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Jovens sem estudo em Minas têm no lixo o ganha-pão - 16/09/2013

Sem proteção nas mãos, com uma roupa rasgada e calçando um par de botas furadas, Lúcio Martins Canuto vasculha o lixão de Conselheiro Lafaiete, na região Central do Estado. Após ficar meses desempregado, o jovem de 29 anos, baixa escolaridade e cuja família nunca participou de programas assistenciais preenche as principais características dos catadores que trabalham em depósitos de dejetos a céu aberto em Minas Gerais. Como ele, mais de 20% dos mineiros que tiram o sustento do que é jogado fora são jovens de 18 a 29 anos e 57% não terminaram o ensino fundamental. Em 61% dos casos, o desemprego motivou o trabalho nessas áreas degradadas e infestadas por milhões de mosquitos, centenas de urubus e restos de resíduos domésticos. Retrato Os dados estão em uma pesquisa por amostragem que identifica as características de crianças, jovens, adultos e idosos que trabalham informalmente em lixões espalhados pelo território mineiro. O perfil foi traçado pela Fundação João Pinheiro, após estudo encomendado pela Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social (Sedese). O levantamento foi feito em 114 municípios. Em 72 havia catadores, e 557 foram entrevistados. A maioria (82%) atua no lixão em dois turnos diários, por até um salário mínimo por mês, em média. Situação em que novamente se encaixa Lúcio Martins Canuto. “Minha mãe morreu quando eu tinha 9 anos e estudei só até a 4ª serie. Fui morar com uns tios e trabalhei, desde novo, como ajudante de servente de pedreiro”, diz. Segundo ele, arrumar um “emprego fichado” está cada vez mais difícil, o que faz do lixão uma necessidade, não uma opção. “Quando o serviço rende muito, o que é difícil, dá para tirar no máximo uns R$ 30 por dia”. Quem também precisou recorrer às pilhas de lixo após ficar desempregado foi Sérgio Antônio do Amarantes, de 40 anos. Trabalhando no distrito de Carreiras, em Ouro Branco, ele diz que era funcionário “de carteira assinada” em um centro de triagem e reciclagem. Mas, após ser demitido, ficou meses atrás de um serviço formal. Com a falta de oportunidade, optou pelo depósito de resíduos. Hoje, Sérgio acorda antes das 6h e, às 7h, já está no meio dos entulhos, alheio aos urubus à procura de restos de animais em decomposição. Risco à saúde é iminente nos depósitos a céu aberto Apesar da insalubridade do ambiente, a pesquisa mostra que doenças entre catadores foram constatadas em apenas 69,6% dos lixões. Porém, o vice-presidente da Sociedade Mineira de Infectologia, Carlos Ernesto Starling, reforça que trabalhar nesses terrenos é um risco. “Leptospirose, hepatite, tétano e infecções gastrointestinais são apenas algumas das doenças a que essas pessoas estão expostas. Mesmo quem usa equipamentos de segurança, como luvas e máscaras, está sujeito a se infectar”. A subsecretária de Estado de Direitos Humanos, Carmem Rocha, destaca como ponto positivo a baixa presença de crianças trabalhando com os pais – os menores são 0,2% dos catadores entrevistados. Carmem, no entanto, reconhece como uma das principais preocupações o elevado número de famílias excluídas de ações assistenciais. “Há programas nas cidades analisadas, como os centros de Referência de Assistência Social (Cras). Precisamos saber por que as famílias não participam. É falta de informação? É o fato de trabalharem o dia inteiro no lixão e não terem tempo para procurar ajuda”? Segundo ela, até outubro haverá reuniões nos municípios para traçar abordagens e atrair famílias para projetos assistenciais.

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