O escolhido para ser entrevistado nesta edição de Natal foi José Simão, 90, que recebeu a reportagem GP em sua residência, no bairro Nossa Senhora das Graças. Acompanhe.
“Com 11 anos, comecei a trabalhar, pelo fato do meu pai ser um homem muito rígido. Ele não pedia, ordenava. Onde hoje é a Casa da cultura, na época era um colégio; a minha professora falou com meu pai para que ele me colocasse para estudar nesse colégio que era particular, por causa das minhas boas notas. Aí, o meu pai falou com o Chiquinho Valadares, que era o prefeito, para que ele conseguisse me inserir nesse colégio. Depois, ele chegou perto de mim e disse:
- Meu filho, um homem com um diploma debaixo do braço passa fome, mas com uma profissão nunca passará. Você tem a liberdade de escolher a profissão que quiser.
Aí, eu optei por trabalhar junto com ele, em sua oficina de sapatos. Comecei já cedo, querendo sempre mais. Sempre fui ambicioso e com 14 anos já ganhava o suficiente para me manter. Depois, ele comprou um carro e me colocou para aprender a profissão de mecânico. Eu detestava trabalhar nessa área, mas trabalhava. Quando eu fiz 15 anos, comprei uma bicicleta e pintei ela todinha. Meu pai gostou e pediu para que eu fizesse o mesmo, só que em um carro que ele havia adquirido. Ele me disse:
- Se a pintura ficar bonita, eu venderei esse carro pelo dobro do preço que eu gastei ara comprar ete darei uma parte.
Aí, eu comprei as tintas e pintei o carro. Um amigo meu ficou sabendo do valor que eu ganharia e mostrou interesse em vender uma motocicleta para mim. Na época foi um espanto... com 15 anos, já adquirir uma moto de grande porte. Seria uma realização! Mas quando eu fui receber do meu pai a parte que ele havia me prometido, ele me disse o seguinte:
- Não vou te dar um centavo! Fiquei sabendo que, com o dinheiro, você comprará uma moto e moto é tampa de caixão. Você está muito jovem para eu ter que carregar você, dentro de um caixão!
Esse foi um dos episódios mais marcantes da minha vida”, relembra Simão.
O AMOR - * “Aos 18 anos, fui convocado para a guerra e me mudei para Belo Horizonte. Lá, havia o sargento do Exército que mais parecia um cachorro de desenho animado (risos). Quando ele pediu para assinar a relação, parecia uma sentença de morte!; * Fui procurar emprego na prefeitura, pois já não dava mais para ficar sobre os braços do meu pai. O, então prefeito, José de Melo, abriu um mapa e apontou para onde eu iria trabalhar: Poços de Caldas/MG. No outro dia, peguei o expresso para lá, mas eu não sabia fazer nada de escritório. Minha vida foi tomando outro rumo. Naquela cidade tinha uns 11 cassinos. Era chamada de Las Vegas Brasileira. Lá, arrumei uma namorada italiana, mesmo tendo uma namorada em Pará de Minas, a Dulce. Um dia, eu estava almoçando e minha irmã mais velha me ligou falando que minha mãe estava por morrer. Minha mãe, então, me perguntou a respeito da Dulce, moça com que eu estava me casando; perguntou se eu gostava dela e eu falei gostava. E você vai se casar com ela? Se ela quiser, eu quero, respondi. Ela, então, me pediu para não iludir ela. Me casei no espaço de 1 ano e 2 meses de namoro; * Toda vida gostei de andar bem arrumadinho, mas teve um dia que meu pai estava no portão e disse: - Meu filho, volta lá e se veste direito. Eu não disse nada. Entrei em casa, troquei de roupa, vesti terno, gravata, tudo bonitinho e perguntei: - Assim está bom? Ele respondeu: - Meu filho, ironia não vale. Na natureza, a fêmea procura proteção junto ao macho. Mas a sua namorada, pelo jeito, vai ter é espantalho, quando você chegar lá. Depois de um tempo namorando, pedi a ela em casamento e ele brigou comigo. Eu não entendi direito, mas também não discuti. Fiquei casado por 60 anos. Tem fases nas nossas vidas que realmente são ruins e eu nem gosto de lembrar... o momento mais feliz da minha vida foi quando eu me casei com a Dulce. E o momento mais triste foi a morte dela”...
RECEITA DE VIDA - “Todos nós somos iguais. Não existe um melhor que o outro. Portanto, tudo para mim deu certo nessa vida! Tento levar uma vida mais regrada, não bebo, não fumo e nem jogo, mas isso não quer dizer que eu não vá morrer (riso). Lógico que um dia vou morrer sim, mas devemos dar mais importância ao nosso corpo, porque um dia vamos devolver ele para Deus e quanto menos estragos tiver, melhor”.
MUNDO ATUAL - “O mundo está bem deplorado. Melhor por um lado, mas as pessoas vivem muito o supérfluo, mas o que eu vejo demais hoje é o comodismo das pessoas, que não têm pulso forte para ir à luta. Jovens que ficam dependentes do financeiro dos pais, ao invés de lutar pelo seu. No mundo de hoje, tem duas figuras que eu considero mentirosas: os políticos e os advogados”.