Há pouco mais de um ano, um dos maiores projetos aprovados no site de crowdfunding Kickstarter dominava as manchetes de todos os sites de tecnologia: haviam inventado uma caneta que desenhava no ar, e a campanha para esta pequena prodígio se tornar realidade quebrara todas as expectativas. Em apenas 30 dias de exposição do projeto, a arrecadação da 3Doodler, a primeira caneta 3D da história, ultrapassou seus US$ 30 mil de meta e foi até os US$ 2.344.134 (cerca de R$ 5 milhões).
O TechTudo teve a chance de botar as mãos nessa nova ferramenta e podemos dizer sem dúvida: esse objeto criado pela WobbleWorks pouco tem a ver com uma caneta. Mesmo que seu formato lembre, de longe, aquele de um adereço para escrita, a semelhança termina aí - a 3Doodler é muito mais.
Desenhando com plástico
A 3Doodler, fielmente descrita, é mais semelhante a uma impressora 3D do que qualquer objeto do dia a dia. O processo de impressão é exatamente o mesmo, aliás: através de um sistema de superaquecimento e subsequente extrusão de um filete de plástico que brevemente se solidifica.
Uma ponta metálica em constante superaquecimento vai ocupando posições no ar e deixando seu rastro de plástico. A diferença é que, ao invés de uma estrutura de trilhos que leva a ponta da ferramenta de impressão para coordenadas específicas, existe a mão do usuário.
Tipo de plástico
Ela pode usar plásticos do tipo ABS e PLA, como a maioria das impressoras 3D domésticas, e emite o mesmíssimo aroma peculiar de borracha queimada durante o trabalho. O uso de PLA, no entanto, tem que ser feito com cautela: sua composição química é altamente reativa com o papel, e não se desgrudará com facilidade se o usuário trabalhar sobre o jornal ou algo do gênero.
Duas velocidades
A caneta conta com duas velocidades diferentes, teoricamente pensadas uma para os traços longos e outras para os trabalhos de precisão. No entanto, há uma limitação grave: quando acionada em sua variação mais veloz, o fluxo inconstante do fio plástico impossibilita a precisão nas formas.
A gravidade é a principal vilã, sempre. Pois distorce os fios para baixo assim que eles deixam a ponta. Por causa disso, é quase impossível orientar o traçado em curvas – para tal, faz-se obrigatório um suporte no formato curvilíneo desejado, para que o fio de plástico possa contorná-lo até que solidifique.
Todo o processo criativo lembra o trabalho de um engenheiro, mais preocupado com a viabilidade estrutural das formas: traços verticais precisam ser apoiados pelo desenhista até que enrijeçam, formas suspensas precisam de pilares e a economia de traços é essencial para que nada desabe sozinho.
Tecnologia de anteontem
Fora os desafios inerentes ao uso de filetes de plástico, a própria construção da 3Doodler não ajuda muito na criatividade do usuário. Cada refil é pequeno demais, e a troca atrapalha em muito o andamento e criação de peças longas que precisam de mais de uma carga. A troca de cores, então, é uma grande dor de cabeça. O refil não pode ser removido quando está perto do fim, é preciso gastar tudo e esperar que a caneta encontre o novo fio para continuar. Uma bagunça.
O tipo de processamento do plástico escolhido para o processo de extrusão, via calor, cobra seu preço. É preciso tomar muito cuidado ao manusear a caneta, pois sua ponta fica muito quente durante o derretimento do plástico. Um toque de leve pode ser suficiente para provocar uma queimadura superficial, e isso vai acontecer – muitas vezes –, será preciso interromper o caminho do plástico perto da ponta, como forma de voltar atrás no traço e continuar o desenho.
Forma e peso
Nem tudo é ruim, felizmente. É preciso reconhecer: apesar de ter um corpo muito largo para o que se pretende ser uma caneta, seu peso é relativamente leve, e seu formato tem uma pegada boa, que afasta o calor da queima de plástico das áreas de contato. O plástico rígido e os botões emborrachados no centro da 3Doodler parecem bastante resistentes ao manuseio, e a decisão de deixar o fio elétrico na ponta oposta à da saída do plástico tem um efeito estabilizador sobre a movimentação.
rimeiros traços
Não seria justo julgar por uma experiência tão curta a real funcionalidade de um objeto tão incomum, mas é possível afirmar: o primeiro contato com uma caneta 3D é menos do que amigável. Quem quer que vá esperando algo como um lápis mágico terá uma sincera decepção, pois há um longo aprendizado até que o usuário consiga dominar a 3Doodler e produzir belezas como a da foto acima. Será preciso algum conhecimento e muita "tentativa e erro" até lá.
A tecnologia, afinal, há pouco nem existia. Nem mesmo a 3Doodler chegou, uma variação mais avançada já tomou as manchetes em maio: a caneta 3D Lix Pen, prospectada para chegar ao mercado em janeiro de 2015. Além de realmente parecer uma caneta no seu formato e manter um fluxo de plástico melhor, sua ponta não é aquecida – ao invés disso, a caneta usa um material reativo à luz para solidificar o traçado tridimensional.
Vale reforçar o que disse Ricardo Cavallini, sócio da Makers do Brasil – empresa entusiasta que trouxe e exibiu a caneta 3D no youPix – ao TechTudo: “A 3Doodler tem muito mais a ver com o exercício da criatividade do que com precisão artística. Ainda não há condições para a criação da perfeita caneta 3D”.
Onde encontrar
Quem se interessou pela 3Doodler pode visitar a página do Kickstarted para conhecer o início do projeto. Encomendar uma caneta 3D com 50 cargas de cores por US$ 99 no site oficial - o refil de cada carga custa US$ 9,99. Há ainda um canal no YouTube com o passo a passo da impressões.
Fonte: http://www.techtudo.com.br/noticias/noticia/2014/07/3doodler-testamos-caneta-que-desenha-no-ar.html