O incesto é um tema que repercute em todos os segmentos da sociedade - social, moral e religioso e provoca várias opiniões por ser assombroso. Para compreender melhor a mente de uma pessoa que pratica o incesto, a reportagem GP conversou com o psicólogo Leone Mauro Mesquita, 53. Saiba mais.
“No início do Século XX, foi feita uma pesquisa, quando o incesto foi considerado como um tabu em todas as civilizações do universo. Elas foram chegando à conclusão que a relação sexual entre parentes levava a algum dano físico, tanto é que se tornou algo religioso, social e cultural. Não se sabe porque isso se tornou um tabu e não quer dizer que, por ser um tabu, ele não aconteça. A questão da sexualidade e da perversão humana permite que a pessoa ultrapasse as regras e pratique o incesto. Se você observar, nos animais isso acontece. Então, alguma regra teve de existir para que isso não acontecesse. Dentro do desejo sexual, essa prática seria possível, mas, ao descobrir que ela traz algo negativo para a raça humana, criaram-se regras para que essa conduta não acontecesse mais. Passou, então, a ser vista como erro, pecado e uma série de outras coisas. Enfim, a natureza tem uma conduta, mas a civilização tem regras e leis,” expõe Leone.
EXISTE SIM - “Em vários lugares do mundo isso acontece, mas em nenhum lugar é considerado como algo normal. No Brasil, em alguns pontos do nordeste, isso acontece com frequência, mas a prática do incesto não é vista como liberdade sexual, mas sim como perversão que não escolhe grau social. Ela acontece no inconsciente de cada um. Portanto, é mais usual que esse fato aconteça em locais onde a lei é menos aplicada, bem como em locais mais isolados, onde a necessidade sexual acaba gerando a sua prática” (ainda que indevida).
PERVERSÃO? – “Se você nasce em uma família, onde o incesto é praticado, como irei considerar você? Como um perverso? Ou como alguém que pratica o incesto como coisa normal? Vai depender de cada situação. Cada caso tem que ser avaliado de uma forma. Na maioria dos casos que eu trabalhei, são pais com filhos ou filhas. Portanto, abuso do poder paterno. Mas também recebi em meu consultório casos de irmão com irmã, quando eles eram bem jovens. Depois de uma certa idade, eles deixaram de praticar. Nesse caso, o desejo foi maior que o conhecimento e, a partir do momento em que eles se conscientizaram do ato, deixaram a prática, mas eles, ainda hoje, carregam a culpa do que fizeram”.
CULPA E DOR – “O praticante do incesto fica sempre escondidinho, porque, muitas vezes, não delata o fato. Muitas vezes, a pessoa que sofreu o ato vem ao consultório e somente, anos depois, chega a relatar sobre aquilo. É uma pratica comum, mas as pessoas não contam para ninguém. É uma ferida muito grande, enorme e, quando (os abusados) contam, falam desesperados, chorando muito. Quando acabam de contar, sentem alívio. Não que esteja resolvido, mas só de compartilhar com alguém já é um grande alívio”.