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IRMÃS DOS 2 AFOGADOS CONTAM TUDO - 02/10/2014

O que era para ser um encontro de amigos com bebidas, risadas, papo jogado fora e uma refrescada nas águas de uma lagoa, acabou em tragédia. Na tarde do dia 24 de setembro, 6 amigos estavam na represa Água Espalhada, no Residencial Dona Flor, quando um deles, o desenhista Cláudio Antônio da Silva, 42, começou a afogar. Ao presenciar a cena, o amigo, José Tarcísio dos Santos, 56, pedreiro, entrou na água para tentar socorrer Cláudio, mas acabou se afogando também. A Polícia Militar e o Corpo de Bombeiros foram acionados, mas infelizmente nada mais pôde ser feito. Após os sepultamentos, a reportagem GP esteve com a uma das irmãs de Cláudio, Roberta Michele da Silva Barreto, que, inconformada, falou da tragédia. Confira. “Cláudio sempre foi uma pessoa carismática e carinhosa com a família... Tinha um cuidado enorme com a nossa mãe, com cada uma de nós, suas irmãs, e também com os sobrinhos. Gostava de desenhar, desde criança, fazia letreiros, desenhos e pinturas em geral como autônomo. Deixou um de seus quadros inacabado. Ele tinha uma grande amizade pelo Tarcísio de quem fomos vizinhos, durante muito tempo. Não temos certeza, mas havia outras 4 pessoas com eles, moradores no bairro Nossa Senhora de Lourdes”, conta Roberta. CULPA DE QUEM? - “Cláudio tinha o hábito de sair com os amigos para nadar... ele nadava muito bem. Nesse dia, após o almoço, minha mãe o alertou para não ir, mas ele foi, assim mesmo. Levou alguns alimentos, além da bebida alcoólica que, infelizmente, atrapalhou tudo (suspiro). Não sabemos direito, mas a bebida ocasiona certas coisas sim. A morte é algo inevitável... Quando tem de acontecer, acontece e é complicado falar disso, mas agradeço a todos que nos ajudaram e nos confortaram, nesse momento tão triste”. A OUTRA VÍTIMA – A reportagem GP também conversou com uma das irmãs de José Tarcísio, a coordenadora de projeto infantil da prefeitura, Terezinha Auxiliadora Santos, 59. Acompanhe. “Somos uma família de 12 irmãos e morávamos juntos: eu, Tarcísio, mais um irmão e a nossa mãe. Ela, inclusive, ainda não assimilou muito bem a morte dele... estamos até evitando falar do assunto. Ele é o 4° filho dela que parte... O Tarcísio era uma pessoa muito solicitada, era inteligente e fazia excelentes trabalhos como pedreiro, bombeiro hidráulico e eletricista. Gostava também de desenhar e fazer peças em madeira. Era capaz de reproduzir qualquer coisa como banquinhos e brinquedos. Inclusive, ele estava fazendo uma réplica da igreja de Nossa Senhora de Fátima para um amigo que ficou inacabada... Podemos resumir o Tarcísio em uma palavra: solidariedade. Ele era uma excelente pessoa, muito bom com os irmãos, preocupava tanto com os familiares quanto com as pessoas da rua. Nunca deixava ninguém na mão. Ele sempre dizia que perto dele ninguém iria passar fome. Qualquer coisa que precisássemos, podíamos contar com a ajuda dele. Era um bêbado, mas se preocupava com a família e com os amigos”, diz Terezinha. GRATIDÃO – “Apesar dele ter estudado muito pouco, ele trabalhou a vida inteira e propiciou condições para que eu estudasse. Muitas pessoas me perguntavam como que eu o aguentava com a cachaça e eu sempre respondia que, se um dia, eu consegui estudar, foi graças a ele. Éramos 12 filhos e depois que meu pai adoeceu e se aposentou, foi o Tarcísio que me incentivou a estudar e disse que faria tudo para me ajudar. Lembro que quando fui para Belo Horizonte, tinha dias que as condições estavam difíceis e era ele quem pagava a minha passagem e me dava um dinheirinho para eu poder viver na capital. Certa vez, o Tarcísio teve oportunidade de trabalhar, mas ele precisava de formação, precisava de um curso técnico. Foi aí que decidi retribuir tudo de bom que ele fez para a minha formação. Fomos juntos ao Senai e ele se inscreveu no curso de mestre de obras. Para incentivá-lo, eu me inscrevi no curso de eletricidade predial. Nós nos formamos e ele ficou muito feliz, pois ajuntou toda a experiência e habilidade que ele tinha com o que ele aprendeu no curso”. E A BEBIDA? – “Somente agora, no final da vida, que ele não estava querendo trabalhar muito. Não sei o que aconteceu para que o Tarcísio enveredasse para o lado da cachaça... Ele e toda a turma que estava na lagoa bebiam demais. O Tarcísio estava trabalhando só para ter um dinheirinho para comprar coisas para a farra. Sei que todos que estavam na lagoa eram conhecidos, mas eu tinha amizade apenas com o Cláudio, o Tola (a outra vítima). Eu e meus irmãos conhecíamos muito bem aquelas lagoas do Dona Flor, porque era naquele brejo que nosso pai plantava arroz, quando éramos crianças. Então, o Tarcísio deve ter pensado que poderia entrar na água e salvar o amigo... mas, infelizmente, os 2 foram embora, juntos. Mesmo assim, damos graças a Deus, porque a tragédia poderia ter sido maior se os outros amigos também tivessem tentado salvar os dois”...

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