BIÉ BARBOSA, jornalista e publicitário (UFMG), nascido em Pará de Minas em 22/11/53, é casado com Maíza Lage com quem tem 4 filhos. SEU LEMA: “O SENHOR É MEU PASTOR, NADA ME FALTARÁ”! |
VEJA NA EDIÇÃO1801: NAS BANCAS DE 31/01 A 06/02.
Veja também a crônica deste mesmo colunista da edição 1795 abaixo:
OS SENTIMENTOS DIFERENTES QUE AFLORAM A CADA MORTE
Naquele velório com muita gente e longas conversas, como acontece em todas as despedidas das pessoas que alcançam a terceira idade, havia de tudo um pouco, menos lágrimas. Entre os assuntos, destacou-se a ameaça de terceira guerra mundial entre o Irã e o Estados Unidos, com muitos falando coisas erradas sobre o tema. Um pouco mais adiante, um homem de meia idade observou que havia ali, sentada em um banco do oval jardim, uma mulher também de meia idade isolada dos grupos que se formaram. Ela mantinha uma expressão nem triste, nem alegre, com olhar fixo na paisagem da cidade morro abaixo. O homem aproximou-se, lentamente, daquela mulher e falou:
- Boa tarde! Posso dividir este banco com você?
Ela respondeu que sim e arredou-se um pouco do centro do banco, dando lugar para ele. Ele agradeceu e sentou-se. Depois, comentou:
- Que bom que você não está fazendo parte dos grupos tão tagarelas, em local tão impróprio.
Ela deu de ombros:
- É sempre assim. Todo mundo diz que sente muito, mas só os familiares mais próximos sentem de verdade.
A resposta incomodou aquele senhor, que perguntou, quase que imediatamente:
- Me desculpe se estou sendo indiscreto, mas, por acaso, você é parente próxima do falecido?
- Ele é meu irmão e, como era solteiro, não há parente mais próximo dele do que eu.
O homem ia dizer Sinto muito, automaticamente, quando lembrou-se do que ele havia acabado de dizer sobre os falsos sentimentos da grande maioria e mudou a fala, perguntando:
- Você está muito sentida?
- Para falar a verdade, confesso que não estou. Nem senti muita coisa, ao receber a notícia... Durante a longa doença dele, eu vim me preparando, já há algum tempo, para esta despedida.
- É... as mortes com aviso prévio são muito menos doloridas do que aquelas repentinas, quando a gente realmente perde o chão.
A irmã do desencarnado continuou falando, como se não tivesse ouvido aquilo:
- Ele foi morrendo um pouco, a cada dia, dentro de mim. Fiquei triste, mas não fiquei infeliz, porque a tristeza vem das coisas externas à gente. Felicidade não! É algo pessoal, que brota no nosso interior e não depende de terceiros.
O homem ficou admirado:
- Nunca havia pensado nisso!
- Estou aqui conseguindo manter uma tristeza muda... Mas vou lhe confessar uma coisa: até agora, há pouco, estava sentindo uma certa culpa pelo alívio que senti, quando me ligaram. Não vou negar que falei pra mim mesmo: Até que enfim! Parou de sofrer. Não haverá mais dores, injeções, oxigênio e nem aquela dependência de cuidadores...
E você, acha também acha que algumas notícias de morte são compreendidas mais facilmente do que outras? Uma boa leitura!