O governo lançou a cruzada pela tão sonhada redução dos juros. Os bancos oficiais baixaram suas taxas e agora são acompanhados pelos privados. Consumidores festejam a possibilidade de melhores condições de financiamento de casas, carros, eletrodomésticos e uma infinidade de artigos. A indústria, que já dá sinais de crise e começa a demitir empregados em razão da queda de consumo, espera que as novas condições reaqueçam o mercado e sustentem a produção. Há muito tempo não foi tão fácil comprar, principalmente automóveis que, além dos descontos patrocinados pelo pátio cheio, ainda trazem o apelo da queda de juros nos financiamentos de longuíssimo prazo. Toda a economia parece estar na expectativa do resultado da queda dos juros como mais um fôlego para o mercado. Aos juros somam-se, também, os estudos que as agências governamentais desenvolvem para baixar o preço da eletricidade, insumo fundamental ao parque produtivo e à vida de todo brasileiro. É preciso tomar cuidado para que tudo não se transforme numa grande festa e, no fim, o país fique ainda pior do que no começo. Mas, falando em desoneração, também não se pode esquecer que pagamos os combustíveis mais caros do mundo. Os juros elevados quebraram muitos negócios e pessoas físicas. São os responsáveis por boa parte das dívidas e da inadimplência alta registrada pelo mercado. Além de reduzir sua incidência nas futuras operações, o governo e o mercado também precisam promover a desoneração das operações já realizadas. Com isso, muitos negócios que hoje estão cambaleantes tendem a readquirir equilíbrio, assim como boa parte dos inadimplentes readquirirão meios de liquidação de seus compromissos e poderão voltar ao mercado. A desoneração dos juros, taxas e demais penduricalhos já é hábito nas negociações das recuperadoras de crédito que, para liquidar dívidas antigas, fazem qualquer negócio. Melhor seria, antes de chegar a esse patamar extremo, adotar uma política de redução do spread já consolidado, em benefício de todos e, principalmente, da fluidez da economia nacional. Poder-se-ia adotar tabelas matemáticas que expurguem automaticamente os gravames das dívidas sem a necessidade de requerimento ou burocracia. Assim, a queda dos juros também agiria retroativamente e poderia proporcionar agir como um excelente acelerador para a economia. É crucial e inadiável a criação de condições para o inadimplente voltar ao mercado. A inadimplência deve ser considerada um acidente de mercado a ser evitado e jamais como mais uma opção de faturamento. É interessante tanto ao país quanto aos bancos e ao próprio consumidor a manutenção do equilíbrio, com todos os contratantes em condições de cumprir integralmente e na data aprazada os compromissos assumidos. Inadimplência baixa ou inexistente é sinal de vitalidade econômica. (DIRCEU GONÇALVES, SP/SP)