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Imagens de um tablet registram o choque entre balões na Turquia - 27/05/2013

A queda de um balão, nesta semana, na Turquia matou três brasileiros. Os céus da Capadócia ficam lotados de balões e as regras de segurança nem sempre são respeitadas. É o que mostram imagens feitas por uma brasileira que sobreviveu ao acidente. Foram os últimos momentos da excursão à Turquia. A gravação inédita mostra os brasileiros se divertindo em uma viagem que parecia mágica, num lugar de conto de fadas. O vídeo mostra o balão que em poucos minutos entraria em queda livre. Mas no começo, estava tudo certo. Só que, logo que o voo começa, os passageiros do balão da Anatolian percebem que nos céus da Capadócia o tráfego é intenso demais. “Eu vou desligar isso aqui, eu estou com medo. Silêncio aqui em cima. Ah, está alto. Está tudo bem, né? Então está bom”, disse Rosana no vídeo. Pouco depois, o piloto português Rodrigo Neves vai ser surpreendido. E o sonho de voar de balão pela Capadócia vai ser cortado pelo cesto de um outro balão. Três brasileiras morreram instantes depois. Marina Rosas, Maria Luiza Gomes e Ellen Kopelman eram amigas e viajavam juntas. Vinte e duas pessoas ficaram seriamente feridas, entre elas outros sete brasileiros. O comerciante Vágner Santo, de 59 anos, teve fraturas em várias partes do corpo, perdeu a consciência e só se lembra do barulho da ambulância. A mulher dele, Rosana, de 58 anos, também teve fraturas graves, inclusive na coluna. Mas o pior para ela foi ficar sem notícia do marido. “Muito ansiosa, não vejo a hora de ver ele. E eu sei que ele também está com muita saudade de mim”, disse Rosana Santo no hospital. Quando o balão caiu, Vágner foi levado para um hospital na cidade turca de Kayseri, a 80km de Nevsehir, a região do acidente, onde Rosana ficou. Era o filho Fabiano, que veio às pressas do Brasil, quem fazia a ponte de um hospital para o outro, levando notícias e mensagens de amor. “Fica sabendo que eu amo você demais”, disse Vágner em uma dessas mensagens, gravadas no celular. Fabiano passou a semana fazendo o possível pra se livrar da burocracia e juntar os pais no mesmo hospital. Quando a boa notícia finalmente chegou, na sexta-feira (24), Rosana se arrumou, do jeito que pôde, para ficar bonita para o marido. Naquele momento, Vágner estava longe, sem saber o que acontecia. “Ninguém me ligou, falou nada. Fiquei preocupado, porque ninguém fala português aqui”, desabafou Vágner no hospital. “Eu nem acredito que eu estou viva”, diz Rosana. Daqui a pouquinho eles se encontrariam. Sábado, quase 7h da manhã. Nossa equipe refez o trajeto do balão que caiu com os brasileiros para entender o que acontece lá em cima. No nosso grupo, 22 turistas de Taiwan. O piloto é Ibrahim, da empresa Skyway Balloons. Turco, 24 anos, quatro de experiência nos balões da Capadócia. Depois de uma hora de vôo, pronto pra pousar. O pouso considerado perfeito aqui tem que ser em cima de uma carreta. Mas o nosso piloto ainda precisava se entender com a equipe lá embaixo. “Amigo, traz o carro pra baixo do balão”, diz o piloto. O carro se aproximava. Mas já não dava mais tempo para o pouso. “Vai mais, vai mais pra frente”, diz o piloto. Ibrahim soltou fogo. O pessoal da caminhonete avisava que, mais uma vez, estava pronto para receber o balão. E o piloto perde a paciência. “Meu amigo! Você já viu algum balão pousar em cima da árvore? Vai mais para frente, por favor”, declara o piloto. Depois do vôo, Ibrahim contaria que viu a primeira rede elétrica passando. Mas, outra ele não vê. Olha para longe, procurando um novo lugar para tentar o pouso. É quando alguém grita. O nosso balão fica preso no fio de alta tensão. Em câmera lenta dá para ver melhor o momento em que o cesto do balão bate nos fios elétricos. Todos assumimos