Na manhã da última 2ª feira, 19, Sandra Maria Evangelista, 46, dona de casa, moradora do Residencial das Seringueiras, esteve na sede da GAZETA para dizer que, ao procurar o Hospital Nossa Senhora da Conceição, foi negado o devido tratamento para sua filha, Vivane Kéron Sena, 29, deficiente mental. Não deixe de ler.
“Tenho uma filha que é tem um retardamento mental grave. Ela é inteligente, mas é como um bebê: não tem noção do perigo, além de ser muito agitada também. Hoje, pela manhã, estive no Hospital Nossa Senhora da Conceição, pela 2ª vez, para fazer um exame agendado de endoscopia. Porém, o médico e diretor técnico do hospital, Francisco Chicata, disse que só iria fazer o exame se ela fosse sedada, através de medicamentos. Ou seja, não faria com ela desacordada, sob efeito de anestesia. Mas no próprio pedido de exame está escrito que já foi tentado fazer esse exame com sedação e que não houve efeito; pedia ainda para averiguar a necessidade de anestesia para a realização do exame. Mesmo assim, ele insistiu, dizendo que o hospital não tem condições para isso”, desabafa Sandra.
VÔMITOS DEMAIS - Porém, como ela tem necessidades especiais, não tem como fazer um exame tão exaustivo assim, sem ser com ela desacordada. E eu preciso desse exame para saber: * o porquê dessas dores que ela vem sentindo; * e o porquê dela vomitar tanto. Ela nem pode mais ir à escola, nem na Apae, porque ela vomita muito, inclusive nas pessoas. Não pode, sequer, andar de ônibus, porque vomita no chão, espirrando nas pessoas que estão próximas”.
MENTIRA? – “A única solução que esse médico me deu foi encaminhá-la para Belo Horizonte, alegando que o hospital não tem condições para fazer tal procedimento. Mas eu sei que isso não é verdade, porque pessoas de dentro do hospital me disseram que ali eles são capazes de fazer esse exame sim. Me disseram também que ele é mentiroso e que não deveria estar à frente do hospital (...). Temos tantos jovens médicos brasileiros no país, para que precisamos de um estrangeiro (o médico é natural do Peru) para estar à frente do nosso hospital? (...). Gostaria, inclusive, dizer que eu amo ele, como meu semelhante, mas que ele não pode continuar no hospital sem ter capacidade para lidar com uma situação como essa”.
O OUTRO LADO - Como não poderia deixar de ser, a reportagem GP, como sempre faz, procurou o diretor técnico do hospital, médico Francisco Chicata para que ele tivesse o seu direito sagrado de resposta. Veja na íntegra a resposta que ele preferiu enviar por escrito.
“Tendo em vista a solicitação de Vossa Senhoria, em resposta à reclamação da senhora Sandra Maria Evangelista, com relação a não realização do exame de endoscopia digestiva alta em sua filha Vivane que ela diz ser deficiente mental, ter um retardamento mental grave e ser muito agitada. Como a senhora Sandra mesmo já disse, foi tentado, em outra oportunidade, com sedação e que não foi possível a realização do exame. A endoscopia digestiva é um exame muito delicado que requer sedação para ser feito em pessoas normais e, em alguns casos, como o da Vivane, que é especial, tem que ser feita com anestesia geral, pois os riscos existem; riscos até de perfurações de órgãos, colocando-a em risco de morte. Portanto, não é um exame muito simples e nossa função é ajudar as pessoas e não complicar mais ainda. Isso é feito em alguns hospitais, dentro do Bloco Cirúrgico, mas o nosso serviço de endoscopia é realizado fora do bloco”, explica Chicata.
MAU CARÁTER – “As pessoas que a orientaram a fazer essa reclamação devem ser muito esclarecidas, mas, provavelmente, precisam aprender um pouco mais sobre exames complementares e principalmente endoscopia digestiva. São pessoas de mau caráter que aproveitaram da inocência e da falta de maldade dessa senhora para falar o que não têm coragem de me dizer pessoalmente. Sei que o meu sucesso incomoda muita gente. Sou natural do Peru, (nisso, pelo menos acertaram), naturalizado brasileiro há mais de 25 anos e moro no Brasil, há 38 anos. Fiz medicina na Faculdade de Ciências de Minas Gerais, sou ginecologista/obstetra, não faço endoscopia digestiva, não sou responsável por esse caso, mas faço questão de esclarecer, pois sou diretor técnico deste hospital e responsável por todo o funcionamento desta instituição, há 2 anos. Portanto, como essa senhora pode ver, não cheguei aqui com o Programa Mais Médicos; trabalho há mais de 27 anos neste hospital que considero a minha 2ª casa. Fiz muitas mudanças aqui, visando a melhoria do atendimento da população e a segurança para que os profissionais médicos possam trabalhar e essas mudanças atingirão muita gente que estava acostumada a trabalhar da forma que queria. Hoje, existem normas e elas têm que ser seguidas”.
LIÇÃO – “Quanto a me chamar de mentiroso, não vou fazer comentários, pois, como já vimos, essa senhora não sabe quem eu sou. Reclamar é um direito que todos nós temos, mais gostaria de pedir a população que antes de fazer uma reclamação que se informem bem do caso, do nome correto do profissional, pedir o nome da pessoa que está dando as informações para que possamos evitar demandas jurídicas”.