Diariamente, a GAZETA recebe ligações e e-mails de atentos leitores que observam cenas, situações e até profissões diferenciadas na cidade. Desta vez, o que chamou a atenção de um deles foi o delicado trabalho desenvolvido por uma família pará-minense que coloca, manualmente, saquinhos plásticos em cada goiaba (ensacamento) que está nascendo no pé. Assim, a reportagem G.P. procurou o produtor rural de agricultura familiar, Vicente Geraldo Rabelo Moreira, que reside na comunidade de Floresta e abastece mercados frutíferos de Pará de Minas e região. Não deixe de ler sobre essa cuidadosa profissão desenvolvida por ele e sua família.
“Tudo começou em 1993, quando eu e minha esposa nos casamos e ela fazia goiabada com as frutas que encontrávamos no mato que, geralmente, dá só uma vez no ano. Fazíamos goiabada para os nossos conhecidos e familiares, mas outras pessoas começaram a querer também e a nossa produção de doces já não era suficiente”, explica Vicente.
OUSADIA – “Como nós precisávamos de mais goiabas para fazermos os doces, um amigo me indicou o Ceasa, pois lá sempre havia frutas maduras sobrando. Então, começamos a buscar lá e o doce ficou excelente. Mas, mesmo com o aumento das vendas, ainda sobrou muito doce, quando eu disse à minha esposa que iria tentar vender a goiabada em Pará de Minas. Ela ficou com medo e perguntou se eu tinha coragem de fazer isso e eu disse que falta de coragem não era problema. Na pior das hipóteses, eu voltaria com os doces para casa. Mas eu vendi todas as goiabadas e ainda voltei com mais um monte de encomendas”.
A FRUTA E O DOCE “Passado algum tempo, um amigo sugeriu que eu começasse a plantar goiabeiras, ao invés de buscá-las no mato ou no Ceasa. Mas eu não tinha experiência nenhuma no plantio. Então, ele me levou em Esmeraldas/M.G. para eu conhecer uma plantação. Chegando lá, um dos trabalhadores disse que era muito trabalhoso e não compensava... Fiquei meio ressabiado, mas depois percebi que ele falou que o negócio era ruim só para não ter concorrência. Quando conheci o dono do terreno, ele contou que plantava goiabeiras há 3 anos e afirmou que o plantio de goiabas é um dos melhores negócios que ele tinha! Ele plantava, vendia a fruta e também fazia e vendia goiabada, mas o que dava mais lucro era a venda in natura. E ele me deu uma dica: para vender a fruta e o doce, eu deveria plantar da mesma qualidade da dele, que é a Pedro Sato. Para se ter uma noção, ele começou vendendo a caixa de 2½KG a R$ 2,50 e naquela época que eu fui lá ele já vendia 1KG pelo mesmo preço. Ele já tinha 500 pés plantados, mas, devido ao rodízio realizado para ter goiaba o ano todo, ele tinha 82 pés com os frutas já no tamanho para o comércio. Segundo ele, na 1ª remessa, ele tirou R$ 17.000,00 de lucro. Fiquei muito entusiasmado”!
EXPERIÊNCIA RUIM
“Depois dessa visita, também fomos à uma plantação em Lagoa Santa/M.G. que produzia a goiaba Paluma que serve apenas para doce; não tem valor comercial. O proprietário montou uma fábrica para processar a goiaba e fazer doce, mas o depósito ficou entupido, o terreno todo plantado, as frutas todas caindo dos pés, porque o doce dele não teve aceitação. Fiquei sem entender aquilo... Aí descobri que o dono da terra não dava certo com nenhum funcionário, porque ele achava que estava produzindo da forma correta (mas não estava) o que gerou a falta de qualidade, ficando assim sem mercado. Naquele dia, quase desisti. Fiquei com medo de fazer um investimento como aquele para depois perder tudo... Então, o sonho de produzir goiaba iria terminar ali. Depois, tive certeza e decidi plantar a goiaba Pedro Sato, pois poderia continuar a fazer doces, além de vender a fruta in natura. Comecei com 150 pés e tive ótima aceitação no mercado. Hoje, tenho 330 pés, um hectare e meio só de goiabeiras. No ano passado, colhi 14 toneladas de goiabas, pois não fiz rodízio e colhi tudo, de uma vez. Mas neste ano estou trabalhando com o rodízio para ter goiaba o ano todo. Estamos produzindo pouco doce, mas temos um estoque para atender à demanda. Já a goiaba in natura tem uma excelente aceitação, tanto em Pará de Minas, onde minhas goiabas são vendidas em 3 locais, quanto em outras cidades, como Nova Serrana/M.G. e Belo Horizonte, onde recentemente comecei a vender também”.
VANTAGENS – “Eu não uso muitos agrotóxicos nas minhas goiabas, sempre opto pelos biológicos, ao invés dos químicos e uma das nossas vantagens é que também fazemos o ensacamento manual da fruta, quando ela ainda é pequena, do tamanho de uma azeitona. Este ensacamento é muito bom para quem for consumir a fruta, porque ele protege a fruta e evita que surja bicho, como é comum dizer. Depois que o colocamos, podemos aplicar os defensivos e eles terão contato apenas com a planta. Neste momento, estamos com 60.000 frutas ensacadas, esperando o ponto de colheita. Outro fator que ajuda as minhas vendas, principalmente em maior escala, é o tempo, pois uma goiaba colhida no sábado é vendida na Ceasa na 2ª feira e somente na 3ª feira que ela vai chegar ao ponto de venda. Já as goiabas que eu vendo direto são colhidas às 6H e às 9H já estou saindo de casa para levá-las para Pará de Minas. Com isso, consigo uma fruta de qualidade melhor e com menos desperdícios”. (Matéria sugerida por VANESSA FIÚZA, de B.H.).