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'Ela não se lembra de nada', diz irmão de mulher agredida por cotovelada - 02/09/2014

Os parentes de Fernanda Regina Cézar Santiago, agredida por uma forte cotovelada na madrugada do dia 16 de agosto, em São Roque (SP), estão otimistas quanto à recuperação da jovem, que segue internada no Conjunto Hospitalar de Sorocaba (SP). Em entrevista ao G1, o irmão da vítima, Eduardo Cézar, afirmou nesta segunda-feira (1º) que Fernanda acordou algumas vezes e disse para a família que não se lembra do que aconteceu. "Ela acordou, mas não nos disse o que aconteceu naquele dia. Ela não se lembra de nada e também não estamos forçando já que a recuperação dela é o que importa agora". Eduardo Cézar contou que o filho da irmã ainda não sabe das lesões da mãe. "Preferimos poupar o meu sobrinho de tudo isso", explica. Apesar disso, a família está esperançosa. “Estamos confiantes com a recuperação dela porque está melhorando a cada dia e o médico já descartou a possibilidade de cirurgia", informou Eduardo.A auxiliar de produção, de 30 anos, sofreu traumatismo craniano após ser atingida pelo comerciante Anderson Lúcio de Oliveira, de 35 anos. Fernanda permanece na enfermaria neurológica, sem previsão de alta. De acordo com um boletim médico divulgado nesta segunda-feira (1º) pela Secretaria Estadual de Saúde, o estado de saúde da paciente continua estável. Eduardo ressalta que Fernanda e Anderson, o agressor, são conhecidos e se encontraram ocasionalmente na festa realizada por uma casa noturna naquele fim de semana. Eduardo alega que os dois não tinham uma relação próxima. Anderson está preso na cadeia pública da cidade e vai responder por tentativa de homicídio qualificado, já que a vítima não teve chance de defesa, segundo a polícia. Em entrevista ao G1 na sexta-feira (22), Eduardo disse que a família não consegue entender o que aconteceu. "Nós estamos indignados pelo que houve com a minha irmã. Foi uma atitude bruta, totalmente ignorante. Ninguém esperava que ele fosse reagir daquela forma e ninguém sabe ao certo qual o motivo da agressão", afirmou.'Não vai se lembrar nunca', diz médico A pedido do G1, o médico de Sorocaba (SP) Paulo Diniz da Gama analisou as imagens da cotovelada e afirmou que a vítima pode ficar sem sequelas graves, mas ressalta que possivelmente não se lembrará do que aconteceu. Segundo o profissional, isso porque não houve tempo suficiente para que o cérebro registrasse o fato na memória. “Normalmente, esse tipo de concussão hemorrágica, quando controlada, como é o caso dela, não provoca sequelas que interfiram na capacidade motora ou cerebral. No entanto, ela não vai se lembrar do que aconteceu pelo resto da vida”, afirma o especialista. O G1 tentou contato com o médico responsável por atender a paciente, mas ele informou que só poderia falar caso tivesse autorização da Secretaria da Saúde, que não liberou a entrevista.Com base na análise das imagens, Paulo Diniz afirma que Fernanda sofreu uma concussão cerebral – que é a perda da consciência de curta duração que acontece logo após um traumatismo craniano – e uma contusão, quando ela bateu a cabeça no chão. “Pelas imagens é possível ver que ela sofreu dois traumas: a cotovelada e em seguida a queda. O fato dela ter batido a cabeça no chão com força foi pior que a agressão em si”, explica o médico. Segundo o especialista, Fernanda teve “sorte e azar” ao mesmo tempo. “Podia ter sido pior, ou melhor, não dá para dizer com certeza. Se ela não tivesse batido a cabeça com tanta força, ela podia levantar e andar, como acontece com os lutadores. Mas, ao mesmo tempo, se ela tivesse virado o pescoço e não caído reta, as lesões poderiam ter danos irreverssíveis." Amarrada durante a noite O pai de Fernanda, Geraldo Cézar, disse em entrevista ao G1 na terça-feira (26) que a filha apresenta melhoras, mas o sofrimento maior é durante a noite. “Ela precisa ser amarrada na cama para passar a noite, porque se debate por causa das fortes dores de cabeça”, diz.Geraldo ressaltou que ela está se recuperando aos poucos. “É muito bom ver que ela melhora, conseguimos até conversar um pouco, mas as dores de cabeça não passam nem com remédio. Alguém tem que passar a noite com ela. Está sendo muito difícil, mas minha