No Brasil, fala-se muito que não há preconceito racial e tem até data para comemorar o Dia da Consciência Negra, 20 de novembro, data em que Zumbi do Quilombo dos Palmares foi morto em combate, defendendo suas ideias e do povo negro. Isso em 1695 e esse foi o maior quilombo do Brasil, com aproximadamente 30 mil pessoas Para checar se não há realmente preconceito racial no Brasil, pelo menos em Pará de Minas, a reportagem GP conversou com o presidente do MBari, o funcionário público, Valmir José Costa Diniz, 50, e com a atleta internacional Abadia Auxiliadora Nascimento, 51. Veja, em resumo, o que eles disseram.
“O Brasil, tradicionalmente, é um país extremamente racista e, para entendermos melhor isso, temos de percorrer a história dos povos que formaram a nação brasileira, quando os escravos foram trazidos para o Brasil e subjugados a uma condição que eliminava totalmente seu alicerce cultural. Os negros não tinham direito de frequentar igrejas e escolas, sem falar na mão de obra barata para tocar as fazendas e as jazidas de mineração. Eram tidos como seres de 2ª categoria, absolutamente apoiados por algumas alas da igreja. Há também as consequências de uma abolição mal feita que simplesmente deu aos negros a liberdade sem prepará-los para enfrentar essa nova realidade. Isso fez com que o preconceito se pronunciasse em nossa sociedade de forma velada, através apenas de gestos e olhares daqueles que escondem o seu racismo. E assim, cortam oportunidades, fechando portas. Não há um negro que não tenha passado por isso, ainda mais tendo traços fortes da descendência africana”, entrega Valmir.
EMPREGO E ESCOLA - “Já superei isso e hoje tenho domínio absoluto dessa situação dentro de mim, mas já fui discriminado em filas de candidatos a emprego, no ambiente escolar, quando tive dificuldade de conseguir par para dançar quadrilha... Para aqueles que insistem em manter esse pensamento voltado para o preconceito, racismo e discriminação, envio a seguinte mensagem. O ser humano é igual em suas lamúrias, doenças, infelicidades, em crises existenciais e angústias. Aquilo que é visível na parte externa não condiz com a condição que o Criador nos legou que é o crescimento interior para nos firmarmos como seres humanos de verdade”.
OUVINTES DE RÁDIO - “Com certeza, o preconceito racial já melhorou bastante, mas ainda existe e acredito que será muito difícil de acabar, porque ele vem de geração para geração. No Brasil, ele é sutil e a gente nota, quando, passando pelas ruas, você observa algumas pessoas olhando para uma pessoa negra de forma diferente. Eu mesma já ouvi falas, tipo assim: “Aquele ali não é negro, é azul” (de tão negro)... Há quem fale pelas costas. Quando entrei para a imprensa para trabalhar em uma emissora de rádio FM, recebia vários telefonemas me dizendo: “Esse lugar não é seu. Não é pra gente preta, não”! Falavam coisas mais pejorativas ainda que me machucavam muito, mas eu me calava e continuava o programa com alegria, porque os meus ouvintes não poderiam sentir a tristeza que estava no meu íntimo”.
PRECONCEITO ENTRE NEGROS - “Um outro preconceito, aconteceu comigo, quando eu era criança, morava em Perdigão/MG, e tive uma doença chamada Vitiligo, essa doença que o cantor Michael Jackson também teve. Lembro-me que as pessoas falavam: “Ela não gosta de ser negra, por isso (arrumou essa doença) para se tornar branca”. Era uma coisa horrível e esses preconceitos me abateram... Na hora, você até chora, mas eu consegui superar. Infelizmente, ainda hoje, há pais que não deixam seus filhos namoram com uma pessoa negra. Mas também há negros que não namora negros, porque há negro que também é preconceituoso... Nos jogos que eu participo, vejo olhares diferentes de pessoas superiores sobre mim, mas hoje, para mim, tanto faz, porque Deus é justo e, querendo ou não, eu hoje faço parte da história de Pará de Minas, sendo campeã do mundo de Luta de Braço, com muito orgulho”.