Na tarde do dia 25 de outubro, 6ª feira, uma garotinha de apenas 2 anos e 10 meses, chamada Maria Luíza Carvalho, faleceu, em Pará de Minas. O atestado de óbito dela informa que a causa foi falência múltipla dos órgãos, provocada por uma meningite meningocócica, causada por uma bactéria conhecida como meningococo. A maioria desses casos ocorre em crianças, durante o inverno e primavera, sendo que a doença pode se manifestar rapidamente, começando com uma infecção do trato respiratório superior ou dor de garganta como aconteceu com Maria Luíza. A reportagem GP conversou com a jovem mãe da vítima, Bianca de Carvalho, 21, que, visível e totalmente abalada, contou como tudo aconteceu. Confira.
“Eu peguei a Maria Luíza na 5ª feira (dia 24), na casa da minha madrinha... ela estava brincando, rindo. Dei banho nela e a coloquei para dormir, mas por volta de uma hora da manhã (6ª feira, dia 25), ela começou a resmungar. Levantei e acendi a luz para averiguar o que estava acontecendo. Ela estava tremendo, com febre. Corri para dar um banho nela e peguei um remédio, porque imaginei que, como ela passava o dia inteiro, na creche, poderia ter comido algo que estivesse fazendo ela passar mal. Aí, ela vomitou, a febre abaixou e ela dormiu novamente. Porém, de manhã, quando fui acordá-la, ela estava novamente com febre e minha mãe falou para levá-la ao P.A. Eu disse que não, pois sabia que lá iria demorar demais para ela ser atendida.”, relembra Bianca com muita tristeza no olhar.
41 GRAUS – “Aí, usei o plano de saúde por dar atendimento mais rápido, mas quando eu cheguei com ela no hospital, o corpo dela estava roxo e tremendo. Corri com ela para uma farmácia para medir a febre e ela estava com 41 graus de febre. O rapaz que me atendeu, me orientou a levá-la de volta para o hospital, porque ela corria o risco de ter um ataque de epilepsia. No hospital, a atendente disse para eu ir para o P.A., porque não havia pediatra no hospital. Eu respondi que não tinha como levá-la para o P.A. com 41 graus de febre. Aí, o médico de plantão [seu nome não citado (*)] deu atendimento, me passando uma medicação para abaixar a febre. Disse também que iria deixá-la em observação no hospital, porque ela estava com uma irritação na garganta mas que, assim que a febre passasse, ela seria liberada. Ele também me orientou a amamentá-la, caso ela aceitasse”.
NADA GRAVE - “Das 13H às 14H, fiquei aguardando a doutora Divana (pediatra Divana P. Wehdorn Teixeira) chegar. Quando ela chegou, mostrei para ela que minha filha estava inchando e com uma mancha na barriga. Quando ela viu aquilo, pediu às enfermeiras para fazer o hemograma com urgência. Pedi também ao médico que nos atendeu para ele fazer o exame de sangue e de urina também, mas ele disse que não seria preciso, pois não era nada grave mesmo, apenas uma irritação na garganta. Mas a doutora Divana falou comigo que ela estava suspeitando de meningite. Eu perguntei para ela se era grave e ela me respondeu que era gravíssimo”...
FORTE CONVULSÃO – “A doutora Divana me passou as receitas médicas para eu buscar os remédios na farmácia, porque no hospital não tinha. Disse também que tinha conseguido vaga no CTI de Belo Horizonte ou de Divinópolis. Ela ligou para a ambulância da Prontomed vir buscar a gente, mas eles disseram que não teria como mandar a ambulância, porque tinha de ser uma ambulância com UTI móvel, porque ela tinha de ser intubada. Quando resolvemos pagar uma ambulância da Unimed, minha filha começou a ter uma forte convulsão... e faleceu nos meus braços (choro contido). Se, ao menos, aquele médico que fez o atendimento tivesse pedido o exame de sangue, ele teria diagnosticado que ela estava com essa doença e a enviaria mais rápido para Divinópolis ou Belo Horizonte... Ainda que não pudesse ter feito nada, porque a médica me explicou que essa doença dela causaria morte ou paralisia... Mas, pelo menos, eu tinha feito alguma coisa... saberia pelo menos que ela estava com meningite”.
REVOLTA – “Queria que os médicos daqui tivessem mais cuidados com as crianças (novo choro contido): fazer exames, olhar direito... Não sei como anda a cabeça deles, talvez seja até excesso de trabalho... mas está tudo muito desleixado. Quantas crianças ainda vão precisar de UTI ou vão morrer por falta de uma UTI em Pará de Minas? Tive que aguardar buscarem um remédio da farmácia, porque não tinha no hospital... A ambulância daqui não tem UTI para levar o paciente... Ou você paga e, mesmo tendo plano de saúde, corre o risco de ficar sem atendimento... É preciso reavaliar os médicos que temos... De que adianta eles existirem, se não fizerem nada”?