a posição de descida. A maior preocupação era um choque elétrico. Mais tarde, o piloto vai contar que o que atordoava ele era o risco de haver outro balão em cima. E foi depois de receber sinal verde da equipe do solo, Ibrahim aperta o maçarico para nos livrar de vez do perigo da rede elétrica. Cinco dias antes, foi em um movimento de subida que o balão onde viajavam os brasileiros se chocou contra outro balão. O balão da empresa Anatolian viajava com capacidade máxima: o piloto e 24 passageiros. Pesava mais de três toneladas. Depois de 40 minutos voando baixo, começou a subir rapidamente, para outro patamar da montanha. Só que, no caminho, encontrou o cesto do balão da empresa Istambul. No choque, o chamado envelope, o tecido vermelho e branco do balão da empresa Anatolian, rasgou e o balão começou a cair. O piloto fez o que deveria: acionou o maçarico para jogar mais ar quente e tentar diminuir a velocidade da queda. Mas as chamas do maçarico começaram a queimar o balão, e o piloto desistiu. O acidente teria sido entre 500 e 600 metros de altitude. E as caixas-pretas dos dois balões envolvidos foram para perícia. Durante o nosso voo, o piloto Ibrahim nos mostrou que cada balão tem dois rádios: um para falar com a própria equipe, e o outro, em uma frequência aberta, para mandar alertas para os outros pilotos. Uma das versões sobre as causas da queda afirma que o piloto Rodrigo Neves não teria usado os rádios para consultar a equipe da empresa dele no solo, nem para mandar alertas para os outros pilotos. A consulta é importantíssima, porque apesar do tráfego intenso não tem torre de controle lá, e não tem também ambulâncias para emergências. A outra versão sobre o acidente diz que o piloto da Istambul deveria ter evitado o choque porque estava mais alto, e portanto podia ver o outro balão. Em 20 anos de atividade intensa com balões na Capadócia, no entanto, foi o segundo acidente fatal. Os passageiros do balão da empresa Anatolian assumiram a posição de pouso. Assim como a gente fez no momento em que nosso balão ficou preso no cabo de eletricidade. Todos com as mãos na corda, agachados para evitar sobrecarga nos pés, joelhos e coluna. Apesar disso, o diretor-médico do Hospital Versa, que recebeu 13 vítimas do acidente, contou que praticamente todos tiveram fraturas na tíbia e na fíbula, que ficam na parte inferior da perna, e também na coluna. A radiografia de Rosana mostra a coluna fraturada e os pinos colocados na cirurgia. Ela sofreu ainda outro impacto, porque desceu agarrada no tablet, que acabou causando ferimentos na barriga e no queixo. “O tablet cortou minha boca”, conta Rosana, e diz ainda: “Ele caiu no fundo do balão, e eu puxei com os pés e carreguei comigo de novo”. Na sexta-feira, depois de cinco dias separada do marido por 80 km, às 14h30, Rosana começou uma nova viagem. Foi uma hora percorrendo o lugar que, depois de tantos dias cinzas, começava a ficar bonito outra vez. A ambulância finalmente entrou na cidade que parecia do outro lado do mundo. E chegou ao agora tão sonhado hospital. A Rosana chegou ao quarto, mas ela ainda teria que segurar um pouquinho a ansiedade, porque antes de qualquer coisa, ela precisaria ser vista pelo médico. O marido, estava pertinho. “Vem logo que eu quero pegar você” dizia Rosana para o marido, em uma maca próxima. Depois de ficarem sem notícias um do outro, depois de viverem, juntos, uma tragédia, e, separados, a incerteza sobre as próprias vidas, Rosana e Vágner podem ficar perto outra vez. Pode ser que eles passem ainda algumas semanas entre esparadrapos e tubos de oxigênio. Mas, pelo menos, não tem nada que separe esse casal. fonte: http://g1.globo.com/fantastico/noticia/2013/05/imagens-de-um-tablet-registram-o-choque-entre-baloes-na-turquia.html

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