Recordista mundial em cinco das oito provas que vai disputar, nadador está perto de superar recorde de 13 medalhas de Clodoaldo Silva e Ádria Santos
O sorriso cativante e o carisma continuam os mesmos. Nem a barba de “colocar medo nos adversários” cultivada nas últimas semanas foi capaz de mudar isso. Entretanto, o Daniel Dias que chega a Londres para disputa dos Jogos Paralímpicos é outro, bem diferente do que desembarcou em Pequim quatro anos atrás. De fã de Clodoaldo Silva, ele se transformou em ídolo. De revelação na China, ele se tornou a maior estrela de uma delegação de 182 atletas e principal condutor do país na missão de chegar ao inédito sétimo lugar no quadro de medalhas.
Com o visual alterado provisoriamente, já que o acordo com o treinador Marcos Rojo prevê cara limpa na estreia nos Jogos, quinta-feira, Daniel mergulha na piscina do Parque Aquático de Londres para dar continuidade a algo que se tornou constante em sua vida: subir ao pódio. Dono de nove medalhas em Pequim-2008 (quatro de ouro, quatro de prata e uma de bronze), o paulista de Campinas disputará oito provas na capital britânica e pode se consolidar como maior atleta paralímpico da história do Brasil no ato final de um ciclo que também inclui 11 medalhas de ouro no Parapan de Guadalajara-2011, oito de ouro e uma de prata no Mundial da Holanda-2010 e o prêmio Laureus de 2009.
- Quero representar bem o país e me sinto muito honrado por estar aqui entre atletas como Terezinha (Guilhermina), André Brasil, Clodoaldo Silva, Antônio Tenório... Pequim foi fantástico e espero que aqui também seja. Lá foi algo mais sem responsabilidade. Tinha feito um grande Parapan, mas em nível mundial eu ainda não era muito conhecido. Depois disso, foram quatro anos fantásticos. Ganhei o Laureus, o “Oscar do Esporte”, e espero carimbar essas conquistas fechando o ciclo com medalhas de ouro.
Como se não bastassem as conquistas já listadas, Daniel Dias conta ainda em seu currículo com outros oito ouros no Parapan do Rio-2007, além de três ouros e duas pratas em seu Mundial de estreia, na África do Sul, em 2006. Trajetória avassaladora de quem sequer pensava em se tornar um atleta até Atenas-2004, quando descobriu um mundo de possibilidades ao se encantar com os seis ouros e uma prata de Clodoaldo Silva.
Oito anos depois, o mesmo Clodoaldo virou adversário na classe S5 e pode ver o fã superá-lo no posto de maior medalhista paralímpico do Brasil. Atualmente, o “Tubarão das Piscinas”, que compete em quatro provas em Londres, enverga 13 pódios (seis ouros, cinco pratas e dois bronzes), assim como a ex-velocista Ádria Santos (quatro ouros, oito pratas e um bronze).
Daniel, que tem nove, pode voltar ao Brasil com 17 no total. A marca, no entanto, está longe de ser prioridade para o nadador.
- Foi tudo muito rápido (na carreira). Não parei para pensar nisso (recorde) e procuro nem pensar. Quero fazer o meu trabalho dentro da piscina. Se o meu melhor naquele momento for uma medalha de ouro, vou ficar extremamente feliz. Superar um grande atleta como o Clodoaldo será espetacular, fantástico, mas se não acontecer também vou ficar feliz. Quero focar nas minhas provas e ajudar os companheiros nos revezamentos.
Apesar do discurso humilde, Daniel Dias sabe que superar a marca de 13 medalhas em Londres é uma tendência. O brasileiro é recordista mundial em cinco das seis provas individuais que irá disputar: 50m, 100m e 200m nado livre, 50m costas e 50m borboleta, todas na classe S5. Ele ainda entra na água pelos 100m peito na SB4 e nos revezamentos 4 x 100m medley e livre com pontuação máxima de 34 no somatório da classificação funcional dos atletas.
- Espero, sim, medalhas nas seis individuais. Não posso garantir as cores, mas vou dar o meu melhor para quem sabe sair com seis ou cinco ouros.
A primeira prova de Daniel Dias em Londres será os 50m livre, que tem as eliminatórias marcadas para a manhã de quinta-feira. Antes, porém, o nadador tem uma missão importante: será o porta-bandeira do Brasil na cerimônia de abertura dos Jogos, quarta-feira, no Estádio Olímpico.