Originária na África, a Aids surgiu no Ocidente nos 1ºS anos da década de 1980, ficando mundialmente conhecida como a peste gay por serem os homossexuais suas principais vítimas e, logicamente, agentes disseminadores do vírus. Tantos anos depois e após tantas campanhas, ainda hoje a prática de sexo sem preservativo continua sendo a maneira mais fácil de propagar a doença que, com o passar do tempo, tornou-se epidêmica. Mas a Aids pode também ser contraída nas transfusões de sangue e no uso comum de equipamentos cirúrgicos, bem como na utilização indiscriminada de seringas, por parte de viciados em drogas. Atualmente, a Aids está espalhada pelos 5 continentes, mas na África a situação é de calamidade e, em alguns países, chega a infectar até 2 terços da população. Os dados mostram que jovens são os mais propícios de serem infectados. Apesar de tudo, o programa brasileiro de combate ao vírus é considerado internacionalmente como o de melhor resultado.
DE 12 A 25 ANOS - Diante disso, a reportagem GP entrou em contato com Maria de Lourdes Ligori, Enfermeira Coordenadora da Vigilância Epidemiológica do município que, com exclusividade, concedeu essa interessante entrevista ao jornal. Não deixe de ler.
“Na década de 80, quando detectaram-se os 1ºs casos, não existia tratamento, o que ocasionou um grande número de óbitos. Afinal, tudo não passava de orientação com as medidas de controle. Nessa época, observava-se um diagnóstico maior em profissionais do sexo (prostitutas) e homossexuais. Como já se passaram 20 anos, esse perfil foi mudando. Entre 1990 e 2000, pode-se observar que esse diagnóstiso foi muito confirmado em heterossexuais e casais que estavam casados há 20/30 anos, mas que não usava medidas de proteção. De 2010 a 2012, o diagnóstico está sendo muito comum em jovens, entre 12 e 25 anos”, resume a enfermeira Maria de Lourdes Ligori.
JOVENS DESPREVINIDOS – “As pessoas que mais estão se infectando hoje são os jovens, porque eles não viveram naquela época, em que quem tinha HVI morria. As pessoas tinham medo de morrer por HIV. Hoje isso não existe mais. As pessoas sabem que tem o tratamento e, com isso, o jovem começa sua vida sexual, tendo comportamento de risco. E se não faz a prevenção, o que acontece? Pega o HIV. Observa-se claramente que o uso do preservativo está inexistente nessa população de adolescentes. Então, temos que rever isso e trabalhar muito na questão da educação. Quem tem o comportamento de risco, não tem medo e desconhece o risco de pegar o HIV, porque não viveu na época de 90, quando existia o hábito de se prevenir. Quem viveu na década de 90 se previne até hoje. O mais importante é a pessoa não ter o comportamento de risco e saber da prevenção. Se a pessoa vai ter relação sexual, ela tem de usar camisinha em 100% das relações que tiver. Não adianta usar camisinha só de vez em quando. Tem também a questão dos usuários de drogas que não devem compartilhar seringas, instrumentos para uso de drogas e utensilhos pessoais. Temos que bater nessa tecla que é a prevenção. Esse é o melhor remédio”.
NÃO PRECISA MORRER – “Mas se a pessoa teve um comportamento de risco ou sofreu um acidente e está exposto a contrair o HIV, a 1ª coisa que tem que fazer é o exame que hoje está disponível. Quanto mais cedo descobrir a presença do HIV, ela poderá acompanhar e se tratar. Hoje, graças a Deus, não é igual na década de 80, quando não tinha tratamento. Detectava-se o vírus e, infelizmente, não se tratava. Hoje é diferente. Existe o tratamento e o acompanhamento e ninguém mais precisa de ir a óbito, pelo fato de ser portador de HIV. O importante é que esse diagnóstico seja feito o quanto antes possível, pois não adianta fazer um diagnóstico tardiamente, porque aí é muito mais complicado. A partir do momento que a pessoa faz o diagnóstico, essa taxa de letalidade diminui, podendo até zerar”.
DOENÇA E NÃO DOENÇA - “Existe diferença entre ser portador do vírus e estar doente. São duas coisas diferentes. Quando se fala que se tem Aids, a pessoa está doente. Quando a pessoa é portador de HIV, ela não está doente, apenas é portadora do vírus. Nesse caso, pode se controlar para que não fique doente”.
O NÚMEROS LOCAIS – “Não se divulga que há tantos portadores de HIV no município, porque, às vezes, há pessoas contaminadas que desconhecem que estão contaminadas. A estimativa, em nível de Brasil, é que se tem 630 mil pessoas infectadas. Observa-se que existe uma taxa de incidência que tem uma média de 18 óbitos a cada 100 mil infectados. A taxa de mortalidade é baixa, mas não deveria nem de existir. Em Pará de Minas, começamos a obsevar os números, a partir de 1994. De lá até hoje, em 2012, temos uma média de 100 pessoas diagnosticadas, mas esse número não quer dizer que só temos 100 pessoas com Aids, porque pode haver mais pessoas portadoras, mas que ainda desconhem o fato. E também existe muita gente que faz tratamento fora da cidade. Dessas 100 pessoas, há as que tomam medicamento, pois precisam; mas têm as que só fazem exames periódicos para verificar a carga viral e se for necessário tomar o medicamento para fortalecer a parte emunologica da pessoa”.