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História de vida - 02/05/2013

A reportagem GP esteve recentemente na residência de Mansuéta Mendes de Faria Pinto, filha de Antônio Lopes de Faria e Ana de Araújo Mendes, que teve 5 irmãos e 7 irmãs. Viúva de Oscar Pinto, há 28 anos, é mãe de 7 filhos, avó de 14 netos e bisavó de 5 bisnetos. Na oportunidade, ela falou um pouco sobre as lembranças que ela guarda de sua infância, adolescência e vida adulta, entre outras experiências de vida. Vale a pena conferir. “Nasci em Igaratinga/MG, em 28 de novembro de 1926. Naquela época, Igaratinga ainda era distrito de Pará de Minas e, quando foi emancipada, eu já era casada e tinha filhos. Meu pai era comerciante e minha mãe era dona de casa para cuidar dos filhos. Fui uma criança sadia, me lembro de ter sofrido apenas uma enfermidade, quando minha boca feriu toda, não sei se foi leite mal fervido ou vaca doente, mas minha boca ficou toda machucada e minha mãe me curou, não me lembro com o quê. Certa vez, faltando um mês para eu completar 9 anos, eu caí de um pé de manga e quebrei a perna. Eu estava na 3ª série e faltava um mês para os exames finais. Como não fui mais às aulas, por causa do acidente, tive de repetir o ano. Lembro também que quando eu tinha 7 anos, meu padrinho morava na roça e lá tinha missa às 10H de domingo. Um dia, depois da missa, ele falou com minha mãe que iria me levar na casa dele, um lugar conhecido até hoje como Retiro dos Farias, entre Igaratinga e Itaúna/MG, e que no outro domingo, ele me trazia de volta. Chegando lá, achei muito ruim. Como não gostava de ficar lá, fui até um muro e risquei 7 vezes, um para cada dia, para eu não correr o perigo dele me deixar lá por mais tempo. Cada dia, eu ia lá e marcava mais um risco (risos). Além da casa dele, havia também a casa de uma tia ali perto e era o único lugar que eu podia ir”, relembra Mansuéta. ADOLESCÊNCIA - “Durante a minha adolescência em Igaratinga, não havia luz, nem rádio a pilha. As poucas vezes que a gente escutava um rádio era quando um médico ia para lá atender os pacientes e ligava o rádio do carro. Quando eu e minha irmã mais nova vínhamos a Pará de Minas, a gente ficava na casa da minha irmã mais velha e era uma bondade só. A gente escutava novela - naquela época, era pelo rádio, a casa dela tinha muito mais conforto, tinha água dentro de casa, chuveiro e achávamos aquilo bom demais. Quando voltávamos para Igaratinga, eu e minha irmã ficávamos deitadas contando para a outra irmã, que havia ficado em casa, como tinha sido a novela, até chegar ao ponto que nosso pai soltava tipo um ronco, mostrando que estava cansado daquela conversa. Até hoje gosto muito de encontrar com o meu irmão Paulo - mais velho do que eu 2 anos - pra gente ficar recordando das coisas que a gente fazia na adolescência”. VIDA ADULTA – “Comecei a trabalhar muito cedo, para dizer a verdade, com 4 anos eu já trabalhava, olhando os irmãos menores (risos). Uma vez, fiz um exame para ser escrivã em um cartório, passei e comecei a trabalhar. Depois de um certo tempo, fui contratada para dar aulas em Igaratinga e, mesmo assim, continuava a trabalhar no cartório. Como na época era muito difícil arranjar professoras, eles me contrataram sem eu ser formada. Quando casei, tinha 23 anos e meu marido, 28. Noivamos no dia 16 de junho e nos casamos um mês depois, exatamente no dia 16 de julho. Quando eu tinha 39 anos, nos mudamos para Pará de Minas, mas eu ainda continuei a trabalhar em Igaratinga, durante 6 anos. O Oscar me levava e me trazia, todos os dias. Decidimos vir para Pará de Minas, porque a minha filha mais velha, Solange, estava estudando em Itaúna/MG, mas achava muito ruim estudar lá. Estava doida para vir para cá. Foi aí, então, que eu e o Oscar decidimos mudar para Pará de Minas para ela terminar os estudos aqui”. VISÃO DE MUNDO - “Acho que no mundo de hoje existem coisas muito boas, mas também coisas muito inconvenientes. Um caso bom, por exemplo, é a televisão. Quando eu era mais nova gostava muito de escutar novelas, no rádio, e, mais tarde ver as novelas, na televisão. O Oscar, inclusive, me perguntava se eu não misturava os personagens de todas as novelas que eu assistia. Naquela época, eram poucas as pessoas que tinham televisão em casa. Daí, quem tinha colocava a televisão na maior altura possível para todo mundo que passasse na rua saber que ali tinha televisão (risos). Quando me aposentei, o meu filho mais novo tinha 3 anos. Naquela época, a cidade era muito tranquila e ele ia sozinho na casa dos meus vizinhos. À noite, ficava aquele tanto de meninos amontoados no chão da nossa casa para poder assistir televisão”. RELIGIOSIDADE – “Quando alguém me pergunta se eu tenho algum segredo para me manter tão bem até hoje, com 87 anos, eu digo que me mantenho bem, porque sou muito religiosa, graças a Deus. Mas também nunca fumei, gostava de cerveja e vinho, mas tomava muito pouco e hoje nem posso tomar mais, pois bebo um remédio para controlar a coagulação do sangue. Outro dia, dei uma provadinha na cerveja de um dos meus filhos, mas achei ruim demais (risos). Bebo cerveja sem álcool que hoje acho muito melhor do que a outra (com álcool)”. MOMENTO FELIZ - “Eu tive vários momentos felizes como dar as minhas aulas. Eu fazia o que gostava e gostava muito de meus alunos. Mas o momento mais feliz de todos foi quando descobri que estava grávida, pela 1ª vez. Eu havia me casado com alguém que queria muito ter filhos, mas ele tinha medo de ser estéril. O Oscar achava que um casal sem filhos deveria ser muito triste. Então, fiquei muito alegre, quando descobri que estava grávida”... NOTA TRISTE - Um de meus netos, o Alexandre, filho do Hélio (com Maria Helena Ferreira), morava e trabalhava como camelô em São Paulo/SP, mas morreu muito cedo, com 22 anos. Em uma certa manhã de domingo, ele armou a barraca para trabalhar, mas quando foi atravessar a rua para comprar alguma coisa, vieram 2 motoristas apostando corrida e um deles acertou o meu neto em cheio... ele morreu na hora. Se ele não estivesse com a carteirinha de camelô, teria sido enterrado como indigente. O Alexandre tinha o hábito de me ligar para eu lhe ensinar algumas receitas; na 6ª feira, 2 dias antes dele morrer, ele me ligou e pediu para eu ensinar a esposa dele, a Juliana, a fazer Moelinha de Frango... Fiquei muito triste depois da morte dele, especialmente por causa da minha bisneta Yasmin.

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