O comerciante Fabrisio Albino de Campos Moura, de 34 anos, dono da BMW que atropelou e arrastou o motociclista José Francilino Júnior, de 37 anos, se apresentou à polícia na noite desta quinta-feira (2). O motociclista morreu durante o acidente ocorrido na madrugada desta segunda-feira (29), na Rodovia Anchieta, em São Bernardo do Campo, ABC.
Moura mudou a versão que seu irmão tinha dado sobre o acidente e disse que não estava bêbado quando pegou o carro na noite do acidente. Segundo a Polícia Civil, o irmão do motorista admitiu que ele tinha bebido antes da colisão.
Moura prestou três horas de depoimento e confessou que o irmão não estava com ele no BMW 125i - o irmão chegou ao local do acidente após ser acionado por telefone por ele. O dono do carro de luxo admitiu que estava em torno de 110 km/h. O limite de velocidade na pista marginal da Via Anchieta entre o km 12 e o 18 é de 110 km/h, segundo a concessionária Ecovias.
O delegado Roberto Bueno Menezes, do 2º Distrito Policial de São Bernardo, não acredita que o motorista estava dentro do limite de velocidade. "Ele tem direito de se defender, à ampla defesa. Ele pode vir aqui e falar todas as mentiras que quiser. Se ele estivesse no limite da velocidade da pista não teria acontecido a cacetada que aconteceu. O que menos está valendo aqui neste caso, na conduta do motorista pós acidente, é a vida humana. Perdeu-se uma vida aqui e tentaram arquitetar uma história que deu errado e, felizmente, tivemos uma testemunha que já depôs, está sob sigilo e derruba tudo isso", disse Menezes ao G1. Foi essa testemunha quem contou que o motorista só deixou o local do acidente após a chegada do irmão, que não estava na BMW.
O comerciante antecipou em entrevista exclusiva ao G1 (veja o vídeo ao lado) que era ele mesmo que estava ao volante e que não viu a motocicleta na Via Anchieta. O motorista disse ainda que saiu do local do acidente por medo de ser linchado e que ligou para o irmão e disse para ele pedir socorro para a vítima.
“Eu estava vindo da casa do meu irmão, buscar para ele o documento de uma moto que tinha ficado comigo. Tinha ido buscar minha esposa com minha filha, que estava na casa da minha sogra. Cortei por Piraporinha e peguei a Anchieta sentido São Paulo, porque minha mulher mora no final da Anchieta. Fui tranquilo, tranquilo entre aspas, porque a velocidade da marginal era cento e pouquinho, eu ia a uns 110 km/h, creio eu, quando me deparei, numa subida, com um negócio escuro, preto na frente. Quando olhei, fui analisar o que era na verdade, não deu nem tempo, só ouvi a pancada acontecendo, o airbag estourando”, disse o comerciante sobre como foi o acidente.
O comerciante disse que a região onde ocorreu o acidente é escura e que não conseguiu ver a motocicleta e a vítima, que segundo ele estariam parados no acostamento do lado esquerdo da Via Anchieta.
“Não dava para ver a moto, ali é muito escuro na verdade. Tanto que nem vi a moto dele parada na esquerda, não sei se a moto dele parou, se ele tem alarme, não sei o que aconteceu. Quando eu olhei eu tentei desviar da moto, se você olhar, a pancada foi do lado direito do carro porque eu tentei desviar da moto, ele estava parado do lado esquerdo. Ou eu ia me arrebentar no guard-rail, mas eu desviei assim mesmo, foi essa minha reação. Só que eu tentei desviar e peguei na pontinha do carro”, disse o comerciante.
O resultado da perícia feita no carro deve ficar pronta daqui a um mês. Mesmo sem o laudo, o delegado-titular do 2º DP de São Bernardo, Roberto Bueno Menezes, responsável pelo caso, decidiu indiciar o comerciante por homicídio doloso. Ele entendeu que o motorista assumiu o risco de matar o motociclista.
Pedido de perdão
“Para falar a verdade, eu sei que é uma situação meio difícil. Por enquanto eu estou sendo até meio que julgado, mas tudo bem. Desculpas nessa hora não resolvem. Eu, realmente, não sei nem o que dizer, mas eu peço desculpas pelo acontecido, não foi culpa minha. Jamais, quero que entendam que eu não vou comprar um carro novo para matar alguém. Não vou sair de manhã e vou matar alguém atropelado. Não vou fazer isso nunca, isso foi um acidente, na verdade”, disse o comerciante sobre a família do motociclista morto.
O comerciante disse que pretende procurar a família do motociclista. “Isso aí eu vou ter de ajudar, é de lei. Não procurei eles ainda porque quero resolver tudo na justiça primeiro. Vou chegar na família, vou arcar com as despesas que eles tiveram, tudo”, disse Moura.
Moura disse que nunca tinha sofrido um acidente antes. “Você tem um projeto na vida e acontece um negócio como esse é uma barreira, difícil. Nunca bati um carro, tive vários seguros e nunca tive uma batida de carro.”