A bióloga Ana Paula Maciel, 32 anos, ainda sente os reflexos da fama que ganhou depois ficar presa na Rússia por cerca de dois meses. Ela foi detida com outros ativistas durante um protesto no Ártico. Na casa onde mora há mais de 10 anos, na Zona Sul de Porto Alegre, a ambientalista contou ao G1 que foi procurada por partidos políticos, revelou que pretende escrever um livro e tratou com naturalidade a possibilidade de posar nua.O novo projeto de Ana Paula, de usar parte do cachê de um possível ensaio nu para financiar um santuário para animais selvagens, ainda depende da repercussão de sua foto em uma revista masculina. Por enquanto, conta que só posou de biquíni e que as imagens serão publicadas em março. O ensaio foi realizado no último domingo (16), em Maringá, no Paraná.
“Qual é o problema?”, indaga, diante da pergunta sobre como se sentiu ao ser clicada. “Todo mundo usa biquíni, todos ficam sem roupas. Todo mundo sabe como vem ao mundo”, diz.
Ainda na Rússia, Ana Paula recebeu e-mails com um “rumor” que poderia posar nua na revista Playboy. A decisão foi tomada de maneira súbita, sem nenhuma dúvida. Amigos, familiares e principalmente o namorado, que mora no México, só deram incentivo. Do Greenpeace só recebeu a orientação de deixar claro que se tratava de um projeto pessoal e não da organização.
“Era para sair em fevereiro, só não fiz antes a foto porque a agenda estava cheia”, afirma a ativista, com uma agenda lotada de palestras e entrevistas, que vêm tomando seu tempo desde que voltou ao Brasil. Sentada em um banco na praça em frente ao condomínio onde mora, ela respondia às perguntas mexendo sem parar no chaveiro com imagens de tartarugas.Desde que revelou sua intenção, tem acompanhado a repercussão em sua página pessoal no Facebook e em comentários de matérias publicadas. As mensagens, garante, são de apoio. "Uma pessoa postou: 'ainda bem que ela não entrou em nenhum partido'. Tive propostas de três partidos e recusei, pois é um sistema endemicamente corrupto", conta, acrescentando que não revelará quais a procuraram. "Mas o ensaio é um trabalho honesto, usando o meu corpo. O que tem de errado?", questiona.
A notoriedade que ganhou após ser presa na Rússia mudou a vida da ativista. Segundo ela, para melhor. “Depois da tempestade sempre vem a bonança. E é isso o que vou aproveitar”, diz. "Vou continuar mantendo a minha imagem, posando ou não. E vamos alcançar públicos que antes não poderíamos", projeta.Ana Paula já participou de dois eventos em universidades gaúchas. Abriu o ano letivo do curso de biologia em aula magna na Universidade Luterana do Brasil (Ulbra) e foi a um debate sobre gestão ambiental com alunos da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), no Sul do estado. “Mais para frente terei palestras em outras universidades, já está marcado”, garante, acrescentando que conseguiu passar apenas "um par de finais de semana" na praia.
Boa parte do espaço da agenda está destinada à imprensa. Somente nesta quarta-feira (19), enquanto falava ao G1, lamentava não poder assistir a uma participação sua em uma rede de televisão e avisava que logo teria de sair para outro compromisso.
Apesar da agenda apertada, não pretende mudar a rotina nem deixar de defender as causas que defende. "Faz 10 anos que eu trabalho nesta causa, não busquei a fama. Aconteceu de uma maneira independente. Estava presa, fui ficando famosa e nem sabia. A projeção que ganhei só vai ajudar um maior número de pessoas", afirma.Além de entrevistas, a gaúcha também prepara um livro com memórias de sua atuação do Greenpeace e histórias do cárcere na Rússia. A ativista não descarta que o “desrespeito aos direitos humanos” que será revelado na obra possa causar repercussão internacional e conta que ONGs russas aguardam as novidades para poder tomar medidas a respeito. “Mas é a vida. Aconteceu, não estarei inventando nada”, avisa.A publicação só sairá depois que o navio Arctic Sunrise, que segue em poder do governo russo, for liberado. Ela espera que o livro seja publicado no mês que vem.
Em meio a este turbilhão de mudanças, Ana Paula sente saudades do namorado, que vive no México. Acostumada a vê-lo pelo menos a cada dois meses, ela já está há meio ano longe do amado. “A saudade está batendo”, afirma.
Apesar de ainda não precisar quando poderá encontrar o namorado cujo nome se nega a revelar, ela se empolga com o plano de que ele passe a viver com ela no Brasil. “Espero que, na próxima vez em que nos vermos, seja para ficarmos juntos definitivamente”, diz.
Greenpeace emitiu nota
O Greenpeace se manifestou nesta quarta-feira (19), afirmando que o projeto de Ana Paula não tem participação da organização ambiental. Em nota enviada ao G1, a ONG afirma que não participou das negociações com a revista masculina, mas afirma que a gaúcha é "livre para tomar suas próprias decisões".
“A posição do Greenpeace é que Ana Paula é livre para tomar suas próprias decisões em tudo o que se refere à vida particular e a seu corpo", diz o comunicado. “Independente de sua decisão pessoal, reafirmamos nossa admiração pela dedicação que ela sempre demonstrou pelas causas ambientais – que inclui anos de trabalho distante de casa pelo desejo de defender o meio ambiente”, acrescenta a nota.
Fonte: G1