A Corregedoria da Polícia Militar do Distrito Federal abriu sindicância para apurar denúncia de que um policial teria usado sua página pessoal nas redes sociais para ofender as modelos plus-size que tiraram fotos de lingerie em frente ao Congresso Nacional na semana passada. No post, ele chama as mulheres de "saco de toucinho", "leitoas" e "criaturas bizarras".A publicação do PM foi apagada pouco depois, mas centenas de usuários copiaram a imagem e divulgaram mensagens de repúdio ao policial. O G1 ligou para o 28º Batalhão, no Riacho Fundo, onde o policial é lotado, e foi informado de que o militar está de licença médica com uma doença muscular degenerativa. A reportagem deixou contato telefônico com o responsável e pediu que o PM entrasse em contato, mas não obteve retorno até a publicação desta matéria.
Fotografada em frente ao Congresso, a Miss Plus Size DF, Janaína Graciele, disse que vai entrar com uma ação na Justiça e na Corregedoria da PM para que o militar seja punido pelas ofensas que fez. “Achei um absurdo. A gente já esperava críticas, mas as ofensas dele não foram apenas críticas. As palavras que ele usou foram extremamente cruéis, foram palavras de baixo calão. Ofendeu mesmo, e não vamos deixar quieto”, disse.A advogada Vanusa Lopes não conhecia as modelos quando, indignada, compartilhou a publicação do policial. Ela disse que foi procurada pelas misses e que vai representá-las na Justiça. “Vamos ingressar com uma ação penal por crime de injúria e difamação e, certamente, pedido de indenização para as próprias modelos”, diz. “Qualquer mulher que se sinta gorda e que tenha se sentido ultrajada pelas agressões pode entrar na Justiça contra ele, porque ele já começa o texto dizendo que a pior obra de engenharia de Deus foi a mulher gorda."Também "plus-size", a empresária Rayanni da Costa, de 25 anos, conta que tem amigos em comum com o policial, e que, no passado, a irmã dele já quis apresentar os dois. “Cheguei a conhecer os pais dele e convivi bastante com a irmã dele. Inclusive, ela falava bastante dele e dizia que ele iria ficar maluco se me conhecesse, porque ele é louco por gordinhas. Ela dizia: ‘Ai, amiga, se ele te ver não vai te deixar em paz, ele gosta de gordinhas.”
Rayanni diz que também pretende entrar com uma ação na Justiça por danos morais contra o policial. “Me senti extremamente ofendida. É inaceitável. Não quero dinheiro, indenização, simplesmente quero que alguém pare ele, porque ele se acha no direito de falar o que quiser", afirma.“Não dá para acreditar que um ser humano seja capaz de falar isso, ainda mais sendo policial. Imagina se eu passar por algum tipo de transtorno, tiver a casa assaltada e chamar a polícia? Tenho a sensação que se for ele a atender a ocorrência, ele vai me deixar morrer.”
Casada e mãe de uma menina, a empresária diz que apoia o protesto das misses. “Com certeza me senti empoderada. Apoiei, achei justo. Sou gorda e não tenho nenhum complexo com isso. Não tenho aquele ideia de que o biotipo de mulher é ser magra, ser bonita. Me acho bonita como sou, tenho a autoestima bastante elevada.“
Impacto positivo
Apesar das críticas, a Miss Plus Size DF diz que a repercussão do ensaio foi muito mais positiva do que negativa. “Não esperava tanto. A reação das pessoas tem sido muito positiva. Recebo mensagens a todo momento de mulheres que não estudavam mais, não trabalhavam, não saíam de casa, e que de repente tiveram o incentivo de voltar à vida”, afirma. “Fico feliz que a gente conseguiu passar que tem que ser feliz, independente do IMC [Índice de Massa Corpórea] de cada um.”
O ato das misses foi realizado em protesto contra a gordofobia, depois que duas delas ouviram do recepcionista de um hotel da capital que não caberiam juntas em uma cama de casal.
FONTE: G1