Mercês Maria de Jesus, 98, tecelã aposentada, nascida em Passa Tempo/MG, filha de Gabriel José Vicente e Serafina Maria de Jesus, não se casou, nem teve filhos, mas dedicou-se à criação de duas sobrinhas, Geralda e Evanir. Mercês contou para a reportagem GP um pouco da sua história de vida. Não deixe de conferir.
“Nós sempre moramos na roça, onde minha mãe cuidava muito bem de todos nós e meu pai trabalhava com engenho. Quando era época de moer cana, meus irmãos iam ajudar e não iam à escola. Minha mãe não me deixava faltar às aulas e eu também gostava muito de ir. A professora me elogiava muito, porque todos os trabalhos e exercícios que ela dava pra nós fazermos eu sempre fazia tudo certinho e ela me achava muito inteligente. Alguns meninos tinham até inveja”, ri Mercês.
FAMÍLIA – “Uma das coisas que mais gosto é da minha família. Quando eles se reúnem aqui em casa é a hora em que eu sou toda felicidade! A gente junta todo mundo e faz um almoço. Quando isso acontece parece até que fico renovada”.
FILHAS ADOTIVAS - “Mudarmos de Passa Tempo/MG para Belo Horizonte, onde eu trabalhei como tecelã. Ficamos por lá durante uns 15 anos. Quando meu pai morreu, nós decidimos vir morar em Pará de Minas. Como eu já havia trabalhado de tecelã em Belo Horizonte, consegui um serviço na fábrica de tecidos daqui. Nunca tive filhos, mas criei duas sobrinhas, a Geralda, que criei desde que nasceu, e a Evanir. Depois que a mãe dela ficou doente, ela tinha ido morar com a avó, em Pitangui/MG. Depois de um tempo, fui lá e pedi a ela para eu cuidar da menina e ela deixou”.
MUNDO DE HOJE – “O mundo de hoje é muito diferente; existe muita violência e outras coisas ruins, mas também existem muitas coisas novas, não sei bem explicar o que tem de novo, mas eu tenho certeza que tem. Ainda assim, prefiro o mundo de hoje, porque antigamente a gente morava na roça e não tinha as mesmas comodidades de hoje. Mas os jovens de hoje não respeitam mais os pais; se os pais falam alguma coisa eles dizem logo que vão sair de casa”...
RENOVAÇÃO – “Sou muito católica, mas ultimamente não tenho ido mais às missas, porque estou velha e sinto muita dor nas pernas... não dou conta mais de sair de casa. Quando eu era mais nova fui uma das fundadoras da Renovação Carismática Católica em Pará de Minas. Tudo começou durante um bate papo entre as pessoas até chegar ao ponto de muitas pessoas freqüentarem, como hoje, a Renovação”.
GALO E POLÍTICOS – “Uma das minhas paixões é o Atlético. Fiquei muito feliz quando fiquei sabendo que o Galo foi campeão da Libertadores.Naquele dia, fiquei na janela vendo o povo na rua, fazendo carreata e muito batuque. Eu não consigo ver o jogo, sou muito nervosa para ficar assistindo. Gosto mesmo é de só ver o resultado e comemorar quando o Galo ganha. Outra paixão minha é a política, porque, na época das eleições, parece que a cidade fica mais movimentada, a gente faz mais amizades, porque os políticos, em época de eleição, conhecem todo mundo (riso). Certa vez, quando eu ainda morava em Belo Horizonte, aconteceu de, todos os dias da semana, eu ir e voltar do serviço com as caronas que os políticos me davam (para ganhar voto)”.
O TER E O SER – “Acho que cheguei a essa idade, por causa do meu desprendimento. Abneguei de tudo para criar as minhas sobrinhas, sem a preocupação de ter as coisas, mas de ser uma boa pessoa”...