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O CRIME DA MALA E O DESARMAMENTO - 21/06/2012

Desde o longínquo 1928, quando o imigrante italiano José Pistone matou, esquartejou e despachou dentro de uma mala o corpo da mulher, Maria Féa, a expressão crime da mala faz parte do jargão policial. A crônica registra outros acontecimentos do gênero em 1966, 1976, 2003, 2010 e agora, com a morte do empresário Marcos Kitano Mitsunaga. A diferença básica é que, nos casos anteriores, a mulher foi a vítima. Mas o que chama a atenção no caso atual é o encontro de 30 armas, no apartamento do casal. Eram fuzis e submetralhadoras – e munição suficiente para 10 mil tiros, material de posse legalizada, segundo a polícia. Depois de toda a campanha de desarmamento e da ação das polícias que prendem e processam todo cidadão encontrado na posse de armas, mesmo em sítios, fazendas e outros locais distantes da área urbana, é difícil acreditar que alguém poderia possuir legalmente um verdadeiro arsenal dentro de sua própria moradia, numa das áreas mais caras da maior cidade do país. O achado leva à uma série de indagações: - Quantos arsenais desse padrão devem existir nas mãos de outros endinheirados? Esses portadores tinham razões objetivas para possuir tais armas? Quanto custa para manter uma arma legalizada? O foco da política de desarmamento é desarmar a população ou arrecadar impostos e taxas? Filosoficamente, a campanha de desarmamento está correta. A arma pode servir para matar o próprio dono como ocorreu com o empresário. Mas na prática, há muito o que se reparar. Desarmar a população sem fazer o mesmo com os criminosos é o ponto mais discutível, pois significa subjugar o cidadão de bem ao seu agressor e dar a esse a certeza de que a vítima não terá como reagir à altura. A sociedade, com isso, fica fragilizada e, a partir daí surgem os cômodos conselhos partidos das próprias autoridades que têm o dever de proteger o cidadão para as vítimas não reagirem, instalarem câmeras, grades e outros meios de proteção contra os bandidos. O desarmamento não é tão simples como seus cegos defensores afirmam. O ideal seria que ninguém – mas ninguém mesmo – usasse armas. Dessa forma estaria mantido o equilíbrio e tudo o que pudesse ocorrer seria no limite da força física de cada um. Mas a prática brasileira demonstra o total desequilíbrio com o povo de mãos vazias e o bandido armado até os dentes. Agora, revela-se que, além dos bandidos e sua facções, os abastados também podem ter seus arsenais. Esses ricos portadores de armamento e seus vizinhos não imaginam o risco que correm se os bandidos que invadem até quartéis para roubar, descobrirem que eles possuem armas em casa. Algo de urgente tem de ser feito para contornar a situação. Ninguém ou todos devem poder ter armas. E o Estado tem o dever de fazer cumprir o que for determinado. O que não pode é continuar subjugando o povo aos bandidos e aos ricos donos de arsenais que, também, podem acabar caindo nas mãos da criminalidade. (DIRCEU GONÇALVES – São Paulo/SP.).

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