi para a casa da minha tia Maria. Iria acontecer um jantar com a presença do padre de Maravilhas/MG na casa dela para onde eu, meu marido, Rení Naves, e o pai de Vinícius, meu irmão Émerson, estávamos também indo. Quando chegamos lá, o Vinícius pediu para o pai dele levá-lo ao trailler para comer um sanduíche, só que o Emerson não quis levar. Eu também não quis, pois o jantar já iria ficar pronto. Até perguntei a ele: Porque você não janta aqui, menino? Ele respondeu que o jantar iria demorar, que ainda estavam afogando o arroz. Aí, ele pediu ao pai o carro emprestado, mas ele não quis emprestar. Eu, como madrinha dele, falei que poderia emprestar o meu carro, já que ele tinha acabado de tirar a carteira, mas falei: Aqui está a chave, mas não vá fazer gracinha na rua, viu? Olha a responsabilidade que estou colocando nas suas mãos. Ele agradeceu, dizendo que estava com muita fome e que nem tinha tido tempo de almoçar, pois tinha trabalhado muito. Completou com um Te amo, tia, saindo todo alegre. Ele comeu o sanduíche, encontrou com uma amiga na rua e a chamou para ir a Papagaios/MG, onde vários outros amigos estavam. Essa menina disse que não poderia ir com ele e que nem era porque não queria, mas porque não tinha avisado à mãe. Então, ele a deixou na casa dela e foi direto para Papagaios/MG,” conta Soraia, bastante abalada. BOLA DE FOGO – “Ele estava na mão correta. Um moço que viu o acidente disse que o outro carro, um Pálio, estava fazendo uns 150KM por hora, ultrapassou um carro e deu de frente com o meu Civic. O impacto foi rápido e forte, seguido de uma bola de fogo no ar. O Pálio pegou na porta do motorista, matando o Vinícius. Esse moço que viu tudo subiu no carro que o Vinícius estava, tentando tirá-lo de lá, mas foram dando explosões e mais explosões. Essas explosões aconteceram, porque o carro estava transportando 50 litros de gasolina no porta malas. Quando nós ficamos sabendo que tinha acontecido um acidente, o pai de Vinícius ficou muito preocupado e começou a ligar para o filho, mas nada dele atender. Émerson e David, um amigo que estava com ele, saíram para procurar o Vinícius, indo até o acidente. Mas quando chegaram lá estava tudo em chamas”... O DESESPERO – “No meu carro, eu sempre levava um chapéu com um laço que ficava no banco de trás. Ele foi parar no asfalto. O Mersôn (como a entrevistada chama o irmão) achou o chapéu na estrada e entregou para o policial, dizendo que aquilo poderia ser uma prova de era o meu carro mesmo. Nisso, o Gracialiano, prefeito de Maravilhas/MG, foi até o acidente e nos ligou falando que o carro era um Civic e que o policial Jorge tinha achado a placa 1710 e a placa do meu carro era HGB-1017. Nisso, todos foram entrando em despero, pois as peças estavam finalmente se encaixando. O Émerson, muito preocupado, continuava tentando ligar para o Vinícius, o tempo todo. Aí, eu cheguei perto dele e disse: Mersôn, você não precisa mais se preocupar. Você não conseguiu falar com o Vinícius e nem vai conseguir. Eu acabei de confirmar que o carro era o meu. Então, infelizmente, a notícia é esta: era seu filho. Na hora, o Mersôn ficou transtornado e tivemos de levá-lo para o hospital, pois sua pressão foi a 20. Após ele tomar remédio injetado na veia, viemos para Pará de Minas.” A MÃE – “A Isadora, 14, irmã de Vinícius, estava no facebook com uma amiga. Era 1H da manhã e a Iêda (a mãe) já estava dormindo. Alguém mandou para o facebook do Vinícius que ele já estava deixando saudades. Nisso, a Isadora começou a gritar, ficando muito nervosa. Aí, só foram entrando outras notícias no facebook e a Isadora se desesperou. Com a gritaria dela, a Iêda acordou e foi perguntar o que estava acontecendo. Ela só disse. Mamãe, não sei! Leia aqui. Quando a Iêda leu no facebook que o Vinícius tinha morrido, ela ligou para o Mersôn que disse a ela que o Vinicius não estava mais entre nós. Nessa hora, eu já tinha ligado para o Edvaldo, que também é meu irmão, e mora perto da casa da Iêda, para falar com ele para ir para a casa da Iêda, porque ela é cardíaca. Ela já tinha feito uma cirurgia muito grande no coração e a gente estava com muito medo dela passar mal.” A DOLOROSA ESPERA – “Se os corpos não estivessem tão carbonizados, tudo teria sido mais rápido, mas lá no I. M. L. – Instituto de Medicina Legal, eles pediram provas da arcada dentaria, radiografias e molde dentário. Enviei para eles os dois dentes ciso que o Vinícius havia arrancado há duas semanas. Colheram o material de provas do pai de Vinícius e eu enviei também amostras do sangue de Iêda. Porém, a máquina do Instituto Criminalístico está estragada há mais de 6 meses e só existe esse instituto em Minas Gerais. Temos certeza que é ele, mas para a polícia tudo tem de ser muito concreto. Se o I. M. L. não conseguir fazer a identificação, vão mandar os restos mortais para o Instituto Criminalístico para fazer o DNA. Para não prolongar mais esse nosso sofrimento, perguntei se eu poderia levar tudo para um laboratório particular. Disseram que não. Perguntei se poderia levar para outro Estado? Também não. Perguntei o que teria de fazer, então. Eles responderam: esperar na fila que tem mais de 1.500 pessoas. O pior é que não se sabe quando essa máquina poderá voltar a funcionar. Isso é uma vergonha e as autoridades deveriam agilizar isso que só faz prolongar o sofrimento das famílias.” COMO ELE ERA? – “O Vinícius era um garoto querido por todos nós, morava comigo na fazenda. Teve uma infância junto com meus filhos: brincavam juntos, andavam de cavalo ou de barco untos, almoçavam juntos. Era aquele menino presente, alegre e extrovertido, sempre com um sorisso no rosto. O meu filho Rodrigo está transtornado. Vinícius e ele eram primos irmãos e está sendo muito difícil para ele que não está dormindo, está arrasado. Estamos todos muito chocados, mas estamos tendo um conforto e um apoio bem grande, pois todo mundo só fala bem do Vinicius. Você abre a página dele no facebook e há centenas de amigos com mensagens lindas, do tanto que ele era carinhoso e meigo. Era um menino cativante, mexia com todo mundo, de um jeito que era só dele. Abrimos o fichário dele e só tinha coisa boa; ele não escrevia nada ruim, não fazia mal a ninguém”...

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