Selo GP - Rodrigo Roreli Laço
Fundação: Francisco Gabriel
Bié Barbosa
Alcance, credibilidade e
imparcialidade, desde 84
ANO 40
Nº 2044
05/11/2024


Notícias
Notícias

Abalado por guerra, Ucraniano 14/15 começa nesta sexta longe de Donetsk - 25/07/2014

Donetsk era até pouco tempo o sinônimo de futebol na Ucrânia. Nove vezes campeão nacional desde 2002, o Shakhtar levou o país a ter relevância dentro da Europa. Muito pela influência dos brasileiros, que compõem o sistema ofensivo do time há anos, um pouco pela moderna e imponente Donbass Arena. Pois a edição 2014/2015 do Campeonato Ucraniano, que se inicia nesta sexta-feira, terá a cidade apenas como figuração. Reflexo da guerra que tem abalado toda a região nas últimas semanas. Um episódio central para propagar o terror e afastar Donetsk do mapa futebolístico da atual temporada aconteceu no último dia 17. O voo MH17 da Malaysia Airlines, com 298 pessoas a bordo, caiu na cidade quando viajava de Amsterdã para Kuala Lumpur. A suspeita é de que ele tenha sido abatido por mísseis disparados por separatistas pró-Rússia que estão à frente do movimento no leste da Ucrânia. O fato, é claro, intensificou ainda mais a crise entre as duas nações e encorpou um legado nada animador dos conflitos. Inicialmente, 16 clubes participariam da competição, mas dois deles foram anexados à Rússia com a Crimeia - o Sevastopol, nono colocado no último Ucraniano, e o Tavriya Simferopol, 15º e lanterna, já que o Arsenal Kiev foi excluído por ir à falência. O Olimpik Donetsk subiu de divisão ao ser o campeão da Segundona, mas não ganhou a companhia do vice PFC Oleksandriya por ter concluído uma fusão com o FC UkrAhroKom Holovkivka. Ou seja: sobraram 14. “OS DESAPARECIDOS” No Shakhtar também não houve excesso. Seis atletas não se reapresentaram após um amistoso realizado contra o Lyon, na França, no último sábado, que encerrou a pré-temporada dos mineiros. Cinco deles são brasileiros: Alex Teixeira, Dentinho, Douglas Costa, Fred e Ismaily, além do argentino Facundo Ferreyra. Fred mudou de ideia e deu as caras durante a semana, enquanto Ismaily é aguardado nos próximos dias. - Quero esclarecer que não estou abandonando o clube. Estou com medo. Tudo o que a gente lê, vê ou ouve é de que a situação no país é bastante complicada. Não sabemos em quais condições podemos treinar e muito menos onde jogar. Para jogar precisamos viajar. Como vai ser nossa segurança? Não tenho nenhum problema no Shakhtar. Gosto do clube, das pessoas, da cidade, mas estou com medo de outras situações de conflito e eventualmente numa viagem, quando nos separarmos de nossos familiares, que aconteça algo pior. Lamento que tudo isso esteja acontecendo. Porém, neste momento, todos nós corremos risco de vida se estivermos na região. Conversamos com os dirigentes e nos propusemos a permanecer na Suíça para treinarmos enquanto essa situação seja resolvida. Queremos permanecer no clube só que precisamos ter uma condição de trabalho sem correr riscos – disse Douglas Costa, defendendo-se das acusações de que estaria forçando uma saída. O técnico Mircea Lucescu, porém, acredita que o agente Kia Joorabchian é o grande culpado por fazer a cabeça dos atletas. Douglas já teve o nome ligado a clubes ingleses, Ferreyra a italianos. Algo semelhante aconteceu no Metalist Kharkiv, com três argentinos (Alejandro Gomez, Jonathan Cristaldo e José Sosa) sumidos desde então. A janela de transferências ficará aberta até o fim de agosto. - Ele conseguiu convencê-los a não voltar, explicando que em breve estariam livres e que em breve poderiam assinar com outro clube. É um escândalo puro. Tudo aconteceu após o jogo contra o Lyon, às duas horas da manhã no nosso hotel. Eu não podia fazer nada. LVIV, A NOVA CASA DO SHAKHTAR O Shakhtar não esperou sentado. Agiu em tom de ameaça e espera contar com seus atletas em breve. Eles não precisarão pisar em Donetsk, ao menos nos próximos tempos - o clube passará a treinar e jogar em Lviv, a quase mil quilômetros de distância da Donbass Arena, basicamente do outro lado do mapa. O mesmo acontecerá com o Metalurh Donetsk, espécie de “primo-pobre” do Shakhtar, onde jogar o brasileiro Júnior Moraes, ex-Santos. Os dois clubes passarão a dividir a Arena Lviv, construída para a Eurocopa de 2012, enquanto o Olimpik atuará em Kiev, na Obolon Arena. O mesmo acontecerá durante as competições europeias. - Foi um bom-senso por parte do clube. É impossível morar em Donetsk agora. Muitas pessoas deixaram a cidade, os estrangeiros provavelmente nem voltariam. O aeroporto está totalmente destruído com tudo o que aconteceu, não há condição de avião algum descer lá. Nós vamos treinar em Kiev e jogar em Lviv – disse Moraes, vice-artilheiro da última edição do Ucraniano, com 19 gols (um a menos que o também brasileiro Luiz Adriano, do Shakhtar). Palco da abertura do Ucraniano entre Metalurh e Dnipro a partir das 13h (de Brasília), Lviv já recebeu a definição da Supercopa Ucraniana. O Shakhtar se sagrou campeão na última terça ao derrotar o Dínamo de Kiev, por 2 a 0. No dia anterior, torcedores dos dois times se uniram para protestar nas ruas contra o presidente russo Vladimir Putin. Pediram “morte aos inimigos”, “derrote os moscovitas” e “glória para a nação”. O clima é de animosidade.

Mais da Gazeta

Colunistas