A reportagem GP recebeu algumas ligações, informando e solicitando detalhes da morte de um homem que residia em Bom Jesus do Pará/MG em um tanque de dejetos suínos (biodigestor) em uma fazenda perto do distrito de Trindade/MG. Investigativa, durante mais de 7 dias, a reportagem GP começou, então, a fazer várias contatos por telefone, até chegar à viúva Valdilene de Jesus Silva, 34, dona de casa, casada há 16 anos com o falecido Altamiro Francisco da Silva, 40, com quem teve 3 filhos: Mateus, 15, Tiago, 8, e Andréia, 4. O casal é natural de um lugarejo próximo a Capelinha/MG, tendo se mudado para Bom Jesus do Pará há aproximadamente 4 anos. Confira, com absoluta exclusividade, tudo que ela disse.
“De manhã, o Altamiro não tinha chegado do serviço (ele trabalhava dia sim, dia não das 16H às 7H), na fazenda do Hélio e Donizete Couto (irmãos). Nós saímos procurando por ele, mas não o encontramos. Aí, ligamos para o celular dele e nada... Fui atrás do meu filho mais velho e contei para ele que o pai dele não tinha chegado. Pedi para ele vir embora me ajudar a procurá-lo, porque ninguém vinha me falar nada”..., relata Valdilene, abalada.
SUICÍDIO? – “Voltei para casa, mas fiquei desorientada. Aí, resolvi sair de novo e encontrei o patrão dele (Hélio) que estava chegando aqui em casa. Ele me disse que estava procurando o Altamiro desde cedo, também, e que não sabia para onde ele teria ido. Eu disse pra ele que não tinha como ir atrás dele, por causa dos meus 2 outros filhos pequenos que estavam em casa, naquele horário. Aí, ele me disse que iria achar ele e foi embora. Mais tarde, recebi um telefonema da minha tia dizendo que ele tinha se suicidado”.
ACIDENTE? – “Desesperada, liguei para um primo meu, em BH, mas ele me disse que não deveria ser suicídio e que iria procurar a verdade. Aí, ele foi para a fazenda, onde o encontrou morto, dentro do tanque de dejetos de suínos... Não fiquei sabendo de mais nada, até meus primos chegaram aqui, me chamando para ir lá ver... mas eu não consegui. Tem gente falando que o cachorro caiu no tanque de dejetos e que ele foi retirá-lo e acabou se escorregando na lona (colocada na paredes internas do tanque), caindo lá dentro... Me falaram também que ele estava morto com o celular na mão. Ele carregava mesmo o celular sempre pendurado no pescoço”...
ASSASSINATO? – “Agora, gente da minha família fica falando que essa história está mal contada, que alguém matou ele, mas eu não acredito nisso. Ele era uma pessoa muito boa que não fazia mal a ninguém... Ninguém tinha nada contra ele. Ele não tinha envolvimento com nada de errado. Era evangélico, não ia em botecos, nunca bebeu na vida, não fumava... Todo dia, quando chegava em casa, a 1ª coisa que ele fazia era aguar as verduras, as flores... Nos domingos, ficava o dia todo em casa. O Altamiro como marido e pai era gente boa, prestativo com todo mundo. Muito bom pai, adorava os filhos e não deixava faltar nada em casa... Moramos de aluguel aqui, há 3 anos e ele trabalhava nessa fazenda há 11 meses, de carteira assinada, mas a única renda da família era o salário dele”... Agora, temos de esperar a pensão dele sair. Está tudo muito difícil”...
AFOGAMENTO? – “No laudo consta que ele morreu afogado, mas não consta que havia água no pulmão dele. Estou sem entender”...
NAQUELE DIA – “Ele saiu para o trabalho (31 de outubro, 4ª feira), no mesmo horário que sempre saía, às 15H30. Ele trabalhava como ronda na fazenda Nova Esperança, no distrito de Trindade/MG. Engraçado que todos os dias ele saía correndo para trabalhar, mas nesse dia ele me pediu para fazer costelinha com arroz para ele. Eu disse que faria e que ele comeria quando chegasse, mas ele disse: Tenho hora de pegar serviço, mas não tenho hora de largar... Então, hoje eu não estou com pressa. Falei, então, para ele se sentar e comer. Ele se sentou e comeu bastante. Depois, fez sua marmita, mas ainda demorou bastante em casa. Parece até que ele não estava com vontade de ir trabalhar naquele dia. Na hora de sair, me chamou para ir com ele até lá fora com a minha filha, que sempre o acompanhava. Ele ainda tirou a carne da marmita para dar para ela. Ai, meu Deus! (suspiros). Depois, ele foi andando e olhou para trás e me disse: Fica com Deus! Parece até que ele estava adivinhando que algo iria acontecer. Nas coisas dele que eles trouxeram para casa, veio a marmita que eu tinha enchido com um restinho de arroz e um pedaço de carne que ele deveria estar trazendo para a Andréia, pois ele gostava demais dela e dos filhos”...