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Um pará-minense na Terra de da Rainha - 02/02/2015

Ao tomar conhecimento de mais um universitário brasileiro no exterior, a reportagem G.P. entrou em contato com Bruno Mendes Parreiras de Faria, 20, filho dos pará-minenses Adriana e André, e estudante de engenharia civil na Universidade Federal de Minas Gerais. Bruno está residindo em Portsmouth/Inglaterra e, através do programa federal Ciência Sem Fronteiras, estudando na University of Portsmouth. Bruno concedeu esta entrevista exclusiva à reportagem G.P., contando detalhes de sua vida no país da rainha Elizabeth. Confira. “A oportunidade de ir para o exterior surgiu entre julho e agosto de 2013. Eu e mais 7 amigos já tínhamos ouvido falar a respeito do programa de intercâmbio do governo federal, o Ciência sem Fronteiras, e achamos que era uma oportunidade única e não queríamos desperdiçá-la. Passamos o ano de 2013 indo a palestras sobre o assunto com representantes de universidades de vários países para compreender melhor as exigências da instituições estrangeiras e os benefícios que eram ofertados. Como pré-requisitos para conseguir a bolsa, você tem que estar cursando uma instituição de ensino superior, ter uma boa pontuação no Enem e apresentar um comprovante de proficiência na língua do país de destino, como Ielts ou Toefl, no caso da língua inglesa. Diante disso, fiquei com 4 opções: Austrália, Canadá, Estados Unidos e Reino Unido. Decidi vir para a Inglaterra por causa da existência de boas universidades, ter pesquisas reconhecidas em todo mundo e afinidade com a cultura inglesa”, explica Bruno. “Ainda não me acostumei com a ideia de ir à praia usando roupa de frio e agasalhos” CURIOSIDADES – * “A cidade onde moro fica no litoral sul e, por isso, tem um clima mais ameno. Portsmouth está localizada numa região que parece uma península, apesar de ser uma ilha, e é a base da Marinha Real. Possui vários museus, navios do século XVIII e XIX e monumentos que recontam as histórias da 1ª e 2ª Guerra Mundial, por ter sido palco de vários confrontos por sua posição estratégica. * Também é comum encontrar edificações de um passado distante como um forte construído pelo rei Henrique VIII, por volta de 1500. * Arthur Conan Doyle, médico e escritor de Sherlock Holmes, e goleiro do time da cidade, também morou aqui por volta de 1880, sendo que alguns de seus livros foram escritos aqui. * Portsmouth possui em torno de 400.000 habitantes e é completamente plana o que faz com que a bicicleta seja um dos meios de transporte mais utilizados. Como moro no centro e a 20 minutos de caminhada da praia, praticamente não preciso de transporte público e vou a todos os lugares a pé. Inclusive, o campus está espalhado pelo Centro, o que me deixa a 5 minutos da maioria dos prédios da universidade. * A praia daqui não é tão bonita como as, do Brasil. Ela praticamente não tem onda e por ser toda de cascalho, é aconselhável usar algum tipo de sapato. Fora isso, ainda não me acostumei com a ideia de ir à praia usando roupa de frio e agasalhos. * A cidade tem um grande outlet que conta com a belíssima Spinnaker Tower, uma torre de 170M de altura. * Na universidade faço o mesmo curso que fazia no Brasil, engenharia civil (civil engineering) e o término do curso é em agosto deste ano”. “O que mais me chamou a atenção e, às vezes, chega a ser bem inconveniente, é a preocupação que eles têm com a segurança” ADAPTOU-SE BEM? – “A adaptação aqui não foi tão difícil quanto eu imaginava, porém houve algumas dificuldades. A 1ª delas foi com o inglês que tem um forte acento britânico. Também é muito comum encontrar descendentes de indianos e islamitas por aqui, o que só complica na hora de conversar. Além disso, é muito comum levar alguns sustos ao atravessar a rua, principalmente cruzamentos, por causa da mão inglesa. É difícil acostumar com os carros andando pelo lado esquerdo. Em lugares mais turísticos, há até setas no chão que indicam para qual lado você deve olhar. Em relação à comida, a Índia tem muita influência nos temperos daqui, sendo os pratos feitos à base de curry e molhos muito apimentados que bastante apreciados por aqui. Isso limita um pouco a variedade do seu cardápio, principalmente se você não tem simpatia por esses temperos. Já as bebidas são uma história à parte. Como a cerveja é extremamente apreciada, possui uma grande variedade de marcas, tipos e sabores, sendo as do tipo Ale as mais comuns. Nos bares ou pubs, como são chamados aqui, as cervejas são servidas em copos de aproximadamente ½ litro, chamados de pint. Um fato curioso é que em bares e restaurantes a água é gratuita, quando você é servido diretamente da torneira, do mesmo jeito que eles fazem em casa. Moro em um dos vários prédios de acomodação da universidade. Nada de luxuoso, porém muito aconchegante. São flats de 4 a 7 pessoas e uma cozinha comunitária O que mais me chamou a atenção e, às vezes, chega a ser bem inconveniente, é a preocupação que eles têm com a segurança. Todas as janelas possuem restritores, o que impede que abram mais de um palmo. Todos os ambientes possuem alarmes e sensores de incêndio e é comum alguém disparar o alarme por querer durante a madrugada, forçando a evacuação de todo o prédio. Moro com 2 ingleses muito simpáticos que, aparentemente, gostam de saber sobre a cultura do Brasil, e um chinês que raramente sai do quarto” (riso). “Apesar de nossa pior infraestrutura, não achei a qualidade do nosso