Se tem uma pessoa que pode falar sobre o tema Armário, com muita tranquilidade, essa pessoa sou eu. Eu também estive no armário, por breves períodos. E como era angustiante mostrar para as pessoas algo que eu nunca fui. Na escola, já fui motivo de chacota, o tal bullying de hoje. Os colegas sempre me perguntavam, afirmando:
- Você é gay, né? Você gosta de homem, né? Isso não é certo! Vira homem!
Depois, resolvi ser o que sempre fui e, rapidamente, tratei de enfrentar a tudo e a todos e pagar o preço que não saiu barato. Mas comecei a viver fora do armário, até porque, com esse meu jeito efeminado, era impossível enganar alguém, apesar de eu ter tentado, também, negar a minha própria sexualidade. Agora, vejo esse assunto tornar-se muito atual na novela global Amor à Vida que trouxe o tema à tona, através do personagem Félix, um gay não assumido, ou seja, de armário, que se casou com uma mulher para levar uma vida de fachada. Através dessa novela, estou conseguindo entender porque algumas pessoas vivem no armário durante décadas. Afinal, a sociedade era bem outra e as pessoas não tinham nenhum apoio externo e o preconceito era bem maior, inclusive com agressões físicas. Entretanto, não consigo entender o motivo que leva uma pessoa nova como eu a viver no armário nos dias de hoje, quando sair do armário ajuda nessa luta contra o preconceito. Ficar no armário é não colaborar com nada, é deixar a luta nas mãos dos outros. Se você não quer levantar bandeiras, participar das passeatas GLS, etc., tudo bem, mas é essencial ser verdadeiro com você mesmo e com as pessoas que fazem parte da sua vida. Você pode até não mudar uma sociedade, mas pode mudar a cabeça de algumas pessoas. Não assumir a sexualidade é como disse a jornalista Bárbara Garcia: “A pessoa tem todo o direito de ficar no armário, ela não é obrigada a abraçar nenhuma causa, mas ficando no armário, ela só está exercendo mesmo o direito de ser infeliz sendo quem não é”. Essa frase resume tudo que acho e vivi a respeito. E sonho com o dia em que todos possam sair de seus armários com menos dificuldades. (Parcialmente transcrito do blog CONFISSÕES ÁCIDAS por Rodrigo Tomazzi).