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“Um caminhão chegou ao hospital, abriu uma tampa e um havia tanto de pacientes esparramados... parecia cena de guerra com muita gente mutilada e machucada” - 09/05/2013

Depois de amanhã, domingo, 12, é comemorado o Dia Mundial do Enfermeiro, um profissional da área da saúde preparado para atuar em todas as áreas: assistencial, administrativa e gerencial. Antigamente, as enfermeiras eram apenas práticas, quando aprendiam com as mais velhas a cuidar dos doentes e a portar-se de acordo com as normas e exigências que as circunstâncias e a ocasião exigiam. Hoje, a enfermagem é uma profissão que exige formação universitária. Enfermeiros e enfermeiras estudam muito, fazem cursos de mestrado e doutorado, assumem postos nas universidades e exercem funções absolutamente fundamentais nos hospitais. Afinal, não existe hospital que possa exercer medicina de ponta se não contar com um corpo de enfermagem bem preparado. Para homenagear esses profissionais, a GAZETA escolheu uma das 1ªs e mais dedicadas enfermeiras da cidade, Sebastiana Maria Nogueira, 61, solteira. Em sua casa, ela recebeu a reportagem GP. Não deixe de ler. “Lembro-me que, desde pequena, eu já brincava de ser enfermeira com as minhas bonecas. Uma vez, fui ao hospital dar aula particular de matemática para as irmãs de caridade, quando, de repente, chegou uma pessoa acidentada. Ao ver o trabalho das irmãs, me fascinei pela profissão, fiquei apaixonada com o hospital. Nessa época, ia ter um curso de enfermagem, mas eu não tinha idade suficiente. Depois, me disseram que a irmã Helena deixaria eu fazer o curso em troca das aulas de matemática. Aí, fiz o curso”, recorda Tiana, como é mais conhecida. ESTRANHO BATIZADO - “Quando eu fui assistir a um parto, fiquei lá na sala, só observando. Do nada, o médico jogou a placenta do bebê na minha cabeça. Como eu não tive reação nenhuma, não xinguei nem nada, ele me disse que eu já estava batizada, porque eu tinha vocação para ser enfermeira. Nem liguei para a placenta que me sujou toda (risos). As pessoas que ele fazia essa brincadeira ficavam bravas, choravam, mas eu não. Achei até graça. Isso era um sinal de que eu seria uma boa enfermeira”. 38 ANOS - “Depois, fiz outro curso, o de Técnico de Enfermagem, em Belo Horizonte, onde fiquei alguns meses trabalhando, mas o meu lugar mesmo era aqui em Pará de Minas. Muita gente me ofereceu empregos para sair daqui, para ir para Belo Horizonte, mas eu sempre recusei, pois sou daqui, gosto desta cidade e acho muito bom ser pará-minense. Depois que as irmãs foram embora do hospital, fiquei responsável pela parte da enfermagem. Os médicos me ajudavam, mas eu lia muitas revistas. Trabalhei nesse cargo até a cidade ter um enfermeiro formado. A 1ª enfermeira formada contratada foi a Iana, depois a Mônica, que nos ensinou muito, pois ela passava todas as teorias pra gente. E foi assim, durante 38 anos, trabalhando muito. Com o passar do tempo, foram chegando médicos novos. No início, só havia 6 médicos. Me tornei muito amiga dos novatos que eu considerava como filhos. Quando eles vinham para o plantão, eu até brincava: - Os meus meninos estão vindo (risos). O MAIOR PRAZER - “Um dos momentos mais alegres nessa profissão é quando você dá alta para o paciente e vem toda a família, feliz, agradecer. Isso me deixava feliz, principalmente quando uma pessoa retribui com um sorriso, com algumas palavras que o dinheiro não pode comprar. Para mim enfermagem, não é para ganhar dinheiro; é para agir com o coração”. A MAIOR TRISTEZA - “Um dos momentos mais marcantes da minha profissão foi quando teve aquele acidente na ponte da Matinha, em 17 de dezembro de 1994, quando morreram 13 crianças e adolescentes de um coral de Betim/MG e mais de 70 ficaram gravemente feridas. Um caminhão chegou ao hospital, abriu uma tampa e havia um tanto de pacientes esparramados... parecia cena de guerra com muita gente mutilada e machucada. Eu era a responsável pela área da enfermagem naquele dia... aí, pedi pelos rádios a todos os paramédicos, enfermeiros, médicos que estivessem em Pará de Minas que viessem nos socorrer. Apareceram muitas pessoas, inclusive o Hospital João XXIII, de Belo Horizonte, enviou 3 ambulâncias e alguns enfermeiros para nos ajudar, pois não tínhamos CTI ainda. Lembro-me de uma paciente que chegou com um ferimento na cabeça e estava sangrando demais. Colocaram-na na maca, dizendo que ela já estava morta. Eu protestei, dizendo que não estava morta, apesar dela já não estar nem falando mais. Então, eles a levaram para a cirurgia, fizeram a reconstituição. À noite, fui visitá-la e ela me disse que se lembrava das minhas palavras, dizendo que ela não estava morta... me falou que só estava viva, graças a mim. Passado algum tempo do acidente, aqueles jovens vieram ao hospital fazer uma homenagem, cantando para nós”. MENSAGEM - “Desejo a todos enfermeiros, médicos e a todos que trabalham na área de saúde que se sintam o que eu estou sentindo, agora, realizada. Infelizmente, muitos se aposentam e ficam tristes. Eu me aposentei na hora certa, vi que era a hora de parar, fui reconhecida e continuo tendo amizades no hospital, onde deixei muitas lembranças e guardo muitas recordações. Saí de lá sem mágoas, fui homenageada no dia de minha saída, ganhei uma placa de reconhecimento... então, só tenho a agradecer . Enfim, parabenizo todos os enfermeiros pelo seu dia, desejando que eles tenham muita bondade e paciência, pois fazendo isso eles sempre terão reconhecimento de seus pacientes”.

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