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A voz de quem vive no olho da rua - 28/08/2014

De uns tempos pra cá, o número de pedintes está cada vez maior em Pará de Minas. São imigrantes que vêm de várias cidades do país e a maioria da população local tem fechado os olhos. Porém, de olhos sempre bem abertos, a reportagem GP aproximou-se de 2 desses mendigos, quando ambos falaram de suas dificuldades existenciais. São eles: Édson Nogueira de Morais,44, natural de Arcos/MG, e João Paulo de Souza, 24, de Passos/MG. Não deixe de ler. “Chegamos até Pará de Minas, passando de cidade em cidade. A última que paramos foi Nova Serrana/MG. Só que a assistência social daqui não quer liberar as passagens de ônibus para irmos embora. Então, teremos de ir a pé até chegar ao nosso destino que é Belo Horizonte. As ruas de Pará de Minas à noite são sinistras. Existem muitos noiados (usuários de drogas) que infernizam nossa vida. Aí, cada dia ficamos num local, sem ter um lugar específico. Seja aqui na praça ou em alguma construção. Inclusive, roubaram o meu celular, quando fomos dormir na praça Torquato de Almeida. Os noiados não dormem à noite e, quando começamos a dormir, eles vêm tentando nos roubar. Procuramos ajuda no Centro Pop, mas eles nos mandaram embora, porque a pessoa, para ficar lá, não pode beber e nós não conseguimos ficar sem beber. Fomos na assistência social, em dezembro do ano passado, e eles disseram que só conseguiremos as passagens depois de 1 ano na cidade. Então, até dezembro, teremos que ficar rodando por aí”, reclama Édson. O INFERNO – Veja agora o que disse à reportagem GP João Paulo de Souza. “Nós temos familiares... Eles moram em BH, onde existe até uma casa alugada esperando por nós. Tínhamos casas, famílias e deixamos isso tudo pra trás. Minhas irmãs recebem aposentadoria da minha mãe, mas nenhuma delas quer saber de me ajudar. Aí, deixei minha mulher, grávida de 6 meses, em Passos. Quero ver minha outra filha em B.H. Sou viúvo da 1ª mulher que morreu, enquanto eu estava preso. Saí da cadeia, no dia 4 de março deste ano. Fui preso pelo crime de roubo, 157, mas não gosto nem de falar desse assunto... Nunca mais quero usar a roupa da Suapi (Subsecretaria de Administração Prisional). Aquilo ali é um inferno! Já fui na Argentina e no Paraguai, onde fiquei por cerca de 1 ano. Lá, eles tratam a gente com mais respeito. Na época da Copa, os argentinos me trataram com respeito. As ruas desses 2 países não apresentam perigo algum. Já em B.H., o perigo é pior que aqui, em Pará de Minas. Lá, já vi 4 colegas meus serem assassinados, morrendo do meu lado por facadas... E não teve como eu fazer nada”.

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