A homossexualidade recebe versões variadas das religiões. Não há consenso e isso já dura séculos. De um tempo pra cá, a mídia nacional tem dedicado um bom espaço à discussão de uma coisa chamada Cura Gay. A reportagem GP, após entrevistar um jovem homossexual, ouviu também opiniões de religiosos variados da cidade sobre a possibilidade de existir cura para os gays. O resultado você confere lendo esta oportuna matéria.
NÃO HÁ EX-GAY – “As religiões, em geral, ainda são preconceituosas, apesar de que algumas já aceitarem a nossa opção. Acontece, como a própria igreja diz, todos somos filhos de Deus, e merecemos igualdade. Tem muita gente hoje no mundo que já aceita e essa atitude os faz crescer na vida. Eu perdi o costume de ir à igreja, mais por causa do meu trabalho como garçom, pois trabalho à noite e durmo de manhã. Entretanto, quando eu ainda frequentava, cheguei a sofrer preconceito, quando um pai pediu ao filho, que estava do meu lado, para mudar de lugar. Para mim, não existe Cura Gay, do mesmo jeito que não existe ex-gay. Cada um nasce do seu jeito e deve ser aceito do jeito que é. Portanto, não existe cura por você ser você mesmo. Existe gente por aí que não se aceita e fica com mulher, apesar de gostar de homem. Eu acredito que Deus me aceita, pois Ele deu a cada um o direito de escolher seu próprio caminho”, acredita o homossexual Lucas de Lima, 18, garçon.
ATÉ CASARAM – “A igreja vê o homossexualismo, assim como está escrito nos textos da bíblia. Ou seja, todos que vivem na prática do homossexualismo estão na prática do pecado. Se você for mais a fundo e ler os livros de Romanos I, encontrará a seguinte citação: Deus condena a prática homossexual, como também quem vive na prática de prostituição, adultério e outros mais. Em Corintos, existe uma citação de que alguns cristãos tiveram em seu passado certo estilo de vida desaprovado por Deus. No entanto, todos podem ser totalmente lavados do pecado e aceitos perante Deus. Assim sendo, o homossexual que arrepender de seus pecados terá o perdão. Como líderes espirituais, nosso dever é pregar a palavra como ela é, não separamos as pessoas pelas suas diferenças; amamos todos da mesma forma, assim como Jesus nos ensinou. Conheço muitos homossexuais e respeito a todos. Existem alguns que frequentam não só a nossa igreja como várias outras e vemos essas pessoas sendo transformadas, deixando essa prática e tendo uma vida diante do Senhor. Existem aqueles que são casados e têm filhos hoje, mas, antes, tinham essa prática e, hoje, deixaram de ter, mas tudo vai depender do que você decidir, da sua escolha. Deus ama a todos e nos criou livres para escolher. Eu não tenho preconceito e acredito que a pessoa pode deixar de ser homossexual. Todas as igrejas evangélicas aceitam o homossexual. Afinal, amar o pecador não significa que amamos a prática do pecado. Eu posso amar uma pessoa que roubou, mas posso não concordar com a atitude dela. A nossa igreja está de braços abertos a todos”, prega a pastora e teóloga Elizabeth Cássia Stein, não forneceu idade, da Igreja Batista da Lagoinha.
AS PESSOAS MUDAM - “Existem alguns aspectos que se confundem no caso de aceitação. Existe uma diferença entre aceitar o homossexualismo e aceitar o homossexual. É diferente aceitar a pessoa que erra e o que ela faz de errado. Falo pela nossa igreja e pelo meu jeito de ser que o homossexual é bem-vindo. Aqui, tanto faz se é prostituta ou viciado, porque a igreja está aberta a todos. Mas a prática do homossexualismo nós vemos como uma afronta a Deus, como um pecado. Desde Gênesis, quando Deus criou o homem, diz-se assim: “Criou Deus o homem macho e a fêmea”. Ou seja, existe o homem e a mulher; não existe meio termo. A bíblia adverte que isso aconteceria como uma forma de castigo pelo pecado em que o povo vivia. No entanto, nós respeitamos as escolhas de cada um. Paulo diz “tudo me é lícito fazer, mas algumas delas não me convém, pois não me edificam diante de Deus”. Cada um faz o que acha que deve fazer e nós respeitamos e as amamos, mesmo assim. No entanto, é errado ser ladrão e tem muita gente roubando, pois, independentemente de ser errado ou não, as pessoas fazem. E o homossexualismo é um pecado. Existe uma pessoa ex-gay sim, assim como existe uma ex-prostituta, um ex-ladrão ou uma mulher ex-honrada e um ex-honesto. As pessoas mudam. Conheço muitos que tomaram a decisão de não viver mais dessa forma, assim como conheço pais de família que optaram por ser homossexuais. Mas não acho que existe cura. Acho que existe mudança de vida. Além disso, não vejo o homossexualismo como uma enfermidade, mas como uma decisão, uma atitude de vida. Deus vê o homossexual como alguém que Ele ama, alguém que Ele quer muito salvar e que tem a possibilidade de, um dia, aceitar Jesus como o seu Salvador, assim como qualquer pecador que deseja aceitar a palavra de Deus”, esclarece o pastor Luís Paulo Marques, 57, da igreja Evangélica Quadrangular.
ISSO É COM A CIÊNCIA – “A Igreja Católica compreende, antes de mais nada, a dignidade de todo ser humano. O respeito é fundamental com as pessoas com quem convivemos. Como as palavras são sobre as pessoas homossexuais, um tema que ainda gera muitas polêmicas, maior deve ser a sinceridade e a humanidade nas palavras. Afinal, o coração do outro é Terra Sagrada. Lembramos que, do ponto de vista cultural filosófico, os valores mudam com o tempo e lugar. Cada pessoa, grupo ou povo constroem seus valores, aquilo que dará sentido às suas vidas. Mesmo na história das religiões isso é visível. Cremos que todas as pessoas são vistas igualmente por Deus. Aliás, num tempo profundamente desigual, o Cristianismo coloca o ser humano em condição de igualdade. Essa foi uma das práxis libertadoras de Jesus Cristo. Deus nos ama, educa, corrige, incentiva e, quando erramos ou pecamos, é misericordioso. Agora, se o homossexualismo é doença ou não, tal resposta não cabe à Igreja e sim à ciência. A igreja também respeito aqueles que se vêem como homossexuais. O que a Igreja orienta é que não pratiquem a homossexualidade. Claro que alguns seguem tal orientação e outros não. Isso depende da consciência de dever ou não seguir tal norma, contida na Bíblia e na Doutrina Eclesiástica. Sobre a expressão usada atualmente - ex-gay - acreditamos que a pessoa pode viver ou não a homossexualidade. Se isso será algo não mais vivido será opção da pessoa, mesmo que já tenha tido um relacionamento, curto ou longo, com alguém. Por fim, desejamos que todos possam experimentar o mesmo amor que vem de Deus, por Cristo, na ação do Espírito Santo”, explana Padre Célio Antunes, 35 anos, da Igreja Católica.