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Peruca 'devolve cabelos' e sorrisos para criança com câncer em MG - 23/06/2014

“Ela não para de passar as mãos nos cabelos e admirar os fios sedosos e brilhantes”. Essa foi a frase usada pela professora Larissa Maciel Gonçalves Silva, de 39 anos, ao falar da alegria da filha ao receber a peruca. Ela foi a primeira paciente infantil que teve uma unidade do tipo confeccionada pelo Hospital do Câncer de Uberlândia. O local tem um Banco de Perucas, que tem a produção feita por meio de doações de cabelos de pessoas de todo Brasil. A pequena Lowise Maciel Cândido Silva, de 10 anos, está em tratamento no hospital contra um sarcoma localizado no couro cabeludo e perdeu as madeixas logo na primeira sessão de quimioterapia. Ao G1, a mãe da menina contou como foi o início da doença até a decisão de adquirir "novos cabelos". Em maio de 2013, a Lowise bateu a cabeça e isto fez com que um “galo” se formasse, segundo a mãe. O ferimento foi crescendo e em menos de quatro meses a família já tinha passado por mais de cinco médicos das mais diversas especialidades e todos disseram que ele sumiria com o tempo, mas isso não aconteceu. A criança chegou até a fazer uma cirurgia para a retirada do hematoma.Após o procedimento, Larissa relembrou que foi feita uma biopsia e o resultado apontou Sarcoma de Ewing, forma de tumor ósseo maligno (câncer nos ossos) que atinge principalmente crianças e adolescentes. “Para Lowise eu disse que o ‘galo’ era na verdade um tumor. Eu fiquei com medo da reação dela quando os fios começassem a cair e até cortei os meus cabelos como forma de mostrar que o diferente também é aceitável”, disse. A família relatou que Lowise foi sempre muito vaidosa. Ela que sempre gostou de bonecas e de tudo que leva a cor rosa teve que se adaptar e aceitar a “trocar” os corredores de casa pelos do hospital. “Conversamos muito e antes do segundo ciclo do tratamento, durante o banho, enquanto ela penteava os cabelos, os fios acabaram ficando todos no pente. Quando eu vi minha filha carequinha, senti uma facada no peito e pensei ‘agora é verdade’”, comentou Larissa.A mãe da pequena disse que no início do tratamento, em meados de novembro do ano passado, Lowise até aceitou bem a situação. Quando se olhou pela primeira vez no espelho, já sem cabelos, fez um comentário que encheu os olhos da mãe de lágrimas – “até que fiquei bem bonita careca”.​ Mas, com o tempo, os olhares das pessoas começaram a incomodá-la e foi quando a garota pediu uma peruca à mãe. “Eu fiquei com receio e ficava me questionando sobre peruca para criança. Levei Lowise a uma loja especializada na cidade para que ela visse e sentisse o que era realmente uma peruca, para ter certeza se estava consciente de seu pedido. A atendente da loja deixou minha filha trazer uma peruca sintética para casa, mas ela não se adaptou, dizendo que era quente e pinicava muito”, afirmou. Antes de devolver o produto, Lowise tirou uma foto “com o cabelo” e postou em uma rede social. Esta atitude acabou sensibilizando uma vizinha da família, Carolina Barbosa, que acabou doando o cabelo dela para que a menina pudesse ter o seu. Em entrevista para o site do hospital, a doadora, que tinha as madeixas na cintura, frisou que não se arrependeu em cortar os cabelos e ressaltou que está disposta a fazer o que estiver ao alcance dela para ajudar de alguma forma na recuperação da menina.Além das madeixas de Carolina, foram necessário mais fios para confeccionar a peruca. Os cabelos que faltavam foram disponibilizados pelo Banco de Perucas do Hospital, que recebe milhares de doadores de todo o Brasil. “O hospital providenciou tudo e devolveu um sorriso largo e gostoso, que há tempos não se via no rostinho de Lowise. Não tivemos nenhum gasto e a peruca ficou linda como a minha filha merece”, ressaltou a mãe da pequena. Larissa revelou que, ao receber a peruca, a filha fez um último pedido. “Ela disse que queria ter os cabelos cacheados pelo menos uma vez na vida e o pedido dela foi atendido. A felicidade dela era visível e não teve como não me emocionar”, afirmou. A mãe disse ainda que a peruca mostrou à Lowise que existe uma solução e uma opção para tudo e que nada pode nos tirar o desejo de viver e vencer. A peruca, segundo Larissa, é mais uma opção para a filha que pode usar boinas, lenços, chapéus ou simplesmente não utilizar nada na cabeça. Lowise também conversou com a reportagem e contou que quis a peruca, pois tinha muita vontade de ter cabelo de novo e principalmente para que deixasse de ser vista como olhares de estranheza. “As pessoas me perguntavam por que eu não tinha cabelo e me rotulavam como diferente. Eu não sou diferente, só estou fazendo um tratamento para minha saúde. Eu sei que meu cabelo um dia vai nascer de novo, mas enquanto isso não acontece, eu ganhei novos fios. Já estava me esquecendo como era bom ter cabelo", disse animada.Sobre o tratamento da filha, Larissa afirmou que notou evolução e acredita que a pior fase já passou. “Ao todo são 14 ciclos de dois e três dias de quimioterapia, agora está faltando apenas quatro. Lowise ainda fez 28 sessões de radioterapia no couro cabeludo e considero minha filha uma grande guerreira”, concluiu. Primeira peruca infantil A primeira peruca infantil do Hospital do Câncer em Uberlândia foi produzida para Lowise Maciel Cândido Silva. Devido a ação, a pequena ganhou novos cabelos e realizou o sonho de voltar a fazer penteados e enfeitar os fios com presilhas. A voluntária do Hospital de Clínicas da Universidade Federal de Uberlândia (HC-UFU), Heliana Machado de Assis, trabalha na administração do Banco de Perucas e disse que o serviço já existe há aproximadamente dois anos. Nesse período, segundo ela, cerca de 85 unidades já foram produzidas utilizando doações de cabelos de pessoas do Brasil todo. Sobre a primeira peruca infantil entregue pela unidade, Heliana confessou que ficou emocionada. “Foi indescritível ver a felicidade de Lowise. Um momento único e que possibilitou o resgate de auto-estima e alegria. Isso não tem preço”, contou.Heliana ressaltou que o trabalho das perucas é gratificante e auxilia inclusive na recuperação do paciente. ”A maioria das pessoas não tem condição de adquirir uma peruca, pois é um produto caro, com custo variável em função do tamanho, modelo e técnica de confecção. As estilo ‘chanel’, por exemplo, podem ultrapassar R$ 1 mil. Antes, todo o custo ficava por conta da voluntária Miriam Denezini, que produzia os novos cabelos. A partir de agora, todas as despesas correm por conta do hospital”, salientou. Geralmente, segundo Heliana, é gasto aproximadamente 300 gramas de cabelo para produzir uma peruca de 120 gramas, em função das perdas com a tecelagem. Ela ainda disse que atualmente o hospital conta com o banco de perucas para empréstimo, sem custo algum para o paciente durante o tratamento. Doações Os pacientes em tratamento de câncer em Uberlândia contam com a campanha que está mobilizando pessoas a doarem os cabelos. A iniciativa tem ajudado na auto-estima e na recuperação de quem enfrenta a doença. A entrega dos fios pode ser feita pelos correios ou pessoalmente, na recepção do hospital, localizado na Avenida Amazonas, s/n , bloco 4A, no Campus Umuarama/UFU. Mais informações podem ser obtidas no Hospital do Câncer de Uberlândia através do telefone (34) 3291-6100.

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