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Jornal descobre mãe de 2 filhos surdos - 30/08/2012

A reportagem GP, após tomar conhecimento que a educadora e instrutora de Libras, Lucimar Rosana Cândido Gomes, 37, divorciada, é mãe de 2 filhos surdos, Lucas Alexander, 17, e Luan Divino, 13, entrou em contato com ela para saber como seria o seu dia a dia. E assim, através desta entrevista exclusiva, ela contou sobre o doloroso preconceito da sociedade e todas as dificuldades que existe no mundo dos surdos. Não deixe de ler. “Minha gravidez foi planejada. Casei e tive um filho. Foi uma gravidez tranquila com todos os exames satisfatórios e o nascimento também não teve problema algum. Só descobri a surdez do Lucas, quando ele já estava com 6 meses, quando, em casa, eu o chamei, e ele, de costas para mim, não me atendeu. Chamei mais alto e mais alto, ao ponto de gritar e, mesmo assim, ele não percebeu. Foi aí que surgiu a minha dúvida. Levei-o ao médico que disse que era cisma minha, que, provavelmente, ele era apenas distraído e que não tinha problema nenhum. Mas à medida que o tempo foi passando, nossa comunicação foi só piorando. Ele estava crescendo, mas não adquiria fala e, com isso, foi ficando nervoso e agressivo. Ele ficava assim por tentar expressar alguma coisa para mim e eu não conseguia entender. Quando ele estava com 8 meses, questionei novamente o médico, quando eu disse que se meu filho não era surdo, ele tinha alguma deficiência mental, porque estava ficando cada dia mais difícil. Procurei um otorrino que me mandou para Belo Horizonte, porque em Pará de Minas não havia esse exame que me daria o diagnóstico. Ao fazer o exame que chama Bera, foi diagnosticado surdez profunda. Quando a gente descobre que o filho é surdo é muito difícil, porque não temos como comunicar com ele, não sabemos como lidar. Isso pega qualquer mãe desprevenida. Durante a adolescência do Lucas, a Libras estava começando a ser difundida na cidade. Então, foi tão difícil pra ele, quanto para mim. Aprendemos praticamente juntos. Eu o levei para a Apae, onde tinha pessoas capacitadas para estar nos auxiliando, porque era a única forma de nos comunicarmos. O surdo perde muito no decorrer da vida, por causa dessa falta de comunicação”, desabafa Lucimar. O 2º FILHO SURDO - “Meu 2° filho, embora eu já tivesse a experiência do mais velho, me deu um novo susto. Esse diagnóstico é muito assustador. Porém, a aceitação é um processo mais fácil. Eu já sabia como lidar. Ele praticamente já nasceu falando Libras, porque já tinha a convivência dela dentro de casa. Consequentemente, o aprendizado dele foi muito mais fácil. O processo de aceitação é um pouco difícil para uma mãe, porque a gente planeja ter um filho e sempre o imagina perfeito. Porém, o surdo que já tem a Libras, desde o nascimento, fica muito próximo o desenvolvimento cognitivo dele. Portanto, foi bem mais tranquilo o desenvolvimento do Luan, meu 2º filho. Ele estava com apenas 3 dias de idade, quando eu descobri, porque nós, mães, podemos fazer um teste, ainda no hospital. Nem precisa ser o Teste da Orelhinha”. O TESTE – “ Claro que é um teste conclusivo, mas a gente consegue prever. Quando a criança nasce, ela enxerga mal, mas o ouvido já funciona perfeitamente bem; o estímulo auditivo responde muito fácil. Então, pode-se começar com pequenos sons como o estalar de dedos que a criança vai acompanhar de onde vem o som. Foi assim que a gente começou a fazer o teste. Depois, comecei com o som alto, com coisas que caía, batimento de porta e ele não tinha nenhuma reação. Então, foi muito mais fácil descobrir que ele era surdo. No caso dos meus filhos, a gente descobriu muito precocemente, porque em geral a mãe só descobre quando o filho está com mais ou menos 2 anos, quando ele realmente não adquire a fala. Tem algumas mães que falam que seus filhos ouviam até os 6 ou 7 meses, porque ele começou a falar mamãe e papai, mas na verdade ele apenas balbuciava. O balbuceio é espontâneo”. MUDANÇA DE VIDA - “Mudou muito a minha vida ser mãe de duas crianças surdas, mudou até a minha profissão. Na época eu ainda era casada e tinha parado de trabalhar. Voltei a estudar e aprendi uma linguagem nova por causa deles. Hoje sou intérprete de Libras e faço também uma faculdade, porque busquei aprender mais coisas para poder estar auxiliando. Me sentia como a porta voz deles para o mundo, porque nem na própria família faz uso dessa linguagem. A família comunica muito precariamente com meus filhos, inclusive o pai, que não sabe Libras. Ele tem muita atenção com os meninos, passa os fins de semana com eles, mas é uma comunicação muito restrita e eles sentem falta disso. Hoje, eles têm amigos ouvintes, estão inclusos em uma escola regular. Antigamente, eles só tinham a Apae. Hoje, eles frequentam todos os lugares, vão para todas as festas, estão inseridos. Mas falta muito, estamos apenas engatinhando, mas o processo melhorou bastante. PRECONCEITOS - “Com bastante frequência, a gente é vítima de preconceito. Há poucos dias, uma criança, amiga dos meninos, chegou na minha casa e perguntou se o mudinho mais velho estava lá. Eu respondi que não tinha nenhum mudinho ali, que ele é surdo, mas que tem um nome e mas que para aquela criança ele não estaria em casa. Outra situação aconteceu com uma idosa. Estávamos em um ponto de ônibus e ela ofereceu um chocolate para o meu caçula, mas ele não entendia o que ela estava dizendo. Aí, eu disse para ela que ele era surdo. Segundo ela, eu deveria ser muito pecadora para receber de Deus um castigo desses. Isso machuca, mas era uma pessoa de 70 e tantos anos que viveu a vida inteira cheia de preconceitos... Mesmo assim, eu disse para ela que eu deveria ser mesmo muito pecadora, porque eu não tenho apenas um, mas 2 filhos surdos. Ela saiu de perto de mim, como se tivesse vendo uma coisa realmente muito ruim. Deveria ter uma campanha para diminuir o preconceito que vem de berço. O filho só reproduz aquilo que vive em casa. Nenhuma criança nasce preconceituosa. Quanto mais novas elas são, menor é o preconceito. O motivo maior do preconceito é a falta de informação. Felizmente, hoje existe em Pará de Minas a Anel que oferece curso de Libras para todas as pessoas a preços bem acessíveis. O surdo no Brasil parece ser estrangeiro, porque, infelizmente, as pessoas querem alfabetizar o surdo, cobrando dele o Português. Mas o Português é apenas a 2ª língua do surdo. A sua língua materna é a Libras - Língua Brasileira de Sinais”.

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