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Nº 2046
14/11/2024


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Por que não queimam mais o Judas? 2 - 16/04/2010

Na edição GP de nº 1291, esta GAZETA publicou um texto do artista plástico Edward Moreira sobre a extinta Queima do Judas na cidade. Tão logo aquela edição circulou alguns leitores se identificaram com o sentimento saudosista do artista. O aposentado Dumas Coutinho, com sua imaginação mexida com aquelas lembranças, escreveu um texto exclusivamente para a GAZETA sobre o que ele recorda do tema. Ele disse também que, além da tradicional Queima do Judas na praça da Independência, havia antes uma outra queima na rua Porciúncula, no bairro São Francisco. Confira o texto de sua autoria. ISCARIOTES - “Foi numa dessas indecisas noitinhas de principio de abril, momento em que o calor da tarde se mistura ao frio discretamente camuflado e assim se mantém noite a dentro. E entre joãozinhos, zezinhos, marquinhos e marcinhos, no exame da ação inédita dominava a expectativa e a ansiedade. Falavam, gesticulavam, decidiam, caminhavam e, de casa em casa, engrossavam fileiras. Outras colunas se organizavam. Eram mários, helis e joaquins, valorosa formação, destemida vanguarda, armada de candentes e incendiarias ideias. À retaguarda, as meninas receosas acompanhavam os pais e os indiferentes irmãozinhos não pressentiam os acontecimentos ostensivamente em marcha. Um vazio ocupava o ar e precedia a valorosa caminhada. A cada esquina avolumavam-se os componentes do assalto eminente. Eram centenas. Divisaram a praça e em forma de círculo aguardavam o ataque final. Olhos brilhantes. Semblantes tensos. Danado! Traidor! Cruel traidor! Será vingado! Com ferro fere, com ferro será ferido! Ninguém se atrevia a dizer o nome horrendo: Judas! Em poucos minutos a cidadela estava retalhada, fumegante. Ainda pipocavam em tépidos clarões as bombardas continuadas. Os mais audaciosos requeriam para si o troféu da vingança. Um queria o sapato, outro o chapéu roto, outro o bigode sapecado que escondia o lábio da entrega, outro a bolsa que guardava a moeda, fruto e cruel testemunha da histórica traição. Por fim, deu-se a última disputa pela relíquia das vestes do traidor, não pelo jogo de palitos ou pelo jogo de dados, mas pela rapina e pela astúcia. Como uma centúria vitoriosa de volta ao quartel, os grupinhos de joãozinhos, zezinhos e marquinhos retornavam

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