Geraldina Campos de Almeida, a tia Dina, nasceu, cresceu e viveu em um ambiente de música, canto e leitura de peças teatrais, algumas das quais adaptou-as para vir a encená-las com os artistas amadores de Pará de Minas. Filha do cirurgião dentista Jafé Almeida e Maria da Conceição de Oliveira Campos nasceu em Pará de Minas no dia 9 de novembro de 1908. Foi, sem sombra de dúvidas, a herança genética de seu pai, avô e bisavô que a levou a uma vivência teatral intensa por mais de 30 anos. Dina do Jafé, como era mais conhecida, não enterrou esse tesouro herdado. Pelo contrário, ela o fez eclodir com toda a pujança de amor à arte, em encenações várias. Tornou-se, assim, uma grande estudiosa e propagadora do teatro amador em nossa terra. (...) Vocês podem imaginar pegar um texto da peça Sol de Primavera, adaptado para um palco do Teatro Nacional do Rio e, ajustá-lo ao espaço diminuto de um cine Teatro Vitória, do Tião do Cinema? E com todos os personagens distribuídos equitativamente dentro da técnica teatral? Isso ela o fazia com maestria. Pois bem, para a tia Dina, ser teatróloga, diretora, sonoplasta, coreógrafa, figurinista, ponto, etc. não era trabalho e, sim, a realização de um sonho, sonho de cultura, sonho do saber, do conhecer e do realizar. O teatro sempre foi a sua paixão, mas ela exerceu também o magistério em Onça de Pitangui/MG, além de ter sido costureira, talento que muito utilizou em suas produções teatrais. Tia Dina escolhia as peças teatrais com grande cautela, para não ir contra os princípios morais vigentes na sociedade local da época. Às vezes tinha que reescrevê-las, adaptando as expressões consideradas impróprias. Beijos e abraços, então, não se admitiam! (...). Como diretora de teatro sempre foi genial e criativa, de vanguarda mesmo! Foi quando colocou, pela 1ª vez, em teatro uma música de fundo identificando cada personagem. Somente anos depois que esse recurso viria a ser utilizado no teatro profissional. Ela buscava o melhor na personalidade de cada ator para compor o personagem e, de tal forma que não havia risco de igualdade e monotonia nas interpretações. O resultado era o enriquecimento humano e artístico dos integrantes do grupo. Figurino? Era composto das casacas e outras peças emprestadas pelo coronel Torquato de Almeida, major Silvino Silva e outros incentivadores. E o principal: o que faltava, ela criava e, com suas irmãs, as confeccionava para não ultrapassar o orçamento. O cenário era montado até com bambus. Tia Dina dirigiu e montou inúmeras peças, inclusive, levando-as para serem encenadas em cidades vizinhas, sempre para causas beneficentes. Eram espetáculos de alto nível, conforme depoimentos, à época, de figuras ilustres de Pará de Minas que frequentavam os espetáculos da capital do país, o Rio de Janeiro, tais como Torquato de Almeida e seu irmão Dr. Theóphilo. Segundo eles, em nada elas ficavam a dever aos teatros profissionais do Rio de Janeiro. Passaram por sua hábil e promovedora direção inúmeras pessoas que tiveram seu potencial artístico despertado e desenvolvido, algumas sobressaindo-se na arte da interpretação.
ATORES - Destacaremos alguns nomes que aqui representarão todos os artistas que trabalharam com nossa tia: José Campos de Almeida, seu irmão, Raimundo Simões, Geraldo Melo Guimarães (Tatá), o advogado Márcio Morais, as irmãs Nadir e Violeta Campos de Almeida, dona Lola Lima e Silva Aguiar, Célia Varela, as irmãs Dalva e Mariúte Frágola, o advogado Osvaldo Ribeiro Lage, hoje monsenhor, Ana Capanema, meu cunhado José Raimundo de Moura (Zé da Quina), meus irmãos Terezinha e Gilberto, a prima Jane Gipse de Almeida, Antonieta Pereira Campos, José Palhares Filho, Hugo Marinho, as irmãs Solange e Dulce Grassi, as irmãs Ninice e Natália Marinho, Marcos Pereira, Maria Helena Costa e muitos outros.
PEÇAS - Algumas peças produzidas e dirigidas por ela: O Coração Não Envelhece, Amigo da Paz, Aventuras de Um Rapaz Feio, Saudade, A Morte do Galo, 100 Gramas de Homem, A Borboleta e a Abelha, A Cigana Me Enganou, Irene, Feitiço, Morre um Gato na China, Gato em Teto de Zinco Quente, As Mãos de Eurídice, Sol de Primavera, e Society em Babydoll.
PEQUENA NOTÁVEL -Tia Dina, com seu talento, humanidade, caridade, psicologia de vida movimentou a cidade, incentivando o saudável hábito de apreciar uma boa peça teatral. Essa pequenina grande mulher, que passou por Pará de Minas com sua luz artística, na incansável missão de promover o ser humano e as boas causas, foi como um meteoro na alegria de sua arte pura que elevou e encantou a todos. Geraldina Campos de Almeida faleceu solteira, em 2 de julho de 1979. (Texto resumido do engenheiro Vicente de Paulo Mendonça).
* Através da lei 4538 , de 24 de outubro de 2005, o Legislativo Municipal decidiu homenagear Geraldina de Almeida Campos, emprestando seu nome ao teatro municipal, Centro.