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Longa caminhada de 10 dias - 22/03/2013

Há 36 anos, acontece em Minas Gerais uma romaria, onde peregrinos iniciam um percurso em Campo Belo/MG que só acaba em Aparecida do Norte/SP, depois de percorridos 430KM a pé. Porém, a reportagem GP descobriu que 4 pará-minenses participaram desse curioso evento de fé, no ano passado. O serralheiro Geovani Medina Ferreira, 49, foi um dos que já esteve lá por duas vezes e agora, conta com absoluta exclusividade como foi sua experiência durante a peregrinação. Fique por dentro. “Descobri essa romaria por acaso, quando estava me preparando para ir a pé, pela 10ª vez, a Conceição do Pará/MG, a apenas 48KM de Pará de Minas. Lembro que num domingo fui até Floresta/MG visitar o santuário de São Geraldo. Quando retornei, comentei com um vizinho, o Antônio de Souza (Fundão) sobre a preparação e ele me fez o convite: “Você não quer ir para Aparecida do Norte a pé?” e eu respondi: “Uai, vamos”! Achei que era brincadeira dele. 20 dias depois, ele me procurou de novo, falando que já tinha pegado os panfletos e o regulamento da romaria com a dona Francisca, uma senhora de Campo Belo/MG, que fazia caminhada há 6 anos. Olhei para ele, não acreditando ainda que era verdade. Ele me explicou que sempre teve o sonho de pagar uma promessa indo à essa romaria e eu lhe expliquei que eu estava brincando, que não iria de jeito nenhum”, explica Giovani. A DECISÃO – “Durante a caminhada à Conceição do Pará, eu fiquei pensando naquela ideia de Aparecida do Norte. Aí, voltei a conversar com o Antônio Fundão, quando amadurecemos a ideia. Como nem eu nem ele nunca tínhamos feito essa romaria, não sabíamos como funcionava, mas estávamos entusiasmados. Aí, fomos falar com a dona Francisca. Eu pensava que precisava ser jovem e ter um tipo físico de atleta para conseguir concluir essa trajetória, mas ela me disse que não era bem assim. Ela nos mostrou fotos, panfletos, contou histórias e nos entusiasmou ainda mais. Assim, resolvemos ir”. 10 DIAS - “A estrutura da romaria é muito bem montada. Eles têm o caminhão para montar as barracas, fazer o café da manhã e o almoço. Os carros oferecem água e dão suporte a quem está cansado. Durante 4 noites, dormimos em poliesportivos (as mulheres nas arquibancadas e os homens na quadra); noutra noite, dormimos em uma escola; em outros 2 dias, dormimos em um pesque e pague; no penúltimo dia, em um posto de gasolina; e no último, dormimos numa igreja. Durante os 10 dias, levantamos às 3H da manhã, fazíamos orações, tomávamos café às 4H e saíamos. Todos os dias! Uma coisa engraçada é que não tem como você caminhar por 10 dias ao lado de uma mesma pessoa. Aí, você começa a se enturmar com os outros romeiros que vêm de todos os lugares e tem várias idades. O romeiro mais velho tinha 75 anos e o mais novo 14. Então, você acaba conhecendo a história do outro, o que te faz repensar se a sua vida está mesmo difícil”. MUDANÇA - “A maioria do percurso é por estrada de chão, apenas durante 2 dias passamos pela rodovia Fernão Dias, mas é o pedaço mais difícil, pois são 270 retireiros andando numa estrada com muitos carros e carretas. Os romeiros dizem que é um milagre de Nossa Senhora da Aparecida nunca ter ocorrido nenhum acidente. A romaria em si é um momento de oração. Lá, 98% dos romeiros participaram da caminhada para agradecer uma graça divina ou para pagar promessa. Mas, no meu caso, foi diferente. Fui pela experiência que, na minha opinião, é inexplicável. Não tem como uma pessoa fazer parte de uma experiência dessa e voltar do mesmo jeito. Sempre alguma coisa muda. A gente volta com outros olhos”. BOLHAS E SANGUE - “Se Nossa Senhora achar que eu mereço e Jesus Cristo me der forças, este ano irei novamente, pois a emoção é muito grande. No 8º dia, por exemplo, quando subimos os 19KM de serra e tivemos acesso à belíssima visão do mirante, a 50KM de Aparecida do Norte. Não tem como não perceber a força divina. É inexplicável! Mas o mais bonito da romaria são a fé e os exemplos de vida. Há momentos em que você olha para os pés de alguns romeiros, cheio de bolhas e sangue, e pensa que ele não vai conseguir. Mas ele consegue ir até o final”.

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