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“Há um fundo de razão para a oposição às Cotas Raciais” - 23/11/2012

No último dia 20, 3ª feira, foi comemorado o Dia Nacional da Consciência Negra. A reportagem GP conversou, na sede da jornal, com o presidente do Instituto Étnico Mbari, Valmir José Costa Diniz. Fique por dentro. “O Instituto Étnico Mbari é uma ONG que se junta a outras milhares que lutam contra o preconceito e a discriminação, visando melhorar a qualidade de vida desse segmento que é considerado minoria no Brasil. O Mbari foi fundado em 1999, apenas como um movimento de consciência negra, destinado ao combate do racismo, preconceito e discriminação. Em 20 de setembro de 2001, o movimento foi transformado em Instituto Étnico Mbari, por questões de operacionalidade. Além de tentar combater o preconceito, a discriminação e o racismo, passamos a exercer e desenvolver outras ações visando ampliar o trabalho da instituição. O que era apenas mais um movimento de consciência negra, incorporou um departamento de artes, de assistência social e de outros estudos”, explica Valmir. DIFICULDADES – “Quando começamos a operar na cidade, tivemos muitas opiniões contrárias. Tivemos muita oposição de pessoas que achavam que, a partir de então, é que Pará de Minas começaria a ter realmente o racismo. Não compreendiam que estávamos por passar por uma nova fase. Mas era, realmente, a população que já era dividida, historicamente dividida. A partir do nosso histórico colonial, podemos compreender isso muito bem. Quando o Mbari começou a operar com suas ações de combate ao preconceito, havia uma reação de indiferença da população não negra em relação ao racismo. Porém, a partir do momento que o Mbari começou as suas ações, nós tivemos uma conscientização de que moralmente o racismo, preconceito e discriminação são negativos e de que haveria punição para esse tipo de crime”. MELHORAS – “O movimento negro está passando por uma fase grandiosa. Lutamos dia a dia e ocupamos todos os espaços, utilizando de todos os instrumentos de comunicação para conseguir nosso intuito que é conscientizar a população sobre os males do racismo, do preconceito e da discriminação na vida do semelhante. Conscientizar homens e mulheres não negros e também conscientizar o próprio negro, tentando elevar a sua auto estima, tentando politizá-lo neste sentido. A partir de então, tivemos muitas ações afirmativas, desenvolvidas pelos governos federal e estadual e, em razão disso, chegamos à aprovação do Estatuto da Igualdade Racial, ponto máximo da conquista que tivemos até agora. Dentro desse cenário, destacamos também a questão das Cotas Raciais que têm muita oposição. Mas há um fundo de razão nessa oposição, uma vez que o desejável seria que tivéssemos educação de alto nível para todos brasileiros e brasileiras (e não apenas para alguns). Alcançada tal condição, gostaríamos que fossem eliminadas as cotas raciais e sociais. No momento, porém, elas são necessárias, porque existe um grande débito histórico, social, moral e material para com o povo negro e demais segmentos que sempre foram colocados em situação de menor favorecimento, especialmente os afro-descendentes, vitimados pelo preconceito, racismo e discriminação. O Mbari aprova a utilização de cotas sociais e raciais como instrumento temporário que possa impactar a sociedade, fazendo com que ela se desperte para a necessidade de novas práticas na administração pública por ocasião da definição de políticas de governo e políticas de Estado. Somente assim, nos libertaremos dessa situação que pede acertadamente, neste momento, a adoção de cotas sociais e raciais: com educação de qualidade para todos e crescimento sustentável, igualando oportunidades e diminuindo as carências sócio-econômicas. Para, a partir daí, sim, unindo avanço social e avanço material construirmos um país melhor”. BALANÇO LOCAL – “Iniciamos os trabalhos em uma época em que a questão do negro estava no auge da efervescência, uma vez que o país, em transformação, já não suportava, não admitia mais os casos de discriminação, racismo e preconceito que, até então, imperava na sociedade sem uma resposta adequada, tanto da sociedade civil, quanto do poder público. Isso, porque não havia uma legislação que combatesse o fato em sua raiz; não havia também ações na área educacional que pudessem transformar crianças, jovens e adultos para o novo tempo que viria. Hoje, vivemos uma situação bem melhor e estamos consolidando essa conquista que alcançamos. Pará de Minas fez parte de um conjunto de acontecimentos que se espalharam por todo Brasil. Na verdade, Pará de Minas, nessa questão, foi incluída como uma localidade que se espelhava no que estava acontecendo não somente em termos de Brasil, como também em termos mundiais. Enfim, uma nova realidade”.

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