Recentemente a reportagem GP foi informada que um artista local estaria realizando um trabalho ousado e inédito: a confecção de uma estatua, em tamanho original, do 1º palhaço negro do Brasil, o pará-minense Benjamin de Oliveira. Curiosa, a reportagem GP começou a mexer os pauzinhos até finalmente descobrir que trata-se do pará-minense Alexandre Magno Martins Pinto, mais conhecido como Xandinho, 1º cartunista GP, de janeiro de 1985 a março de 1989. Ele estudou Artes Plásticas, na Escola Guignard, na Universidade Estadual de Minas Gerais, Conservação e Restauração de Obras de Arte, na UFMG, e Escultura e Modelagem na Maison de Arte (de Yara Tupinambá), todas em Belo Horizonte/MG e hoje, residindo novamente em Pará de Minas, está desenvolvendo peças em bronze em seu atelier que fica no bairro Belvedere. Na sede da GAZETA, ele concedeu esta interessante entrevista, com total exclusividade. Não deixe de ler.
“Não sou um expert na cultura de Pará de Minas, mas, pelo pouco que conheço da cidade, não há, na área da cultura, uma pessoa com tão grande representação nacional e até internacional como Benjamin de Oliveira. E é preciso que a cidade faça um resgate cultural de pessoas assim, realmente importantes. Vemos aqui com mais facilidade, não que eu esteja criticando, homenagens a pessoas de outras áreas e a parte cultural ficar a um pouco a desejar, mas isso é uma coisa natural que acontece em muitos lugares. Em Pará de Minas, só há uma rua em homenagem ao Benjamim. É muito pouco pela grandeza que ele representa no cenário artístico do país”, defende Xandinho com maestria.
COMO SERÁ A ESTÁTUA? – “É um projeto que estou desenvolvendo há 4 anos, quando elaborei toda a parte burocrática. Pesquisei 1º muito sobre a vida do Benjamin para reafirmar o seu valor cultural no Brasil. Fiz também uma pesquisa iconográfica para me aproximar de uma imagem que realmente o representasse: sua fisionomia, os traços do rosto dele, etc. A estatua será feita em bronze, em tamanho natural, apesar de não ter conseguido ainda achar a altura exato dele; então vou fazer em torno de 1M75 ou 1M80. A partir de meados deste mês, espero poder começar a produção que, acredito, ficará pronta e instalada até o final deste ano. Depois de pronta, ela ficará de pé, numa rua central da cidade para que as pessoas possam ter acesso à ela, se interagindo com ela, fazendo fotos, etc”.
ONDE ELA SERÁ COLOCADA? - “A minha sugestão é que a estátua seja colocada bem na frente do teatro municipal, em construção na praça Torquato de Almeida (fundos da Casa de Cultura). Isso, porque, apesar do Benjamim ter passado a maior parte de sua vida no circo, ele também participou do que pode ser chamado de circo teatro. Afinal, naquela época o que existia de teatro itinerante era só circo. Então, penso que ele, ficando próximo ao teatro, ficaria contente (riso). Porém, a instalação da estátua depende do poder público e a prefeitura, até onde pude me relacionar, não apresentou nenhuma dificuldade, até porque trata-se de uma obra de arte que será dada de presente à cidade. A minha iniciativa é uma justa homenagem que, felizmente, foi plenamente abraçada pela cidade”.
QUEM VAI PAGAR? – “O projeto só está sendo viabilizado, graças à direção da Siderúrgica Alterosa, através da Lei Estadual de Incentivo à Cultura. Felizmente, eles acreditaram no meu trabalho e a cidade ficará com mais este débito em relação à essa siderúrgica, empresa sempre presente no apoio à cultura local.”
HOMENAGEM AO PAI - “Com o falecimento do meu pai, José do Patrocínio Pinto, em 12 de abril de 2007, prestei uma homenagem a ele, quando fiz e coloquei o busto dele em seu túmulo”.
E O PADRE HUGO? – “Mais recentemente, o monsenhor Paulo Pereira me procurou para fazer uma homenagem ao conêgo Hugo. Por enquanto, são apenas conversas, mas espero que o projeto seja realmente realizado. O conêgo Hugo é uma pessoa muito querida e importante em Pará de Minas e também na área cultural, pois foi ele quem criou o hino da cidade, ajudou no desenho da bandeira e fundou a Fapam. Portanto, também merece todas as homenagens”. (Há a ideia de se fazer duas estátuas dele, também em tamanho natural, para serem colocadas nas entradas do Santuário da Piedade e da Fapam).
E O PADRE LIBÉRIO? – “Há várias pessoas expressivas na história de Pará de Minas e uma delas, que não se pode negar, é o padre Libério, para quem tenho também um projeto que ainda não iniciei. Para ele, pretendo fazer uma homenagem, criando uma estátua ainda maior, para ser colocada num lugar de mais destaque ainda, porque, sem sombra de dúvida, ele foi uma das pessoas mais iluminadas que já passaram por esta cidade”.
OUTROS TRABALHOS – “Fora esses trabalhos maiores, tenho também uma pequena produção artística e com ela pretendo fazer uma exposição na cidade, ainda neste ano. Já fiz um contato com o pessoal da secretaria de cultura e parece que a cidade ainda não teve nenhuma exposição nesse segmento de arte. Já estou começando a fazer algumas coisas neste sentido”.
DÁ PRA VIVER DE ARTE? – “Viver de arte é muito difícil. Por isso, tenho uma carreira profissional não artística e esta que é artística. Mas, com o decorrer do tempo, espero que a artística suplante a não artística para que eu possa viver dignamente de arte, apesar de saber que é muito difícil... Mas a questão artística entrou na minha vida, desde que eu me entendo por gente... A escultura é mais presente em mim do que o desenho e a pintura... Lembro-me que, quando eu ainda era muito pequeno, martelando uma pedra no quintal da casa da minha avó tentando esculpir um anjo”.
SUGESTÕES GP: 1.) Colocar a estátua de Benjamim de Oliveira, na praça em frente ao Teatro Municipal seria uma ótima ideia, caso o local já não tivesse recebido o nome de Geraldina de Oliveira Campos, através da lei municipal de nº 4538/2005. Parece conflitante e, talvez, humilhante à memória do palhaço colocar o seu nome nacional aquém de um nome municipal. A reportagem GP até procurou o atual presidente da câmara municipal, Marcílio de Souza, para ver se teria como mudar o nome do teatro. Porém, segundo ele, não há como reverter uma lei já aprovada. Lamentável, porque seria realmente uma grande ideia batizar o teatro com seu nome, colocando a sua estátua na praça em frente; 2.) Sobre a estátua de padre Libério, caso o projeto seja realizado, poderia ser colocada na entrada da cidade, pela BR-262 com os mesmos dizeres que havia lá, tempos atrás, criado pela querida professora Guilhermina Duarte: “Entre, Pará de Minas é sua”! Aliás, a Equipe GP sugere também a criação de mais uma placa para os que deixam a cidade: “Volte sempre! Esta terra é sua”! Quem já morou fora de Pará de Minas sabe da emoção que frases assim geram nos pará-minenses ausentes.