Pela população mais separatista, eles são taxados de vagabundos, desocupados, drogados ou malucos, mas na verdade são artistas de rua, artesãos, vivendo o seu direito de liberdade e expressão. Em Pará de Minas, durante aproximadamente 10 dias, um grupo de hippies ficou alojado no Bariri 4. Vindos do sul do país, eles faziam e vendiam seus artesanatos na praça do Santuário, de onde tiraram o seu sustento e conseguir grana para comprar outras passagens para uma nova viagem para qualquer outro ponto de Minas ou do Brasil. Observando que eles estavam sendo importantes por tirar a cidade de seu estado de comodismo, ao invés de se afastar deles, como faz a maioria, a reportagem GP aproximou-se deles que falaram sobre o seu diferente modo de vida. Vale a pena conferir.
“Temos a ideia de viajar por todo o Brasil. Aí, nós procuramos cidades grandes para comprar material e, depois, vamos para as cidades menores para expor e vender nossa arte. Chegamos em um grupo de 10 pessoas, todos fazendo a sua arte. Somos como se fôssemos uma família, porém cada um traz a sua ideia. Aqui, nesta cidade, ao chegar, conversarmos com o responsável pelo Parque do Bariri da cima (Mirinho Rios) que disponibilizou um espaço para a gente acampar. Ele pediu apenas para não fazermos fogueira. Ele também tirou algumas fotos para mostrar na prefeitura que não deixamos lixo e que está tudo limpo. É uma área muito bonita. Fomos bem recebido em Pará de Minas que tem um povo bem acolhedor. Porém, a P.M. daqui é bem preconceituosa, porque chegam dizendo que receberam denúncias, informando que estamos abordando as pessoas, mas nós não fazemos isso. No mais, se fosse realmente uma denúncia, eles deveriam vir com a pessoa que denunciou até onde estamos para conversarmos. Nós vendemos arte, não vendemos drogas! Se fosse assim, eu seria traficante e não artista de rua. É um preconceito, porque não pagamos impostos para vender nosso artesanato. E nossa intenção é essa mesmo: sair desse sistema (Capitalismo) que não funciona para nada. Temos a ideia de chegar a Brasília/DF, mas testamos indo aos poucos. Daqui, vamos para Araxá/MG, mas passando sempre por algumas cidades menores. Todo lugar apresenta a sua beleza natural”, elogia o gaúcho Luiz Volek, 21.
REPRESSÃO E PRECONCEITO - “No início eles ficaram preocupados, mas todos nós temos ensino médio, alguns tem até faculdade. Decidimos parar de estudar por uma escolha de sair para a rua. Somos jovens e não temos família constituída com esposas e filhos. Se não der certo, podemos voltar, retomar nossas faculdades, morar em um lugar fixo. Sempre nos comunicamos com nossos familiares e eles vêm que estamos bem. Artesão não é a mesma coisa de mendigo. Estamos aqui por opção e não por passar necessidade. As pessoas nos olham com um ar de pena, mas não somos coitados. Eu fiz faculdade e poderia estar trabalhando e vivendo na minha cidade, mas a minha opção é essa. Na rua, todos os demais indivíduos que vivem nela nos tratam bem, pois sabem que somos trabalhadores e não fazemos mal a ninguém. Nosso maior medo é a P.M. que reprime e pratica o preconceito. Em Curitiba/PR, um policial nos abordou, apontando uma arma para a nossa cabeça. Mostramos que não havia nada de ilegal conosco e, quando eles estavam saindo, as pessoas que estavam na praça vaiaram os policiais. Não vejo problema em nenhuma abordagem, mas tem de haver respeito. Parece até que ser diferente é sinônimo de suspeito. Trabalhamos honestamente, acordamos pela manhã e vamos para o trabalho como qualquer um. Estamos trabalhando de domingo a domingo e eles vêm e nos taxam de vagabundos por estarmos nas ruas, mas é o nosso trabalho, a nossa arte”, reclama o também gaúcho Marcelo Strauch, 23.
A PEDRA CERTA – “Não pensamos em ganhar uma grana exorbitante com o nosso trabalho. Pensamos apenas na alimentação, em repor o nosso material, as nossas roupas. Ou seja, fazemos só o dinheiro do dia a dia. Não somos ambiciosos. Gostamos de trabalhar com pedras e sempre falamos com as pessoas a respeito disso. A pedra tem uma energia muito forte e aí indicamos para as pessoas a pedra certa, orientando que ela compre a pedra que mais lhe traga a energia procurada. Não vendemos apenas o trabalho, passamos algo que seja bom para a vida de cada um”, filosofa a gaúcha Pâmela Correia, 24.