Seguindo a linha de mostrar jovens pará-minenses que estão estudando no exterior, através do programa do governo federal, Ciência Sem Fronteiras, a reportagem GP descobriu mais um. Trata-se de Frederico José Mendes Mendonça Soares, 23, estudante de Engenharia de Controle e Automação na U.F.M.G. que está morando em Jena/Alemanha. Ele concedeu, por e-mail, esta entrevista exclusiva para a GAZETA e você não pode deixar de ler. “Esse programa do governo brasileiro abrange diferentes níveis de conhecimento e contempla, desde alunos de graduação, como eu, até mestres e doutores que pretendem realizar alguma especialização no exterior. Criado em 2011, o programa lança, duas vezes por ano, editais para oportunidades de atividades no exterior em diversos países da Europa e América do Norte. Alguns dos requisitos básicos para ser aprovado é ter um certo nível de conhecimento no idioma do país de destino e, é claro, ser estudante universitário. Como eu estudava alemão há 2 anos, pude concorrer à vaga e, felizmente, fui contemplado com a oportunidade. Estou aqui, desde agosto do ano passado; então, já estou de volta ao Brasil”, sintetiza Fred, como é mais conhecido.
O DIA A DIA – “Jena é uma cidade relativamente pequena e fica em uma região central do país. Meu tempo total de permanência na universidade daqui foi de 1 ano. Nos 6 1ºs semestre apenas estudei e, atualmente (2º semestre) faço estágio em uma empresa de engenharia do ramo de óptica eletrônica. Meu dia a dia aqui é bem tranquilo. Moro dentro da própria universidade e a empresa onde trabalho fica bem próxima daqui. Trabalho em período integral, das 9H às 17H, e, no horário de almoço, geralmente vou ao restaurante universitário, chamado Mensa (como o bandejão do Brasil) onde a comida é bem barata. Jena possui outras duas universidades, além da qual eu estudo. À noite, sempre me encontro com outros brasileiros que também moram aqui e também com os amigos que fiz de todas as partes do mundo para sair, conversar e aproveitar a cidade”.
“Não troco um bom prato de arroz com feijão pelas melhores comidas alemãs”
DIFICULDADES – “Não vou dizer que foi fácil, mas a Alemanha é um país muito agradável e fácil de se adaptar, ainda mais quando estamos acostumados aos problemas de saúde, mobilidade urbana e segurança como no Brasil. Posso dizer que o maior desafio, a princípio, foi com o IDIOMA. Acredito que não é muito correto comparar idiomas e a dificuldade de aprendê-los, já que esse fator varia muito de pessoa para pessoa, mas posso afirmar que a dedicação para aprendê-lo se equipara ao de uma pessoa que não fala absolutamente nada de Português e começa a estudar a língua. Apesar de já ter conhecimentos da língua, antes da minha ida para a Alemanha, pude perceber o quanto minha capacidade de colocá-lo verdadeiramente em prática era restrita. Outra dificuldade foi a CULINÁRIA que é bem diferente da brasileira. As comidas típicas alemãs me agradam como o chucrute, a Bratwurst com pão, que é uma espécie de pão com linguiça, o Currywurst mit Pommes, uma porção de fritas com salsicha e molho curry e muitos outros pratos, mas não troco um bom prato de arroz com feijão por elas que são as melhores comidas alemãs”.
DIFERENÇAS ENTRE BRASIL E ALEMANHA – “A EDUCAÇÃO é, sem sombra de dúvidas, a maior diferença entre o Brasil e a Alemanha. O sistema de TRANSPORTE PÚBLICO daqui é considerado o melhor do mundo e funciona com base na honestidade das pessoas. Por exemplo, quando uma pessoa pega um ônibus ou trem não existe catraca ou cobrador; ela simplesmente compra seu ticket, porque sabe que tem o dever de fazê-lo. Claro que não é 100% eficaz, mas acredito que mais de 90% das pessoas utilizam os transportes dentro da lei. Problemas de SEGURANÇA PÚBLICA são raríssimos, assim como a DESIGUALDADE SOCIAL. Outros exemplos são as ESTRADAS que são muito boas; a RECICLAGEM DO LIXO, cada um seleciona o lixo em casa e, depois, descarta-o em containers específicos para cada tipo de dejeto; e a AUTOMAÇÃO em geral encontrada em todos os lugares. O CLIMA também é diferente quando comparado ao Brasil, pois as estações são bem definidas e o inverno é bem rigoroso. Vejo o Brasil como um país em progresso com um altíssimo potencial de crescimento econômico e social, mas que, infelizmente, é freado pela FRACA EDUCAÇÃO da sociedade como um todo. A falta de uma boa educação traz consigo a CORRUPÇÃO, a intolerância e diversos outros problemas tão recorrentes no Brasil. Já perguntei para muitas pessoas aqui como elas veem o Brasil e a 1ª resposta, claro, é SAMBA e FUTEBOL. Mas fiquei surpreso em saber o quanto o Brasil é conhecido no mundo, hoje em dia. Todos têm a mesma visão: um PAÍS MARAVILHOSO, com pessoas muito FELIZES E HOSPITALEIRAS, uma ECONOMIA EMERGENTE, mas que, ao mesmo tempo, sofre bastante com a VIOLÊNCIA e corrupção. Cabe a nós, brasileiros, tentar, aos poucos, mudar essa realidade. Em resumo, sinto falta do CLIMA BRASILEIRO e da maneira de ser das pessoas que são muito MAIS ABERTAS E ALEGRES, no dia a dia. Apesar da QUALIDADE DE VIDA aqui ser indiscutivelmente melhor que a do Brasil, não penso em morar, definitivamente, em outros países. Após essa oportunidade, espero poder contribuir e melhorar o Brasil um pouco e também mostrar para asoutras pessoas, mesmo que de uma forma bem modesta e pequena, tudo o que vi e aprendi aqui”.
VALE A PENA? – “Gostaria de encorajar aos estudantes e também aos que já são um pouco mais vividos a terem uma experiência internacional. Não saí do Brasil com o intuito de deixar pra trás os problemas que temos e ter uma vida mais tranquila, mas, sim, para conhecer novas culturas, novas tecnologias, novas maneiras de se fazer o óbvio. Com certeza, essa experiência mudou minha maneira de pensar, abriu minha mente para muitas outras coisas. Diria que meu crescimento pessoal nessa experiência foi maior que o crescimento profissional. Deixo esse incentivo aos estudantes que podem participar do mesmo programa que eu. Se a oportunidade aparecer, não tenham medo da distância, dos desafios ou do que vocês podem encontrar em um lugar completamente diferente do seu mundo. Agarre-a e descubra o quanto você pode se engrandecer com ela”.
SAUDADE DE CASA – “Com certeza, o que mais sinto falta é da minha família. Apesar de ter vivido muitas experiências novas e ter construído uma nova família, juntamente com outros intercambistas, a saudade de casa é grande”!