Raimunda Maria da Silva nasceu no dia 11 de maio em 1915, na fazenda de Ricardo Martins, em Onça do Pitangui/MG. Ela teve um único irmão e não se aposentou, porque nunca foi instruída sobre o assunto. Ao casar, seu marido, viúvo, já tinha 5 filhos. Teve mais 2. Ao todo, são eles: Auxiliadora, Luiz, Aparecida, Maria José, José Calazão (morreu com 3 anos), Sebastião (com 1 ano) e Zacarias (com 10). A reportagem GP conversou com Raimunda. Não deixe de ler.
“Eu trabalhava na cozinha das pessoas, mas tive sorte na vida, porque, apensar de não ganhar nem um tostão de aposentadoria, graças a Deus tenho um genro muito bom e meus enteados são todos muito bons para mim. Já passei muita coisa na vida, mas Deus me dá coragem e eu vou indo... Uma hora a gente cai; outra, a gente se levanta... levanta e cai e assim vai indo (riso). Quando vem uma pessoa boa para conversar comigo me anima tanto que, na hora, eu fico boa e até saro. Quase não me lembro de nada. A cabeça já passou para lá, mas o corpo ficou”, se desculpa Raimunda.
SÓ UM IRMÃO – “Quando eu era criança andava pelo chão, fazia as coisas bem feitas, mas fazia as mal feitas também (riso). Era só eu e o meu irmão José e não tínhamos tempo pra nada. Um dia, lembro que eu estava com um pente na mão e ele fez arte. Aí, eu bati o pente na cabeça dele. Tenho um arrependimento disso, porque minha mãe falou que eu não podia ter feito aquilo, porque eu só tinha ele de irmão. Pouco tempo depois ele morreu... Mas minha mãe era muito boa e cuidava muito de mim. Meu pai também”.
JUVENTUDE – “Eu era levada! Comecei a trabalhar com 14 anos, passei por muito trabalho, mas todo tempo alegrando a todo mundo. Casei com 32 anos, já era bem madura (risos). Meu marido tinha 5 filhos e eu acabei de criar 3, pois 2 já estava criados. Só uma ficou morando comigo. Meu marido era bom demais. Eu sou muito alegre é assim vivo a vida que Deus me deu: vou levando. Toda vida, fui feliz graças a Deus! Amo todo mundo, gosto muito de Deus e de Nossa Senhora”.
ANGU – “A minha avó arrumava comida para mim, todos os dias, para que, quando eu chegasse da escola, almoçasse. Um dia, ela me disse que a comida estava guardada no caburezinho, em cima do fogão de lenha. Quando eu peguei, o cabo do caburé arrancou e caiu tudo para o chão. Dentro tinha um até um pedaço de rapadura (risos). Aí, ela teve de preparar outra. Adoro angu! Quando as meninas fazem no almoço, peço para guardar a sobra para fazer sopa de angu na janta para mim. Gosto muito mesmo (riso)”!
TRISTEZAS – “Tristeza têm muitas: quando meus pais, meus filhos, minha avó, que morava comigo, se foram (suspiro). Hoje, estou sozinha todo mundo já morreu. Tem alguns filhos e um neto que mora comigo e que faz companhia pra mim como se fosse meu filho. Ele cuida muito de mim! Só tem eu viva da minha família... Mas tristeza mesmo eu senti, quando perdi meu pai, minha mãe e quando meu filho Sebastião morreu com 1 aninho. Um dia antes, ele estava bonzinho no meu braço, quando ele chorou. Aí, coloquei ele no chão e ele caminhou até à tia dele que estava perto da porta. Ela pegou ele... mas, no outro dia, morreu. Caminhou só para eu ver ele andar, antes de partir.Mas está bom, ele está com Deus. Bem melhor do que se estivesse comigo. O João Bosco meu filho era marinheiro e morreu no Rio de Janeiro. Quando estava fardado, ficava lindo. Deixou 2 filhos”.
SAÚDE – “Sofri maleta há muito tempo, durante 3 anos. Vomitava muito, o fígado dói. Hoje, as pernas já não estão mais como eram antes, muita fraqueza! Caio muito e eles me xingam. Aí, eu falo: Pelo amor de Deus, não me xinguem não, porque eu não tenho culpa de ter caído... Assim, vou vivendo, até quando Deus quiser”...