filha está melhorando”, complementa. A auxiliar de produção é mãe de um menino, que não teve sua idade ou nome divulgados. Segundo a família, o menino não viu a mãe depois da agressão. “Não queremos que ele veja a mãe nestas condições. Estamos preservando ele”, afirma Geraldo. Depoimentos A Polícia Civil de São Roque ouviu na sexta-feira (29) mais uma pessoa que testemunhou a agressão sofrida por Fernanda. A delegada Priscila de Oliveira informou, em entrevista ao G1, que também recebeu do hospital um laudo médico da jovem, mas que o documento não traz novidade à investigação. “O laudo recebido foi baseado no prontuário da vítima e apenas aponta as lesões. Será necessário fazer um exame complementar”, explica a delegada. Ainda de acordo com Priscila, esse novo exame deve ser feito em 120 dias, já que a prioridade é zelar pela saúde da vítima. O prontuário médico de Fernanda já foi encaminhado ao Instituto Médico Legal (IML) para que seja elaborado um laudo, a partir dos exames, e que ajudará a concluir o inquérito. Segundo a previsão da polícia, o inquérito será encerrado na semana que vem. De acordo com a delegada, a testemunha que foi ouvida na sexta-feira retificou o que havia contado. "Primeiramente, ele disse que não tinha visto a cotovelada, mas hoje comentou que viu". De acordo com o advogado da testemunha, ele não vai ser enquadrado por falso testemunho porque não esteve presente no resgate dela e por isso não omitiu socorro. Ainda segundo a delegada, nenhuma das testemunhas sabe dizer o que causou a discussão. "Algumas pessoas ouvidas disseram que a vítima estava falando alto e mexendo com pessoas que passavam pela rua antes da agressão". Em depoimento, Anderson comentou com a delegada que Fernanda estava alterada. "Ele disse que ela [Fernanda] xingou ele e a irmã (que não estava presente). A cotovelada foi para afastar ela, que estaria incomodando Anderson", comenta Priscila. De acordo com informações da delegada responsável pelo caso, o comerciante Anderson, que está preso temporariamente por 30 dias desde o dia 19 de agosto, teria afirmado inicialmente para uma das testemunhas que a vítima havia caído sozinha. A polícia começou a ouvir na quinta-feira (28) o depoimento de testemunhas da agressão. Ao todo, sete pessoas serão ouvidas. A delegada Priscila disse que entre elas estão um socorrista e um casal que aparece nas imagens. Eles devem ser ouvidos nos próximos dias. Segundo a previsão da polícia, o inquérito pode ser encerrado nesta semana.Duas pessoas foram ouvidas na delegacia durante a tarde de quinta-feira (28) e não quiseram conversar com os jornalistas. Segundo a delegada Priscila, uma jovem prestou depoimento pela primeira vez e outro rapaz que já havia se apresentado à polícia foi convocado à depor novamente. “A garota estava longe e não presenciou o momento da agressão, mas relatou que Anderson foi o primeiro a dizer que a Fernanda tinha caído sozinha. Já a segunda testemunha, que havia falado com a polícia, esclareceu a agressão e confirmou ter visto que a vítima desmaiou após uma cotovelada”, explicou. No depoimento, a jovem relatou também à delegada que Anderson permaneceu no local durante o resgate e confirmou que Fernanda estava exaltada por causa de uma discussão. “A testemunha alegou que o suspeito chegou a dizer a frase: 'eu disse para ela parar' enquanto Fernanda era socorrida. O rapaz afirmou também que viu a discussão e que outras pessoas tentaram fazer com que a vítima encerrasse a briga, o que não ocorreu”, ressaltou Priscila.A polícia decidiu retomar os depoimentos porque as testemunhas ouvidas na última sexta-feira (22) disseram que não viram o golpe e sim ouviram um barulho. "Mas as imagens mostram claramente que houve testemunhas do golpe”, afirmou a delegada. Segundo a polícia, as pessoas ouvidas poderão responder criminalmente por falso testemunho se confirmado que elas omitiram informações na primeira versão. Um inquérito foi aberto para apurar o motivo da agressão. Os detalhes do depoimento de Anderson não serão divulgados pela polícia, informou a delegada. A polícia confirmou que Anderson Lúcio de Oliveira tem passagem por contravenção penal por envolvimento com máquinas caça-níqueis. O comerciante também tem registro de um roubo no qual matou o ladrão, mas