A justiça var retomar na manhã desta quarta-feira (9) as audiências sobre o caso Amarildo, mostrou o Bom Dia Rio, com depoimentos de acusados que respondem pelo desaparecimento do ajudante de pedreiro, em 2013. Na quarta-feira (2), foram ouvidas as últimas cinco testemunhas de defesa e teve início o depoimento dos acusados.
O major Edson Santos, ex-comandante da Upp da Rocinha, o tenente Luiz Felipe de Medeiros e o soldado Douglas Vital foram os três primeiros a serem interrogados. Ao todo, 25 pessoas respondem pelo desaparecimento do ajudante de pedreiro Amarildo de Souza, no dia 14 de julho de 2013, na Rocinha, na Zona Sul. Eles são acusados de tortura, ocultação de cadáver, fraude processual e formação de quadrilha; 12 já estão presos e 13 respondem em liberdade
'Liberei o Amarildo', diz major Edson
O major Edson Santos, um dos 25 PMs acusados de torturar e desaparecer com o ajudante de pedreiro Amarildo de Souza negou ter cometido os crimes em audiência realizada no Tribunal de Justiça, nesta quarta-feira (2). Os réus começaram a ser ouvidos nesta sessão, a quinta desde o início do julgamento, após testemunhas de defesa e acusação prestarem depoimento.
Na audiência, o major afirmou que nenhum fato da denúncia do Ministério Público é verdadeiro e que durante os depoimentos na Divisão de Homicídios (DH), ele e outros policiais se sentiram pressionados. Edson Santos contradisse ainda o depoimento de um dos soldados, que afirmou ter escutado gritos vindos de dentro do contêiner da UPP Rocinha, onde Amarildo supostamente foi torturado.
"O depoimento do soldado Alan Jardim é mentira do começo ao fim. Eu estava no contêiner e não ouvi absolutamente nada. Eu liberei o Amarildo. Nunca dei ordem a ninguém para que ficasse no contêiner", disse ele.
A audiência foi suspensa por volta das 21h30. Outros dois réus devem ser ouvidos ainda nesta quarta.
Na sessão passada, na quarta-feira (26), oito testemunhas foram ouvidas, sendo cinco policiais que estavam de serviço na UPP Rocinha em 14 de julho, dia em que Amarildo desapareceu. O delegado Ruchester Marreiros foi o primeiro a depôr e detalhou as investigações sobre a operação Paz Armada e o desaparecimento do ajudante de pedreiro. Ele afirmou que não participou das investigações do sumiço de Amarildo.
O segundo depoimento foi da inspetora Alessandra, da Divisão de Homicídios, que investigou o caso e participou dos depoimentos dos policiais. Segundo a Alessandra, que falou por 50 minutos, os policiais do setor administrativo da UPP atrapalharam as investigações. A policial disse que os PMs utilizavam um "código de silêncio".
A defesa questionou sobre o depoimento do major Edson e de outros policiais. Alessandra confirmou que ele e outros policiais prestaram depoimento sem a presença de advogados, mas outros nem sabiam da presença da defesa no local. "Teve um policial [Belmiro] que estava prestando depoimento e tinha um advogado na sala, mas em determinado momento ele perguntou: 'Quem é essa pessoa?'
Terceira audiência
Na sessão realizada no dia 19, um morador da favela afirmou que também teve o irmão torturado por policiais da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) em abril de 2013. Na época, a equipe era chefiada pelo tenente Medeiros, um dos réus no processo.
Segundo ele, a tortura teria acontecido porque os PMs estariam em busca de informações sobre armas e drogas na comunidade e teriam confundido a vítima com um traficante. Além disso, o morador contou ter presenciado torturas cometidas contra outros moradores. Ele também disse que o réu, soldado Vital, seria o responsável pelas torturas.
O morador, que é membro de uma associação na comunidade, disse ainda que o major Edson, réu no processo e ex-comandante da UPP, o teria ameaçado duas vezes na comunidade depois que ele se revoltou com o fato de o oficial proibir a realização de eventos culturais na Rocinha.
No início de fevereiro, a Justiça declarou a morte presumida de Amarildo. Ele desapareceu em 14 de julho do ano passado, depois de ter sido levado por policiais militares para ser interrogado na sede da UPP da Rocinha.
Relembre o caso
Amarildo sumiu após ser levado por policiais militares para ser interrogado na sede da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) durante a "Operação Paz Armada", de combate ao tráfico na comunidade, entre os dias 13 e 14 de julho de 2013.
Na UPP, teria passado por uma averiguação. Após esse processo, segundo a versão dos PMs que estavam com Amarildo, eles ainda passaram por vários pontos da cidade do Rio antes de voltar à sede da Unidade de Polícia Pacificadora, onde as câmeras de segurança mostram as últimas imagens de Amarildo, que, segundo os policiais, teria deixado o local sozinho — fato não registrado pelas câmeras.
Após depoimentos, foram identificados quatro policiais militares que participaram ativamente da sessão de tortura a que Amarildo teria sido submetido ao lado do contêiner da UPP da Rocinha. Segundo informou o Ministério Público, testemunhas contaram à policia sobre a participação desses PMs no crime. Após seis meses de buscas pelo corpo do pedreiro, a Justiça decretou a morte presumida de Amarildo.
A morte presumida substitui o atestado de óbito, que só pode ser emitido quando há o corpo — o cadáver de Amarildo nunca foi encontrado —, e permite à família receber pensão ou indenização, entre outras funções. Na primeira instância, a ação declaratória havia sido julgada improcedente.
Fonte: G1