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“Tem gente que acredita que uma pedra de crack é Deus” - 19/10/2012

A reportagem GP foi procurada por Eduardo Lara Aires, 34, filho da conhecida Lourença Lara com o saudoso professor Edilberto Aires e coordenador da Comunidade Terapêutica Força e Luz, de Itaúna/MG. Com exclusividade, ele contou, na sede da GAZETA, como acontece o tratamento de dependentes químicos em São Paulo/SP, onde ele foi tratado e até participou de um curso da Federação Brasileira de Comunidade Terapêutica, de 3 a 13 de setembro. Não deixe de ler. “Eu usei maconha por 5 anos. Também usei cocaína e crack por uns 15. Então, são 20 anos usando drogas. Os fatores para você entrar no mundo das drogas são vários, entre amizades, frustração com algo na vida e até mesmo, quando você fica muito bêbado em uma balada e quer experimentar algo mais. A droga está atacando todo tipo de pessoa, tanto rico como pobre. Já vi rico encostando o carro e mandando tirar a roda para trocar por de pedra de crack. O meu caso foi de revolta, raiva mesmo, quando aconteceu uma separação na minha família”, confessa Eduardo. COCAÍNA E CRACK - “Em vez de usar apenas a cocaína, eu usei também o crack. Todo mundo pensa que a cocaína não faz mal e que o crack faz. Só que elas vêm de uma mesma substância. A cocaína vem da folha da coca e a mesma fórmula que faz a cocaína faz o crack. A diferença é que a cocaína é inalada pelo nariz e o crack é fumado. Fora isso, a cocaína demora de 35 a 120 minutos para passar o efeito; já o crack demora, no máximo, 15 segundos. O crack me derrubou, mas eu mesmo tive a iniciativa de me tratar, procurando, num 1º instante, uma fazendinha; isso em 2007. Mas, um dia antes de ir para ser internado, cheirei 40G de cocaína e varei a noite. Depois, fui a um médico e falei para ele que tinha cheirado cocaína. Fiz um tratamento e depois passei por outros tratamentos, tudo aqui em Pará de Minas e outras cidade mineiras. Mais adiante, fui buscar mais conhecimento, mais força sobre o assunto. Foi quando comecei a pesquisar e achei o único curso que tem no Brasil registrado pelo Governo Federal, o Febrac, de padre Haroldo (na verdade Harold J. Rahm, natural de Tyler/Texas, Estados Unidos, e naturalizado brasileiro em junho de 1986) que foi quem trouxe o Amor Exigente para o Brasil”. DEPENDENTE NÃO É BICHO - “Fui, então, para São Paulo fazer o curso profissionalizante. A maior mudança que eu vi entre as clínicas de recuperação de Pará de Minas e de São Paulo é o apoio. Isso, porque a mídia mostra muito a Crackolândia; então, eles têm muito incentivo do governo, através de verbas que são liberadas. Comunidades terapêuticas são o que aqui, em Minas, a gente chama de fazendinhas de recuperação. Lá, cada fazenda adota um estilo. Têm as fazendas evangélicas, as católicas e têm também as que não levantam bandeira religiosa nenhuma. No curso que eu fiz em São Paulo, para você adquirir uma verba municipal ou estadual você tem que ter o curso, tem que ser dinâmico, tem que ter relação com as pessoas e não pode esconder nenhum dependente químico. Afinal, ele não é um bicho, mas, sim, um ser humano como outro qualquer. Hoje em dia, 90% dos seres humanos são dependentes químicos, seja de remédio, tabaco, álcool, remédio ou drogas. Então, vira uma guerra! Acredito que para melhorar são necessários mais verba, melhor estruturação e maior consciência de todos, porque quando se fala dependente químico o que vem, de imediato, na cabeça da pessoa? É criminoso, marginal, ladrão, bandido... Eles não vêm o dependente como ser humano. Mas a pessoa usa droga, porque é uma válvula de escape para ela. Então, você tem que saber onde está essa válvula, esse defeito para você tentar encher com uma coisa boa como a espiritualidade. Tem gente, por exemplo, que acredita mesmo que uma pedra de crack é Deus. Entretanto, você não pode ficar criticando ela por isso. Você tem que colocar na cabeça dela apenas uma coisa: que Deus vai libertá-la, preenchendo a válvula de escape dela com religiosidade”. PARÁ DE MINAS – “Aqui em Pará de Minas, infelizmente, quando você vai levar um interno para fazer uma perícia no INSS, ele sempre vai tomar pau. Ou seja, não há incentivo aqui... é muito fraco. Agora, ouvi falar que estão tentando abrir uma ONG na cidade para ver se melhora esse tipo de comportamento. Não é que aqui em Pará de Minas só tenham métodos errados, mas se for comparar, as clínicas de São Paulo trabalham com outros métodos bem melhores, porque tem clínica e comunidade terapêutica. Aqui em Pará de Minas, a fazendinha feminina do Pedro Henriques, bem como essa comunidade que eu tenho frequentado em Itaúna, a Força e Luz, podem servir como bons exemplos mineiros, pois são muito bem estruturadas. Neste momento, estão abrindo mais uma comunidade terapêutica em Minas, mais precisamente em Três Marias”.

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