Maria Luzia da Conceição Melo de Aguiar, 83, nascida em Gaia do Ipiranga, distrito de São Gonçalo do Pará/MG, viúva de José Porfírio Aguiar, teve 8 irmãos (5 já falecidos) e 8 filhos (um já falecido). A reportagem GP conversou com ela. Confira.
“Minha família foi uma família pobre, mas de pessoas trabalhadoras. Comecei a trabalhar com 6 anos de idade, quando minha mãe colocava pastéis fritos na janela de onde a gente morava e eu ficava em cima de uma cadeira, do lado de dentro, vendendo para as pessoas que passavam. Minha mãe dizia para eu contar nos dedos o número de pastéis consumidos pelas pessoas, na hora delas pagarem. Eu a chamava para receber. Com 10 anos, vendia coisas na rua e aos 12, já trabalhei em um escritório. Moramos em vários lugares, porque meu pai era meio cigano, mudávamos muito. Fui criada trabalhando e, de certa forma, brincando. Em Pitangui/M.G., trabalhei em uma farmácia; em São José da Varginha/M.G., ministrava aulas. Com 15 anos, comecei a costurar, fui a 1ª camiseira em Pará de Minas”, orgulha-se Lula, como é mais conhecida.
1º NAMORADO – “Eu tive vontade de ser freira aos meus 15 anos e nunca pensei em namorar. Com 16 anos, ganhei um batom e no domingo, antes de ir à missa, passei na boca. Quando fui sair, meu pai, que era muito exigente e rigoroso, falou com muito carinho: - Não use isso minha filha. Quem usa isso é mulher à toa. Aí, eu voltei e retirei o batom. Não tive namorados. O único homem que namorei foi meu esposo. Nos vimos pela 1ª vez na missa, meu pai gostou dele e com 18 anos começamos a namorar, ele tinha 23. Nunca fui me encontrar com ele. Somente ele ia à minha casa me ver. Não que meus pais exigiam isso; eu mesma achava que deveria ser assim. Ouvi, certa vez, que o Zé não tinha intenção de se casar. Mudou de ideia porque eu era diferente, não permitia nenhum contato, nem mesmo pegar na mão”.
VIDA FAMILIAR – “Durante muitos anos, eu e meu marido tivemos desavenças. Tínhamos gênios completamente opostos. Mas, com a ajuda de Deus, e o compromisso até que a morte nos separe, conseguimos vencer os obstáculos e nos adaptar. Eu me casei aos 20 anos; com 32, já tinha 7 filhos (5 meninas e 2 meninos). Todos começaram a trabalhar com 12 anos. Hoje, a 1ª, Maria Elizabeth é engenheira química; o 2º, José Luiz, engenheiro elétrico; a 3ª, Maria Beatriz, economista; a 4ª, Maria Auxiliadora (Dorinha), jornalista e escritora; o 5º, José Eduardo, engenheiro elétrico (faleceu em um acidente – choque elétrico em uma cabine primária em Ouro Branco/MG); a 6ª, Maria Cristina, arquiteta; a 7ª, Maria Alice, arquiteta. O caçula e 8º veio 7 anos mais tarde, José Humberto, engenheiro mecânico. Meu marido foi um homem honesto, trabalhador e cumpriu seu dever. Era nervoso e sistemático mas foi um pai exemplar. Passamos por muitas dificuldades. Mas concordávamos em lutar para que todos os nossos filhos tivessem um curso superior (era nossa herança para eles, o estudo). E conseguimos! O Zé tinha uma pequena farmácia em São José da Varginha/M.G., quando nos casamos. Não deu certo. Mudamos para Pará de Minas, onde ele foi correspondente do I.A.P.C. - Instituto de Aposentadoria e Pensão dos Comerciários. Com a unificação dos I.A.P.Cs. em I.N.P.S. (hoje I.N.S.S.), ele perdeu o emprego e aí as dificuldades apareceram. Eu fazia camisas (masculinas) para ajudar. Mas meus filhos sempre conseguiam bolsas de estudo, são inteligentes. As meninas ainda tinham que fazer o curso de professora primária, o que lhes garantiria uma profissão, caso se casassem logo”.
Acho até que o mundo está próximo de uma reviravolta.
Deus vai reduzir a humanidade a 1/3”
TV E INTERNET – “Quando conseguimos comprar o nosso 1º aparelho de tv., passava novelas que podíamos assistir. Hoje, quando ligo a tv. vejo que as novelas são a maior perdição da humanidade. Tem coisas boas, mas acho a internet mais prejudicial do que útil, porque hoje está tudo liberado e não pode ser assim. Acho até que o mundo está próximo de uma reviravolta, Deus vai reduzir a humanidade. Irão morrer muitas pessoas, ficando 1/3 da humanidade... quando começará um Novo Mundo”.
E A JUVENTUDE? – “A juventude está digna de dó e está assim não por culpa dos jovens, mas por culpa das mães. O consumismo é muito grande e as mulheres, vaidosas, não aceitam suas 1ªs obrigações: cuidar da casa, do marido, dos filhos e da educação de cada um. A mãe de hoje não pode mais dar um tapa no filho. Menor de 16 anos não pode trabalhar e se cometer crime não pode ser preso. Se eu não tivesse a idade que tenho, já estaria presa, pois não cruzaria meus braços: iria criar um movimento para que os jovens de 14 anos trabalhassem”.
MOMENTOS FELIZES – “Foram 3: 1º) Quando meus primeiros filhos passaram no vestibular da U.F.M.G.; 2º) Nossas Bodas de Diamante (60 anos de casados). Detalhes: eu havia perdido o irmão caçula, de câncer, 2 meses antes. Não queria festa, mas nossos filhos fizeram questão de comemorar, da mais linda forma possível. Grande festa! Missa. Todos os filhos, genros, noras, irmãos, netos, sobrinhos e amigos. Foi numa 5ª feira. O Santíssimo Sacramento estava exposto e ganhamos a bênção, antes da missa. Minha grande surpresa: no altar, 4 sacerdotes nos esperando. Quanta bondade e dedicação. Padre Moacir, monsenhor Paulo, padre Everaldo e padre Marcelo. Eu, como sempre muito afoita, subi os degraus do altar quase correndo, deixando o Zé (que estava um pouco debilitado) para trás. O padre Moacir me olhou com olhos de repreensão, dizendo: Vá ajudá-lo! Que vergonha! Minha cara quase caiu no chão. Obedeci, imediatamente, de cabeça baixa. Foi uma linda cerimônia, nunca me esquecerei; 3º) Certo domingo, quando os filhos ainda eram pequenos, eu descia com eles a rua do hospital, indo para a casa da mamãe. Passou por nós um casal de namorados e eu ouvi o moço dizer: - Olha, parece uma galinha com seus pintos!. Fiquei muito feliz com a comparação. Existe coisa mais linda que uma galinha com seus pintinhos”?
FALTOU O QUÊ? – “Sou uma pessoa realizada e feliz em tudo. Duas coisas que eu não fiz na vida e eram meus desejos: estudar e aprender a tocar algum instrumento musical. Gosto de ver minha casa cheia, nos finais de semana, no Natal, no meu aniversário, no dia das mães; aquela farra que incomoda os vizinhos (cantoria, risadas, volume alto). A coisa mais importante no mundo é a família. Temos que lutar para a união familiar. Minha dica é ter fé, cumprir os mandamentos de Deus e ser uma pessoa honesta. Desculpe se eu falei demais, mas minha língua tem vida própria”.