O palhaço é um profissional que sempre leva crianças e adultos a darem boas gargalhadas, apesar de passar por muitas dificuldades e falta de reconhecimento, principalmente no Brasil. Para falar um pouco sobre a sua vida, a reportagem GP conversou com o único palhaço patafufo vivo, Rogério Galvão de Faria, 57. Ele falou das alegrias e tristezas de seu personagem, o palhaço Pururuca. Fique por dentro.
“Minha vida como palhaço teve início em 1975 e nunca mais parei; cerca de 38 anos com o personagem Pururuca. Não é fácil ser palhaço e conseguir tirar o sorriso de uma criança ou de um adulto, coisa bem difícil nos dias atuais. Mas não existe nada no mundo que pague uma gargalhada. Posso estar triste ou magoado, mas quando passo a maquiagem e visto a roupa colorida acaba toda a tristeza. Porém, assim que retiro a maquiagem, tudo volta ao que era. Todo palhaço tem um pouco de tristeza, no fundo do coração”, confessa Rogério.
MUDANÇA DE COMPORTAMENTO - “Há alguns anos, participei de um circo, onde um palhaço me disse: Esqueça tudo lá fora. Havia somente 10 pessoas na plateia e ele me disse que se tivesse uma única pessoa, iríamos entrar, do mesmo jeito. O palhaço, hoje, infelizmente tem pouca valorização, mas não é fácil animar uma festa de criança, por exemplo. Eu já perdi a vontade de fazer festas infantis, porque, de repente, as apresentações começaram a cair sem motivo. Talvez seja porque a criança de hoje tem seus gostos mais voltados para a internet. Perdeu-se a magia do palhaço. Hoje, em um aniversário, a criança prefere uma discoteca... É assim mesmo, o mundo tem de evoluir. Mas não deixo de fazer apresentações. Luto, diariamente, para manter a tradição do palhaço”.
PALHAÇOS SEM MAQUIAGEM – “O Brasil tem vários artistas bons. Um exemplo de destaque é Marcos Casuo, um dos 1ºs brasileiros a trabalhar Cirque du Soleil, durante 8 anos. Hoje, ele tem o Universo Casuo, sua própria companhia. Ele já se apresentou em Pará de Minas, há algum tempo (no Empresário do Ano). Ele fala que na Europa o artista circense tem mais valor. Quando falamos de palhaço também devemos lembrar do ator cômico, que é um palhaço que não utiliza maquiagem como Didi, Dedé Santana, Tom Cavalcanti, entre outros. Aqui na cidade posso citar um nome de grande destaque que é o Rony Morais, um cara que está lutando em favor da cultura. Ele é um ator versátil e de grande valor. Já recebi muitos convites para ir embora com circos - isso nunca me faltou – mas decide permanecer aqui”.
DIFICULDADES – “Muitos circos estão fechando no Brasil por falta de apoio. Os governos em geral poderiam valorizar mais o circo brasileiro, porque os preços para alugar terrenos estão exorbitantes, chegando a 40 mil reais para uma temporada de até 30 dias. Mas se você cobrar um ingresso de 30 reais, o pessoal acha caro, apesar de que, quando aparece um circo internacional, as pessoas pagam até 500 reais. Há também as questões burocráticas como a aprovação dos alvarás. Cada cidade que você visita tem um alvará novo para pagar, pois ele não é valido de uma cidade para a outra, gerando mais custo. Acho que cada município deveria ter uma área especifica para a instalação do circo”.
PALHAÇO BENJAMIN – “Sempre briguei por uma homenagem para o palhaço Benjamin de Oliveira, porque Pará de Minas nunca fez. Quando você visita o Rio de Janeiro ou São Paulo e pergunta para alguém de teatro, todo mundo conhece a história dele. Quando se falou em fazer uma estátua dele aqui não teve o apoio da cidade. Aí, o o pessoal do Rio, local onde seu neto reside, sabendo dessa estátua, queria levá-la para lá. Ainda bem que Pará de Minas reconheceu o que Benjamin representou na sua época como o 1º Palhaço Negro do Brasil e colocou sua estátua na entrada o Parque do Bariri”.
UM SONHO - “Tenho muito apoio na cidade, não posso queixar. Partilhei de infâncias de várias crianças que hoje são médicos, dentistas, entre outros. Enquanto eu tiver saúde e vida, irei partilhar mais alegrias! Na comemoração dos meus 40 anos de personagem, daqui a 2 anos, quero fazer uma grande festa com um enorme circo lá fora. No Rio, São Paulo e Bahia muitos conhecem o palhaço Pururuca e isso é um reconhecimento para mim”.
ÚLTIMO DESEJO – “Já pensei em parar... Por outro lado, sempre falo que meu desejo, quando eu for partir, é morrer no picadeiro. Isso já aconteceu com um colega meu que faleceu fazendo uma de suas apresentações. Se eu morresse em cima do picadeiro, seria gratificante, apesar que, falando assim, deve parecer muito estranho para as pessoas (riso)”.