ensino universitário tão inferior assim à daqui” E O CURSO EM SI? – “Aqui, o curso de bacharelado ou graduação tem duração de apenas 3 anos, enquanto no Brasil são 5. Porém esses 2 anos de diferença é compensado aqui na Inglaterra com o College, uma espécie de ensino técnico, também de 2 anos, em que os alunos se aprofundam em disciplinas básicas para a área que pretendem seguir na universidade, o que equivale ao ciclo básico de disciplinas que, no caso das engenharias, estudamos no ICEx da U.F.M.G.. Existe também o curso de 4 anos, que você já se forma com o mestrado. Umas das diferenças mais marcantes, além da notável melhor infraestrutura, é a pouca quantidade de horas/aula. Aqui, o professor parece ser instruído a direcionar o estudo do aluno e a avaliá-lo, diferentemente de percorrer o livro todo com o aluno, durante várias aulas semanais, tratando de todas as definições e implicações como é feito no Brasil. Outra diferença que chama a atenção é a forma de avaliação. No Brasil, o mínimo para ser aprovado em uma disciplina é 60% sendo que o conceito A é só acima de 90%. Aqui, na Inglaterra, a nota para a aprovação é 40% e o conceito A é a partir de 80%. Pode parecer que é muito mais fácil, mas ainda não ouvi falar de alguém que tenha ficado com mais de 80% e as avaliações são muito mais centradas em relatórios, trabalhos de pesquisa e desempenho em atividades em sala, além das provas. O suporte para o estudo extraclasse é muito maior. São ofertados tutoriais com os professores, já que existem espaços disponibilizados pela universidade para estudantes se encontrarem e tirarem suas dúvidas, como uma espécie de monitoria. Apesar de nossa pior infraestrutura, não achei a qualidade do nosso ensino universitário tão inferior assim à daqui. Com mais horas extraclasse disponíveis, a universidade incentiva a prática de esportes com instalações de excelente qualidade, o que faz com que as agremiações tenham um lugar de destaque no dia a dia do estudante. É muito legal ver força que o grêmio estudantil tem por aqui com várias sociedades de temas variados, do paraquedismo a todos os outros esportes; até circo e comunidade Hindu têm. Todas elas são administradas por estudantes voluntários e filiadas a uma entidade maior, chamada Union que é responsável por criar programas de apoio ao estudante, seja psicológico, cultural, educacional ou social. A Union também organiza vários festivais, festas e feiras que criam um ótimo clima universitário”. “Basicamente, a ideia deles é de um país que só tem carnaval, futebol, praias e mulheres bonitas. É como se todo o Brasil fosse um imenso Rio de Janeiro, em época de carnaval” E O BRASIL? – “Vejo o Brasil com um enorme potencial. Nosso país tem um clima muito agradável e com uma natureza e recursos naturais que, muitas vezes, nos passam despercebidos, mas que fazem diferença na nossa qualidade de vida. Possuímos uma cultura, tradições e costumes muito singulares e muito ricos que cria um ambiente de convivência muito agradável entre as pessoas. Vejo muita força de vontade em muitos brasileiros que conseguem fazer muito com o pouco que têm, ao contrário de muitos que vi por aqui, que pouco fazem com o apoio e as boas condições que têm. Porém, a sociedade brasileira, no geral, tem um olhar muito individualista e oportunista. Se esquecem de que seus atos têm consequências e que viver em sociedade é também pensar nas pessoas que dividem o mesmo espaço que você. Além disso, não é difícil imaginar que o Brasil seria uma potência, caso fosse administrado por bons governantes e com políticas públicas que funcionassem. Contudo, creio que não há um lugar perfeito (no mundo), sem problemas e mazelas. Acredito que a satisfação vem muito mais das pessoas que nos cercam e com quem convivemos do que do lugar em que estamos. Os estrangeiros não enxergam muito além do que a mídia internacional faz questão de passar. Basicamente, a ideia deles é de um país que só tem carnaval, futebol, praias e mulheres bonitas. É como se todo o Brasil fosse um imenso Rio de Janeiro, em época de carnaval. Muitos dizem que é difícil associar ao país uma imagem de pessoas apresadas e estressadas com o trabalho, andando de um lado para o outro. Em questões sociais, eles conhecem a existência das favelas e dos problemas urbanos mais comuns, mas é uma realidade muito distante da, deles. Em questão de política, a expressividade e reconhecimento da política brasileira no cenário internacional é praticamente nula. Para se ter uma ideia, muitos nem sabiam que estávamos ano de eleição (2014). O mesmo acontece com os protestos; muitos não viram e os que viram não sabiam a causa das reivindicações. Felizmente, acredito que o programa Ciências Sem Fronteiras e outros programas de intercâmbio para estudantes brasileiros estão contribuindo para mudar essa visão. Além de termos a oportunidade de expor o que há de bom em nossa cultura e costumes, muitos professores e colegas ficam surpresos com a carga de conhecimento e com a independência dos estudantes brasileiros. No mais, sinto falta da minha família, dos amigos e, com certeza, da bela comida mineira e de um generoso churrasco. A carne aqui é muito cara e não é comum encontrarmos açougues. Geralmente, são vendidas em bandejas já limpas, cortadas e embaladas. Sendo assim, o churrasco aqui é basicamente hambúrguer e salsicha na grelha e, ainda assim, quando se tem a sorte do clima permitir” (riso).

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