a Polícia Civil ressaltou que ele não respondeu por homicídio, já que foi considerado legítima defesa.'Completamente arrependido' Carlos Alberto Alves, advogado de Anderson, contou ao G1 nesta segunda-feira (1º) que ainda não entrou com o pedido de liberdade de seu cliente. Ele explicou que aguarda a conclusão do inquérito para decidir os próximos passos da defesa. Ainda conforme Carlos Alberto, a expectativa é que o inquérito seja concluído entre quarta (3) e quinta-feira (4). O advogado também comentou que seu cliente está abalado e chorando. Ele também está preocupado com sua mãe e tem perguntado sobre o estado de saúde da Fernanda, comentou Carlos Alberto. Em nota enviada à redação do G1 no dia 27 de agosto, os advogados de defesa do comerciante informam que Anderson está "completamente arrependido". "A defesa informa que acompanha atentamente a colheita das provas e que Anderson está completamente arrependido do ato que praticou e que jamais quis atentar contra a vida de Fernanda", diz a nota. A defesa do comerciante ainda afirma que foi "surpreendida" pelo pedido de prisão temporária, já que ele "se apresentou espontaneamente à polícia na manhã de terça-feira (19) e relatou o fato às autoridades". Os advogados também dizem que não concordam com o indiciamento por tentativa de homicídio qualificado, pois acreditam "tratar-se de um caso de lesão corporal grave". A nota assinada pelos advogados Carlos Alberto Alves, Vinícius Bastos e Ariovaldo Souza Barros, diz que eles trabalham para obter a revogação da prisão temporária, mas não esclarece se já entraram com o pedido de habeas corpus. Em contato por telefone com a reportagem, Carlos Alberto afirmou que não daria informações além das que constam na nota oficial.Discussão e cotovelada As imagens da agressão foram registradas por uma câmera de segurança de uma loja de motocicletas do outro lado da avenida onde está localizada a casa noturna onde os dois estavam horas antes na avenida Antonio Dias Bastos, no centro de São Roque. O vídeo, que foi solicitado pela própria família da vítima ao dono do comércio, mostra Fernanda discutindo primeiro com uma pessoa vestindo uma blusa branca. Depois, ela fala com Anderson, que está de terno e com uma lata de cerveja na mão. Na sequência, o rapaz desfere uma cotovelada contra ela. Pessoas que estavam no local chamaram o resgate, que chegou pouco tempo depois. Anderson permaneceu no local, impassível.Em entrevista ao G1, o advogado da família de Fernanda, Ademar Gomes, afirmou que vai entrar com pedido de prisão preventiva, por acreditar que Anderson apresenta um risco para a segurança de sua cliente. “Fica claro pelo vídeo que ele é uma pessoa violenta. A nossa intenção tem o objetivo de proteger a Fernanda já que ele é um risco para a sua vida. Nas imagens, dá para ver que ele teve a intenção de matá-la, pois em nenhum momento ele se prontificou em ajudar no socorro”, afirma. Família do agressor está chocada Em entrevista ao TEM Notícias na segunda-feira (25), Amilton de Oliveira, irmão do comerciante, afirmou que a família toda está chocada com o que aconteceu: "Ele chora muito. Pediu para gente ver com a família dela tudo o que precisar, porque ele não é esse monstro que estão falando que ele é. É um trabalhador." A cunhada de Anderson, Cristiane da Cunha, esposa de Amilton, acha que, naquele momento, ele não pensou no que estava fazendo. "Ele é uma pessoa calma. Foi um choque para nós e, pelas informações dos advogados, ele também está muito chocado e arrependido do que fez", disse Cristiane.Protesto em redes sociais Indignados com a agressão sofrida pela auxiliar de produção, moradores de São Roque resolveram protestar em redes sociais contra Anderson, proprietário de um bar na cidade, que está fechado desde sua prisão. Os usuários se manifestaram em uma página de recomendações e avaliações de bares e lanchonetes. Entre as publicações, os internautas dizem: "Covarde! Vai pagar criminalmente e seu Bar vai falir por falta de clientes! Mesmo que a moça estivesse alterada, não justifica a violência", diz uma das publicações. E também: "Inconsequente e covarde: tomara que tenha a vida inteira vendo sol nascer quadrado pra pensar no que fez".​ FONTE:G1

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